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Lojas virtuais crescem 230% durante a pandemia

Fonte: Folha de Londrina 

Entre a segunda quinzena de março e a primeira semana de junho, o comércio varejista brasileiro acumulou perda de R$ 200,71 bilhões em razão das medidas de isolamento e distanciamento social impostas para conter o avanço da Covid-19, segundo cálculos da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). Em contrapartida, o número de vendas pelo e-commerce registrou alta de R$ 90 milhões no período. As vendas on-line, que vinham crescendo ano a ano, mas antes da crise sanitária detinham apenas 5% das vendas totais do varejo, saltaram para 14%. Em poucos meses, o país atingiu a alta esperada para cinco anos.

Desde o início da pandemia até julho, 135 mil lojistas brasileiros aderiram às vendas pelo comércio eletrônico como forma de amenizar os prejuízos e de se manter no mercado, segundo levantamento da Abcomm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico). A média mensal de abertura de novas lojas virtuais subiu 230%, passando de dez mil para 33 mil. O índice MCC-ENET, desenvolvido pelo Comitê de Métricas da câmara-e.net (Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico), apontou que em maio, as vendas mais que dobraram, na comparação entre 2020 e 2019. O mês registrou o pico das vendas on-line até o momento, com crescimento de 137,35%. No mesmo período, o faturamento do setor cresceu quase na mesma proporção, chegando a 127,77%.

A necessidade de ampliar os canais de venda atingiu grandes e pequenos empresários, dos mais variados setores, e muitos dos que correram para colocar a sua loja virtual no ar viram os percentuais do e-commerce se converterem em cifras. Um estudo do Movimento Compre & Confie apontou que a Região Metropolitana de Londrina registrou faturamento de R$ 63,9 milhões com as vendas on-line em julho de 2020. Na comparação com igual mês do ano passado, a expansão foi de 126,5%, quando faturou R$ 28,2 milhões. O total de pedidos também surpreendeu, com alta de 144,1% de um ano para outro, somando 173,9 mil. 

Proprietário de uma frutaria e mercearia na zona oeste de Londrina desde 2017, Diego Bersi Moreno já fazia entregas em domicílio e vendas virtuais pelas redes sociais desde o ano passado, mas com a pandemia, percebeu que deveria potencializar esse canal de venda. Ele aumentou o investimento em divulgação e fortaleceu o sistema de delivery. A adaptação para a nova realidade impôs alguns desafios. Além da logística, foi preciso planejar muito bem o sistema de recebimento de pedidos para não deixar os clientes esperando. “Se eu não estivesse no meio virtual não iria inviabilizar meu negócio, mas me prejudicaria muito para uma reerguida”, avaliou.

Quase cinco meses depois, Bersi calcula que as vendas físicas e virtuais estão equilibradas, sendo metade das transações presenciais e metade virtuais, mas ele vê uma grande diferença entre os dois tipos de comércio. “Nas redes sociais, as pessoas te comparam com muitos outros lugares e é nítido que quando soltamos ofertas agressivas, mas que não nos dão retorno financeiro, dá um volume grande de pedidos.”

Para conseguir satisfazer os clientes, sair em vantagem nas comparações e manter as vendas, Bersi aposta na qualidade dos produtos que comercializa e prima pelo bom atendimento. “Procuramos sempre dar a melhor atenção e esse é o nosso diferencial. Mas há pessoas que não gostam de esperar. No meio virtual é para ser prático e rápido.”

Embora o faturamento ainda não tenha aumentado, ele está conseguindo manter as atividades e acredita que após esse período crítico, as vendas on-line devem engrenar ainda mais.

“A expectativa é que o crescimento que tem sido entre 80% e 120% em relação ao ano passado permaneça também no segundo semestre, pois mesmo com a reabertura das lojas físicas, o consumidor continuará adquirindo produtos pela internet devido a segurança, comodidade e possibilidade de economizar com a comparação de preços”, analisou o coordenador do Comitê de Métricas da câmara-e.net e diretor executivo do Movimento Compre&Confie, André Dias. 

AVANÇO TECNOLÓGICO FACILITA VAREJO ON-LINE

Se há dez anos criar um site de vendas era uma operação complexa que mobilizava profissionais de várias áreas e demandava um bom investimento, hoje o avanço da tecnologia permite que qualquer comerciante ingresse quase que imediatamente no comércio digital. “Há várias ferramentas com custo muito abaixo do mercado e que dispensam o desenvolvedor ou designer. Só precisa de uma boa foto do produto para começar a vender no marketplace, que nada mais é do que um shopping on-line”, disse o head of marketing do SGPweb, Vorllon Souza, que recentemente organizou um evento em Curitiba para orientar e incentivar varejistas a ingressarem no comércio virtual.

“Toda essa mudança não foi percebida por quem não estava no meio ou não entendia essa evolução como possibilidade de negócio. Mas os empreendedores precisam perceber que não é o fim do comércio tradicional, mas é um canal alternativo e que não tem volta”, disse o vice-presidente da Abcomm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico), Rodrigo Bandeira Santos. “Muita gente ainda não entrou, mas são camicases. Ficar dois meses fechado e não entrar no meio virtual é enfrentar um maremoto em um barquinho de papel”, comparou.

A migração do comércio tradicional para o meio virtual, analisou Santos, depende, em primeiro lugar, da mudança de mentalidade dos empresários e de adaptações a essa nova realidade. “Muitos ainda não entendem a internet sequer como canal de consumo, quanto mais como canal de vendas, como vendedor. A evolução é permanente e necessária. Existe uma necessidade de aperfeiçoamento.”

Embora o tíquete médio de compras pela internet tenha caído de R$ 280,07 para R$ 248,60 durante a pandemia, o número de pedidos diários on-line cresceu 230%. Supermercados, artigos esportivos, eletrodomésticos, moda, brinquedos e cosméticos estão no topo da lista das categorias com maior destaque no varejo virtual. Para manter os bons resultados após a crise sanitária, especialistas preveem alguns desafios, sendo a logística um dos principais deles. “Com a alta da demanda, ficará cada vez mais difícil entregar grandes volumes de compras realizadas pelo comércio on-line”, disse o coordenador do Comitê de Métricas da câmara-e.net e diretor executivo do Movimento Compre&Confie, André Dias.

A mudança nos hábitos de consumo que elevou o e-commerce a um outro patamar em um tempo muito curto, avaliou Santos, é efeito da pandemia, mas a manutenção dessa movimentação de clientes no meio digital irá depender muito mais de fatores socioeconômicos do que comportamentais ou tecnológicos. “Sem saúde e emprego esse aquecimento nas vendas não terá continuidade. O cenário futuro ainda é muito incerto.”

Ainda que a saúde pública e a economia se fortaleçam, aponta o vice-presidente da Abcomm, há outros obstáculos, como o controle de estoque, a embalagem e o envio de produtos. “A resposta do setor (durante a pandemia) nos surpreendeu, mas é preciso entender que o vendedor de loja física não é o vendedor de loja na internet. A gestão por trás do negócio é diferente, a matemática financeira é diferente e os desafios, também.”


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