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Londrina-Apucarana-Maringá, pólos de uma mesma metrópole

Por Marco Feltrin – Revista Mercado em Foco – ACIL

Analisar cenários e traçar diretrizes para o desenvolvimento socioeconômico das cidades da região de forma integrada para os próximos 30 anos. Este é o objetivo do Plano Metrópole Paraná Norte, lançado pelo governo do Estado com investimento de R$ 3,5 milhões do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD).

Os trabalhos começaram em maio e têm prazo de 12 meses para serem concluídos. A iniciativa foi dividida em cinco etapas: elaboração do plano de trabalho, contextualização da região, construção de cenários e visão de futuro, elaboração do plano de ação e conferência regional. Para cada uma das etapas, estão previstas oficinas temáticas e audiências públicas envolvendo os 15 municípios.
A meta é chegar ao fim dos trabalhos com dados que façam a leitura da realidade de cada município da região e, principalmente, identifiquem o potencial a ser atingido para investimentos em projetos de infraestrutura, saúde, educação e meio ambiente.

 

Para o coordenador executivo do plano, Cláudio Marchand Krüger, a integração proposta é vantajosa para todos os municípios, independente do porte. “Precisamos olhar toda a região que vai de Londrina a Maringá como uma grande metrópole, já que é preciso pouco mais de uma hora para atravessar toda essa região. A ideia é como se fosse um grande condomínio, compartilhando problemas e buscando soluções em uma gestão conjunta, porque as cidades maiores dependem das menores e vice-versa”.

Neste sentido, o plano propicia aos municípios de menor porte a oportunidade de ter acesso a ferramentas de planejamento que dificilmente seriam acessíveis com os orçamentos atuais. “Em alguns casos, a cidade pequena não tem a estrutura necessária para realizar este tipo de pensamento endógeno, saber o que existe de ativo e no que isto pode ser transformado”, aponta Alexandre Farina, diretor-executivo da Terra Roxa, agência de desenvolvimento que encabeçou o projeto desde as primeiras tratativas com o Bird, ainda em 2017.

 

Com metas a curto, médio e longo prazo, o Plano Metrópole Paraná Norte se distancia da questão política, que muitas vezes impede a continuidade de projetos quando há troca de gestão. “No lugar de planos estratégicos, acabamos tendo apenas planos de governo. Quando entra outro gestor, dificilmente segue a mesma linha de pensamento, aí a cidade acaba refém dos seus líderes”, analisa. “A criação deste plano permite um contexto mais técnico, com a sociedade civil organizada fazendo parte do processo. Esse plano vai chegar nas mãos dos prefeitos, mas quem vai cobrar a execução é a sociedade. Ela tem que ser a guardiã desta visão de futuro. É para isto que estão sendo feitas oficinas de capacitação e integração destes atores”, aponta Farina.

 

Corredor de desenvolvimento

Para se ter uma ideia do potencial da região, somados os 15 municípios participantes do projeto, o Produto Interno Bruto (PIB) chega a R$ 35,5 bilhões, 14% do total do estado. Movimentação que pode ser ainda maior na opinião do presidente da Terra Roxa, Wilson Mattos. “Nós podemos transformar o eixo Londrina-Maringá em um corredor de desenvolvimento sustentável e apto para a atração de investimentos. Elaborar projetos de infraestrutura de interesse de todos os municípios e buscar financiamento para que estas obras se concretizem”.

 

Apesar de ainda não estarem presentes oficialmente no plano, dois projetos discutidos há muito tempo na região podem ganhar corpo e finalmente sair do papel. O primeiro deles é o Trem Pé Vermelho, retomando o transporte ferroviário de passageiros entre Londrina e Maringá após mais de quatro décadas. A iniciativa chegou a ser incluída no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal, mas foi retirada em meio a um contingenciamento de recursos. O projeto, inclusive, foi o responsável pelas primeiras tratativas com o Bird que mais tarde acenaria positivamente ao investimento no Plano Metrópole.

 

Outro sonho de consumo que pode ser incluído no plano é um aeroporto de cargas, considerado ponto fundamental como diferencial competitivo para atrair indústrias e movimentar a economia da região. “É uma ideia que vai aparecer na fase de cenários, mas já foi apontada em várias reuniões. Logística é um foco importantíssimo do estudo. Os aeroportos de Londrina e Maringá são muito modestos se comparados ao potencial da região e ao ponto estratégico em que estas cidades estão”, analisa Cláudio Krüger.

 

O assessor executivo para assuntos estratégicos da prefeitura de Londrina, Luiz Figueira de Mello, corrobora a opinião de que a região comporta e precisa apostar neste modal de transporte. “Podemos inclusive transformar nosso aeroporto em um hub aéreo até para uma companhia internacional. Com ampliação da pista para 3,5 quilômetros e proteção de mil metros na cabeceira, estaríamos aptos a receber grandes cargueiros, atraindo indústrias e possibilitando inclusive o escoamento dos nossos produtos para o exterior. Temos um potencial fantástico de solo, água abundante, mão de obra qualificada, tudo para fazer com que nossa produção agrícola, pecuária e piscicultora, chegue a qualquer lugar do mundo”, projeta Mello.

 

Planejamento unificado

Uma das cidades integrantes do projeto, Rolândia está conciliando as fases da iniciativa com a elaboração de seu Plano Diretor, que vai apontar as diretrizes do município para os próximos dez anos. Com isto, dados atualizados em um levantamento podem ser aproveitados no outro.

Para a secretária de Planejamento de Rolândia, Catarina Schauff, é importante pensar a região como um todo. “Se você pegar as cidades de Ibiporã, Londrina, Cambé, Rolândia e Arapongas, elas estão territorialmente unidas. Não há quase espaço entre elas, então acabam dependendo umas das outras. Um projeto como este nos permite viabilizar o desenvolvimento. Rolândia ficou muito tempo estagnada na parte industrial. Vieram moradias, tem mão de obra, mas não tem emprego”, pontua a secretária, lembrando que o desenvolvimento precisa ser sustentável, protegendo as riquezas naturais da região. “Rolândia é a nascente do Ribeirão Cafezal, que abastece Cambé e Londrina. É preciso que a parte ecológica caminhe simultaneamente à questão industrial”.

 

Inspiração

Iniciativas como o Plano Metrópole Paraná Norte não são novidade na região. Em 1978, foi iniciado o projeto do “Plano Diretor do Eixo Londrina-Maringá”, ou Metronor, que também pretendia implantar um sistema integrado de gestão, com foco na organização dos centros urbanos e projeção de investimentos em infraestrutura.

Tratava-se de uma proposta inédita no País: uma metrópole linear em uma região essencialmente agrícola.

Com participação das universidades estaduais de Londrina e Maringá, foi elaborado um diagnóstico do eixo que compreende as duas cidades. Os estudos duraram dez anos. Porém, divergências entre os governos estadual e federal, além de um desinteresse por parte das comunidades envolvidas, tornaram o projeto ineficaz.

 

O coordenador executivo do Plano Metrópole Paraná Norte, afirma que é preciso valorizar o trabalho feito na década de 1970, mas ressalta que o contexto atual é muito diferente daquela época. “Foi um projeto grande, reuniu muita gente experiente e com conhecimento. Mas é um estudo que foi encerrado há quase 40 anos. Muitas premissas não se realizaram. E não dá para colocar um ponto de apoio em um período de 40 anos, é quase metade da história de Londrina. Parte do acervo da análise pode contribuir, mas de fato hoje as cabeças são outras, a movimentação de pessoas é muito maior, isso sem falar nas ferramentas propiciadas pela tecnologia”, compara Cláudio Krüger.

 

Alexandre Farina, da Terra Roxa, vê de forma positiva o legado do Metronor. “A região é privilegiada por já ter passado por uma experiência neste sentido. É preciso resgatar e refletir o que deu certo, evoluiu, e o que deu errado. Identificar onde a metodologia parou e por qual motivo houve um apagão na integração da região. A esperança é muito grande que a gente consiga dar um passo à frente, não só neste momento de organização, mas principalmente quando ele for concluído e passar a ser executado.”


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