Fonte: Lucas Marcondes – Revista Mercado em Foco
Quando se trata de exportação, o agronegócio de Londrina tem sido imbatível ano após ano. Os primeiros sete itens da listagem de produtos exportados pela cidade ao longo de 2015 são oriundos da agricultura. Em 2014, a situação também não foi diferente: o campo dominou as seis primeiras posições. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O Brasil e – principalmente – o Paraná vivem momento semelhante. “O valor exportado pelo agronegócio em 2015 representou 78% do total exportado pelo Paraná, marcando o ano com a maior participação já registrada na série histórica iniciada em 2000. O montante exportado pelo agronegócio totalizou US$ 11,64 bilhões, enquanto que o valor total exportado pelo Paraná foi de US$ 14,9 bilhões”, revela o diretor do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura do Paraná, Luiz Francisco Simioni. “Na balança de exportação, somos os campeões. Graças ao nosso setor, a situação ainda está equilibrada”, completa o presidente do Sindicato Rural Patronal de Londrina, Narciso Pissinatti.
As fontes ligadas ao agronegócio ouvidas pela Mercado em Foco são unânimes ao afirmar que a soja, embora afetada recentemente pelo fenômeno climático El Niño, segue como o carro-chefe da agricultura regional e estadual. Segundo os números do MDIC, a participação da leguminosa na exportação de Londrina subiu de 35% em 2014 para 47% no ano passado. Para Simioni, a cultura da soja irá se expandir mais e mais. “A soja é um produto de consumo mundial. No Brasil, as perspectivas de crescimento são positivas. Tanto em área quanto em produção, a tendência é de crescimento baseado no aumento da demanda do complexo de carnes e de biodiesel. Estima-se que o Brasil tenha mais de 85 milhões de hectares de terras aptas para a produção de soja”, detalha o diretor do Deral.
Do outro lado da balança comercial londrinense, a liderança também fica com a agricultura, já que, tanto em 2014 (participação de 21% dentro do total de importações) quanto em 2015 (31%), os insumos comprados pelo setor ocuparam a primeira posição no quesito importação. O presidente da Sociedade Rural do Paraná, Moacir Sgarioni, avalia que é preciso muito investimento para que o Brasil comece a produzir seus próprios fertilizantes em larga escala. “Temos clima, temos solo, mas somos o terceiro maior exportador de fertilizantes do mundo e, apesar de termos jazidas que poderiam ser utilizadas, o País ainda investe pouco na exploração e produção dos fertilizantes”. Para Pissinatti, essa condição não irá mudar em curto prazo. “Para nós seria muito interessante, já que diminuiria a importação, mas é difícil dizer se seremos autossuficientes ou ao menos ter uma participação maior na produção, porque é um setor que demanda muito tempo e recursos elevados”, diz o presidente do Sindicato Rural Patronal.
Pecuária de alto nível
Se por um lado ainda há desafios que o agronegócio tem de superar, por outro há áreas que, assim como a soja, colhem resultados positivos. “A pecuária está bem há três anos”, resume Moacir Sgarioni. O diretor de Atividade Pecuária da Sociedade Rural do Paraná, Humberto Barros, completa ao detalhar o bom momento do setor. “Existe uma força muito grande da pecuária dentro da receita do País. Os preços que têm sido praticados trazem um bom retorno para o Brasil.” Conforme Barros, embora não tenha a mesma participação na exportação como a soja, a pecuária do Paraná – e também da região norte – preza cada vez mais pela qualidade. “O estado é altamente produtivo em grãos, mas também tem uma pecuária rica em qualidade. Temos aqui um dos melhores cruzamentos industriais de gado de corte e também possuímos um excelente rebanho de raças puras.”
Por falar em exportação, ao mesmo tempo que desfavorece determinados segmentos, o momento do dólar em alta é visto com bons olhos pela maior parte do agronegócio. “Quanto mais alto o dólar, em qualquer exportação, melhor o benefício”, explica Karina Schnaid, diretora operacional da Tepcomex Assessoria e Consultoria em Comércio Exterior. Ela faz, no entanto, uma ressalva sobre o atual papel do Brasil no cenário do comércio global. “A Argentina está certa ao se aproximar dos Estados Unidos, e é o que o Brasil deveria fazer”, opina. Para Karina, o governo brasileiro deveria se espelhar em medidas de incentivo à produção tomadas pelo presidente argentino Mauricio Macri – redução dos impostos cobrados sobre setores agrícolas exportadores, como os de trigo, milho e soja – e que impactam não apenas o agronegócio, mas outras áreas da economia.
Esta produção que poderia ter muito menos perdas se não fossem os já antigos problemas logísticos. Karina diz ter notado uma pequena melhora nos portos. Entretanto, de acordo com a diretora operacional da Tepcomex, as rodovias, seja da região de Londrina ou do restante do País, continuam, em sua maioria, bastante problemáticas. Izabele de Souza, despachante aduaneira e sócia da Kadosh Assessoria em Comércio Exterior, reforça a crítica. “As rodovias geram um custo muito alto, o que desgasta a produção. Se tivéssemos a possibilidade de um transporte ferroviário mais bem estruturado, o escoamento da safra seria mais rápido. Atualmente, o transporte por meio das ferrovias não supre a necessidade do norte do Paraná”, lamenta.
Além da escassez de modais para exportar as riquezas do campo da região, Narciso Pissinatti aponta que grande parte das rodovias, principal meio utilizado para o transporte dos produtos, são em pista simples. Moacir Sgarioni, da Sociedade Rural do Paraná, vai além e critica o fato de Londrina não possuir vias duplicadas até Curitiba e São Paulo. “É inconcebível a segunda maior cidade do Paraná, com todo esse potencial, não ter uma pista dupla até a nossa capital ou até o grande centro que é São Paulo. A situação tem melhorado, mas aos poucos, em uma velocidade muito inferior à da produção. Poderíamos intensificar hidrovias e ferrovias, mas não vejo muitas perspectivas em curto prazo”, desabafa.
Cooperativismo agrega valor
Desafio também é ir além das commodities e conseguir agregar valor aos produtos exportados pelo agronegócio nacional. Luiz Francisco Simioni, do Deral, defende que a solução passa pelo sistema cooperativo – modelo em que o Paraná é exemplo para o País. “O processo de agregação de valor na agroindústria está crescendo anualmente e o sistema cooperativo é o melhor caminho. O pequeno e o médio ficam grandes quando se unem em um sistema de sucesso como o cooperativismo no Paraná. Associativismo e cooperativismo são soluções para enfrentar mercados cada vez mais unificados”, declara. Agregar também se tornou palavra-chave para Humberto Barros, diretor de Atividade Pecuária da Sociedade Rural do Paraná. Ele conta que, apesar de todos os números positivos do agronegócio, é preciso agregar esforços para que demais setores da economia superem a crise. “Torço para que o País tome um rumo diferente do atual, porque o Brasil não pode ficar assim. É ruim quando apenas um setor está bem. Por outro lado, é bom quando há grande produção de soja, de carne, grande produção industrial. Aí, há desenvolvimento, porque não é bom para o pecuarista ou para o agricultor se ao redor não está bom. Isso é algo que não funciona”, conclui.