Fonte: Janaína Ávila – Revista Mercado em Foco/ACIL
Londrina desceu do trono de Rainha do Café e se mostra ao resto do país como uma cidade disposta a abandonar a glória finita do passado e abraçar as novas possibilidades com produtos surpreendentes. Empreendedorismo, inovação e uma estratégia que caminha de braço dado com a tecnologia criam um novo cenário para a produção local, com jovens empresas londrinenses ganhando espaço num mercado muito competitivo. Produtos feitos em Londrina ganham o coração de consumidores cada vez mais exigentes.
Referência kids
A MOOUI é uma marca pensada para colorir ainda mais o mundo das crianças, com uma gama de mais de 2 mil itens de design exclusivo para roupas de cama, vestuário, decoração e acessórios. A empresária londrinense Thais Carballal criou a marca em 2015 junto com o marido Henrique Gomes depois que o casal passou um período fora da cidade, trabalhando em empresas multinacionais. Eles ficaram um tempo em Curitiba e em São Paulo, metrópole que foi decisiva na concepção da marca. Quase que Londrina perde a MOOUI para a capital paulista. “São Paulo era uma opção, mas estar em Londrina acaba sendo mais conveniente. Facilita na parte da logística, por exemplo. Numa cidade menor, conseguimos ser mais ágeis e eficientes”, conta Thais.
Decidida a abrir a MOOUI aqui, ela descobriu uma forte rede de costureiras e empresas de facções que já existiam na cidade, mas essa é apenas uma parte de todo o processo. A partir do design criado pela MOOUI, os tecidos são fabricados fora do Paraná e voltam para Londrina para o corte e costura. “Empregamos mão de obra local para fazer a transformação do tecido em produto final. Nosso foco e desafio para os próximos meses é aumentar a capacidade produtiva”, revela.
As vendas acontecem exclusivamente pelo site da empresa (www.mooui.com.br) e o mercado principal acaba sendo São Paulo, mas as vendas já acontecem para todos os estados brasileiros e algumas até para o exterior.
Ao descobrir que a MOOUI é de Londrina, as pessoas se surpreendem. “Por causa do design mais moderno, as pessoas criam uma expectativa de que o produto venha de uma capital, quase sempre acham que somos de São Paulo. Teve uma época que começamos a colocar a localização nas nossas publicações no Instagram (@amomooui) e os seguidores londrinenses ficavam surpresos”, conta Thais.
A história de empreendedorismo da empresária londrinense já foi destaque na imprensa nacional e isso repercute nas vendas, com a maior parte da produção indo para grandes centros. Além de São Paulo, as cores e alegria dos produtos londrinenses chegam ao Rio de Janeiro e Minas Gerais, para citar os mais importantes; o Paraná acaba ficando empatado com a capital mineira.
Na opinião da empresária, faltam incentivo e visibilidade para marcas locais com produtos autorais, para que o londrinense saiba que aqui também tem design. “Quanto mais pessoas conhecerem esse aspecto, mais vontade vão ter de criar os seus próprios negócios e seguirem seus caminhos”, analisa Thais.
Universo masculino
O desenho de produto também permeia todo o sucesso de uma empresa londrinense de acessórios de moda voltados ao público masculino. A Key Design (www.keydesign.com.br) nasceu no final de 2013, pelas mãos do londrinense André Yui, junto com o sócio Bruno Aguiar. A marca também nasceu no e-commerce, depois de um período de estudo de mercado e de tendências numa época em que a vaidade masculina começava a ganhar importância e visibilidade.
“Sempre me incomodou a dificuldade de escalar um negócio, as limitações de um comércio local físico. O mercado era incipiente, não tinha nada aqui no Brasil na época que estávamos criando o nosso plano de negócios. Constatamos que o mercado de acessórios masculinos já era um fato na Europa e Estados Unidos e que era questão de tempo para chegar ao Brasil”, diz Yui.
Surgia a oportunidade de ser pioneiro no setor, mas pensar em algo só para Londrina não fazia sentido. “Criamos um Instagram para publicar inspirações de acessórios masculinos, principalmente pulseiras e colares, e com isso fomos ganhando visibilidade. Quando lançamos a marca, já tínhamos mais de 10 mil seguidores, um número muito impressionante há quase uma década”, conta. A conexão com o mercado potencial e a demanda mostraram que era preciso chegar a um público maior, espalhado por todo o Brasil. A melhor e única alternativa seria o e-commerce.
“Nascemos digital. A loja física significaria uma limitação de negócios. Nunca fomos uma empresa regional, a marca já nasceu para ser nacional, para alcançar todo consumidor brasileiro que tem interesse no nosso produto.”, afirma. Embora a Key Design seja totalmente londrinense, o estado do Paraná nem figura entre os que mais consomem as peças da marca, e Londrina é uma cidade pouco relevante dentro do volume global de vendas.
A criação e o desenvolvimento de produtos, a produção, tudo que envolve a divulgação na loja virtual, a identidade visual e todos os processos que acontecem dentro da empresa, é feito na cidade, com uma equipe de mais de 30 pessoas. Yui confessa que já chegou a pensar em sair de Londrina, principalmente pela dificuldade para encontrar mão de obra qualificada no desenvolvimento do e-commerce. “Esse já foi um desafio maior. Ao longo da nossa trajetória tivemos que formar profissionais ‘dentro de casa’ e, até hoje, é bem difícil recrutar pessoal com experiência para essas áreas. Hoje não pensamos mais em sair de Londrina, aqui a estrutura de custos ainda é vantajosa. Mas queremos expandir nossos horizontes, São Paulo talvez, para poder acessar outros mercados e oportunidades de negócios”, revela.
Yui também acha engraçado e interessante praticamente ninguém saber que a Key Design é de Londrina. “Hoje, é mais forte o ‘feito no Brasil’. Valorizamos o fato de usar a mão de obra local, artesanal, isso gera valor à marca.
Na avaliação do empresário, o cenário local tem tudo para evoluir e ganhar importância. “Quanto mais quente estiver no mercado, mais gente ganhando experiência, vivendo desafios no comércio eletrônico, empreendendo, construindo marca, mais fortalece a região e mais profissionais começam a serem formados para desenvolver projetos mais robustos e complexos”.
Iniciativas como o Lidere, evento realizado pela ACIL, ajudam a criar esse ambiente, continua Yui, “ajudando os empreendedores a respirarem as ideias de fora, a criarem um networking e relacionamento com outras pessoas que vivem outras realidades. A troca ajuda a crescer”, diz. Essa troca constante também ajudou a Key Design a atrair investimentos. Só no ano passado, a empresa registrou um crescimento de mais 70%, passou por um redesenho da marca e de todo o site, reposicionando-se no mercado com uma linha nova de produtos. No final do ano, anunciou a chegada de um novo sócio investidor, o ator Caio Castro. “Nossa intenção agora é trazer novos parceiros para o canal de e-commerce, novas marcas que tenham uma proposta de valor que seja compatível com a nossa e com uma categoria de produtos que façam sentido para a nossa audiência masculina, potencializando nossa capacidade de gerar negócios”, revela. Uma rede de franquias também faz parte dos planos da empresa para 2021.
Petiscos
A Budopet nasceu para agradar ao Bud, o cachorro border collie do casal Isabelle Oliveira e João Gabriel Rodella. É uma empresa de petiscos 100% naturais desidratados para animais de estimação. Hoje são 16 tipos de produtos no cardápio, tudo com matéria prima selecionada, sem adição de conservantes, corantes e aditivos.
Orientada por veterinários e nutricionistas, a dupla desenvolveu petiscos que começaram a ganhar a clientela a partir das feiras e de uma pequena distribuição em petshops da cidade, mas a ideia de vender online sempre esteve presente. Assim nasceu o e-shop (www.budopet.com.br) e, com as redes sociais, veio o interesse de outras empresas para o atacado.
A Budopet enfrentou um problema bem comum entre empresas que decidem se instalar na cidade. Onde produzir em Londrina? “Isso foi um pouco difícil porque não poderíamos fabricar em qualquer lugar. Para o nosso produto específico, Londrina é muito restrita, poucas áreas nos permitiriam uma indústria de alimentação animal. Chegamos a pensar em barracões em Cambé e Ibiporã, mas moramos aqui, somos daqui. A burocracia complicou um pouco, mas finalmente deu certo, conseguimos um barracão em Londrina”, conta João Gabriel. Embora a dificuldade inicial de se instalar continua, outros fatores agiram positivamente como, por exemplo, a proximidade de alguns fornecedores, como os frigoríficos.
Ao longo de pouco mais de um ano de existência, a Budopet ganhou uma fiel clientela na cidade. Alguns petshops vendem os produtos, mas a maior parte das compras acontece diretamente no site. “Temos conseguido fidelizar uma boa parte dos clientes, tanto no atacado quanto no varejo e não só de Londrina, mas de outros estados também”, conta Isabelle Oliveira.
A marca ainda tem um marketing orgânico forte dos clientes de quatro patas, se deliciando com os produtos feitos em Londrina nas redes sociais. “As pessoas se surpreendem quando descobrem que somos daqui. No Brasil, atualmente, não existem muitas empresas nesse segmento de desidratados 100% naturais e encontrar isso, na própria cidade, desperta o interesse. Sentimos que os clientes dão prioridade para comprar da gente”, conta o empresário. Mais uma vez, é São Paulo a quase enganar quem compra pela primeira vez. “A referência para o consumidor dos petiscos é a capital paulista, as pessoas se surpreendem. Ser empreendedor em Londrina nos orgulha, nossos pais já são empreendedores aqui e, com os nossos produtos, damos continuidade a isso”, completa Rodella.