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Novos desafios para Londrina

Fonte: Francismar Lemes – Revista mercado em Foco/ACIL 

O ano de 2021 será o dia seguinte ao choque pandêmico, que resetou a história e economia mundiais. Num raio menor, as cidades brasileiras coincidem as eleições municipais de 2020 com a magnitude dessa ruptura, que provocou ondas devastadoras na saúde, educação, emprego, renda e relações sociais. Um conglomerado de reações que impõe aos futuros prefeitos um desafio dimensionado no conceito organizacional “sensemaking”, de Karl Weick, descrito como o processo de fazer sentido em um mundo confuso.

Na teoria, essa atividade é acionada quando algo em nosso ambiente parece ter mudado. Alguém tem dúvida de que não voltaremos à dolce vita que tínhamos até fevereiro, antes do espalhamento do coronavírus pelo planeta? E que teremos que empreender um esforço de reconstrução da economia mundial mergulhada em uma crise mais extensa, desde 1870, como alertou o Banco Mundial? Que ambiente é esse que os gestores municipais, em especial o de Londrina, devem encontrar?

É de uma economia em choque em que os empregos foram pulverizados no primeiro semestre. Até junho, foram 27.884 admissões em Londrina e 33.469 desligamentos, com um saldo negativo de 5.585 postos de trabalho formais. O pico de demissões foi em abril, com -3.823 vagas. Os números setoriais revelam -2.470 postos no setor de serviços, -1.930 no comércio e -1.140 na indústria. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

São episódios de uma série dramática de empobrecimento que não só os londrinenses e brasileiros vão viver pelos próximos anos, mas que, de acordo com o Banco Mundial, a Covid-19 pode empurrar 100 milhões de pessoas para a pobreza ao redor do mundo.

A grande redefinição mundial, a partir da pandemia, será tema de uma cúpula do Fórum Econômico Mundial em janeiro de 2021. A visão da cúpula é de que o desenvolvimento econômico exigirá um novo contrato social centrado na dignidade humana, justiça e progressos sociais. Um bom norte para os novos administradores municipais.

A revista Mercado em Foco analisa em que condições vai se dar essa tração da economia e do desenvolvimento de Londrina ao selecionar cinco desafios para a retomada que, em parte, estará sob o guarda-chuva das políticas públicas, econômicas e sociais da próxima gestão municipal.

Desenvolvimento

Azenil Staviski, professor de Economia: “É necessário criar um mecanismo de assessoramento técnico, burocrático, financeiro, sanitário ou mercadológico”
O estudo Brasil pós-Covid-19 – Contribuições do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) circunscreve o momento crítico e de inflexão às políticas públicas. São medidas consideradas insumos para ações de curto, médio e longo prazos.

“Os municípios, dependendo da atividade econômica predominante, perdem mais. Londrina é prestadora de serviço e perdeu muito com a pandemia. Se compararmos Londrina, Maringá e Apucarana, estamos perdendo mais em vários aspectos”, afirma o professor Azenil Staviski, do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

O economista ressalta que Londrina ainda é muito pobre na geração de empregos e, se não reverter esta situação, o desenvolvimento não acontecerá. “As oportunidades existem, mas precisam ser analisadas com todo potencial de visão empreendedora que o empresário tem. Ele precisa buscar mais esse feeling para se adaptar, rapidamente, à necessidade. Haverá sempre oportunidades de negócios. Inclusive na área financeira, os bancos e cooperativas de créditos precisam se adaptar a um novo empresário que está se adaptando também e precisa de capital”, avalia.

Staviski afirma que o prefeito eleito terá um desafio para incentivar o desenvolvimento, emprego e renda em um cenário de fragilidade da economia. “Temos muitos microempreendedores e pequenas empresas que estão saindo do mercado e outros vão surgir. É necessário criar um mecanismo de assessoramento técnico, burocrático, financeiro, sanitário ou mercadológico num escritório do empreendedor. No Japão, por exemplo, quando o empreendedor depende de qualquer coisa do poder público, existe um único lugar para ir, que é a prefeitura da cidade”, conclui Staviski.

Industrialização

Clóvis Coelho, da Fiep: “A burocracia tem trazido inércia na implantação de indústrias”

A intenção de investimento da indústria nos próximos seis meses é baixa (41,4%). Os dados são da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A disposição de investir ajuda a prever o crescimento do setor e da economia. O emprego só cresce com aumento de produção.

De acordo com um panorama do Banco Mundial sobre o país, o problema da produtividade decorre da ausência de um ambiente de negócios adequado, distorções criadas pela fragmentação do mercado, dos múltiplos programas de apoio às empresas que ainda não comprovaram resultados, um mercado relativamente fechado ao comércio externo e pouca concorrência interna.

“Surge uma grande oportunidade para o Brasil, que tem bom relacionamento com a América e pode ter uma chance de consolidar o seu parque industrial. Com a perspectiva do 5G existem tendências de que as oportunidades são para os que estão preparados”, avalia, o assessor da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Clóvis Coelho.

Ele acredita que, para aproveitar as oportunidades, Londrina precisa modernizar a política de industrialização. “Essa política está ultrapassada. Pensa-se muito em dar terrenos, facilitar a vida do industrial, mas não é bem isso que ele quer. Quando quer implantar sua indústria no município, precisa de suporte em que a planta industrial tenha água, energia em abundância. A burocracia tem trazido inércia na implantação de indústrias. Como existe uma disputa entre municípios, Londrina acaba prejudicada”, afirma Coelho.

Desburocratização

João Delfino Resende de Pádua, do Observatório de Gestão Pública de Londrina: “O grande desafio será a mudança de paradigma do servidor público”

Na Finlândia, a abertura de uma empresa leva apenas um dia. No Canadá dois e Estados Unidos seis dias. Os brasileiros têm pela frente em média 80 dias de espera. O nome disso é burocracia.

A Endeavor, aceleradora de empreendedorismo, enumera cinco obstáculos para o empreendedor. Vamos avaliar apenas um deles: o tempo de resposta dos órgãos. “O grande desafio será a mudança de paradigma do servidor público, que é, em muitos casos, um dificultador do trabalho. Não importa se desenhamos o melhor sistema. Conheci e ajudei a implantar diversos sistemas no governo federal, mas a grande dificuldade é romper a resistência à mudança”, considera o diretor-adjunto de Relações Institucionais do Observatório de Gestão Pública de Londrina, João Delfino Resende de Pádua. Ele já exerceu cargo de delegado-adjunto do Tesouro Nacional/SP e chefe da Controladoria Geral da União/SP.

Os administradores também são contaminados por esse comportamento, na opinião de Pádua. Ele conta que o Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal foi oferecido aos municípios e estados gratuitamente, mas poucos aderiram. “A prefeitura é o primeiro órgão que vai estar mais próximo do cidadão e que pode facilitar a vida dele. É preciso tirar da frente burocracias e a cultura de que é mais fácil o servidor continuar no seu quadrado, na sua mesa, sem querer mudança”, avalia Pádua.

Mobilidade Urbana

Carlos Prado da Silva Júnior, professor de Engenharia: “Como temos poucas opções de deslocamento, o automóvel passou a ser uma necessidade”

No Brasil e, na maioria das cidades da América Latina, o Banco Mundial aponta que 35% das viagens diárias são a pé. A estimativa pode ser subestimada até porque é de 2016, mas, o desafio para Londrina, como em outros municípios, é diminuir a distância entre o trabalho e a moradia do trabalhador.

“Quase todas as opções de emprego são concentradas num lugar da cidade. O que poderia ser feito para melhorar a mobilidade? Distribuir as atividades ao longo do município”, afirma o professor do Departamento de Engenharia da UEL, Carlos Prado da Silva Júnior, que presta assessoria de planejamento urbano a cidades da região.

Ele destaca que, em 2010, a Gleba Palhano tinha uma população de 7 mil habitantes. Em 2019 subiu para 27 mil pessoas. “Isso gera muito impacto. Como temos poucas opções de deslocamento, o automóvel passou a ser uma necessidade. As pessoas culpam o carro por problemas de mobilidade, mas, particularmente, eu não acho. Se você não tem um automóvel em Londrina está fadado a sofrer com mobilidade. Poderia ter outras opções, eu poderia caminhar para ir à escola, usar a bicicleta para ir à universidade, mas não tenho essa opção. A mobilidade não está relacionada ao modo de viagem, mas à interação desse deslocamento com o tecido urbano e distribuição das atividades.

Prado acrescenta que Londrina precisa melhorar a mobilidade, apesar de não ser caótica, como em outros centros urbanos. Porém, a administração municipal deve se antecipar aos problemas que em 10 ou 20 anos estarão no nosso caminho.

Inovação

Ronaldo Couza, da Cintec e da ACIL: “Londrina é uma cidade inovadora porque está organizada como um ecossistema de inovação”

A Endeavor lançou um guia para salvar empresas, e aponta que a crise da Covid-19 ameaça o desenvolvimento do país com o desaparecimento de scale-ups, empresas inovadoras com alta produtividade e geração de postos de trabalho, que totalizam 1,6 milhões de novos empregos nos últimos 3 anos, de acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para a área, o presidente do Arranjo Produtivo Local de Tecnologia da Informação de Londrina e Região (APL de TI), Ronaldo Couza, acredita que cabe ao gestor municipal manter a integração dos setores da economia e políticas públicas de inovação. “Não só na área de tecnologia, propriamente, mas o desenvolvimento da inovação dentro de todos setores da economia. A TI é transversal”, avalia.

Couza destaca que Londrina já tem uma rede de incentivo e proteção do desenvolvimento do ambiente de inovação, que precisa ser assegurada. “Londrina é uma cidade inovadora porque está organizada como um ecossistema de inovação nas suas verticais, como o agronegócio, metalmecânico, construção civil, TI, saúde. Todas têm uma governança trabalhando em prol do setor. Pelo simples fato de ter essas governanças, pessoas pensando nos setores e na integração, já entendo Londrina como uma cidade inovadora”, conclui.


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