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O novo rosto do empreendedorismo londrinense

Fonte: Revista Mercado em Foco – ACIL – Por Ranulfo Pedreiro 

A auxiliar de veterinária Lavínia Rocha tinha apenas 15 anos e uma paixão por roupas customizadas e brechós. Mas, estagiando em uma clínica, ela não conseguia mais fazer compras em horário comercial. A solução foi reunir as amigas no Facebook para promover trocas. O grupo Enjoei, eaí? surgiu em novembro de 2012 com cerca de 100 convidadas. Hoje abrange uma comunidade com 400 mil pessoas.

Falar por telefone com Lavínia Rocha pode passar uma imagem diferente da real. A empreendedora articulada, de raciocínio rápido e preciso, tem apenas 20 anos, rosto de menina, cabelo vermelho e uma tatuagem no braço com a palavra que mudou sua vida: Enjoei.

A tatuagem faz sentido. Afinal, o grupo tomou proporções e rumos inesperados. Se antes pensava em ser veterinária, hoje Lavínia Rocha é empresária, estuda publicidade pela manhã e passa o resto do dia fazendo o que mais gosta: empreender continuamente.

Logo após a criação do grupo no Facebook, em 2012, as amigas marcaram um encontro em um shopping de Londrina. Os seguranças não gostaram de ver tantas meninas chegando com malas cheias de roupas. E as expulsaram.

O contratempo virou aprendizado. No ano seguinte, Lavínia Rocha realizou um bazar com 30 garotas em uma lanchonete da Av. Maringá, com público estimado em 300 visitantes. O segundo bazar ocorreu em um estacionamento da Rua Paranaguá, com 50 expositores – e atraiu um público de 1.400 pessoas. Crescendo a olhos vistos, o evento ganhou destaque em jornais e televisões.

Foi o estopim. O grupo, então com 16 mil membros, saltou – em uma semana – para 40 mil. As trocas diminuíram, as vendas aumentaram e diversas empresas buscaram parceria. “A ideia não era virar um negócio, sempre foi mais um hobby. O crescimento foi totalmente orgânico”, explica a empresária.

Com o aumento de público, os eventos conquistaram espaços maiores. A terceira edição da feira contou com 70 lojistas e atraiu 3 mil pessoas. Em dezembro de 2014, na quarta edição, foram 5 mil visitantes para 100 expositores.

“Com todas essas feiras, eu fui guardando dinheiro para fazer algo que me desse um futuro”, conta Lavínia. Ela decidiu abrir a própria loja em 2015, misturando moda feminina e moda pet – a defesa dos animais é uma causa encampada pelo grupo.

A loja, porém, exigia compras constantes em São Paulo. Aos poucos, Lavínia deixou de dar a atenção necessária ao Enjoei. E, quando percebeu, estava se afastando do que mais gostava. “Tive que fazer uma escolha: cuidar do grupo ou da loja. Optei por fechar a loja”, ressalta.

Em dezembro de 2016 a feira voltou com 90 expositores e uma frequência de 2.500 pessoas. As opções incluíam espaço para crianças, feira de adoção de animais e estúdios de tatuagem.

Ferrari, helicóptero e fraldas

As atividades do grupo foram se ampliando para além das trocas de roupas. Há de tudo à venda, desde que o produto seja lícito. De chácaras a sashimis de tilápia. Mas tem também anúncios de carros roubados, pessoas desaparecidas e descasos com o consumidor em geral. Para Lavínia, o anúncio mais surpreendente foi o de uma Ferrari no valor de R$ 1,5 milhão, oferecida por um rapaz de Uberlândia.

As histórias são muitas: a mãe que pagou a faculdade da filha com as vendas; a fabricante de bombons que comprou uma moto e montou um delivery; a criança que precisava ir a Curitiba para tratamento e conseguiu um helicóptero; o casal que se conheceu e se apaixonou durante uma venda; o rapaz que teve a residência remontada pelo grupo após ser destruída por um incêndio; o pai sem dinheiro que ganhou uma festa de aniversário para o filho; a família que precisava urgentemente de fraldas e recebeu muitas; a garota que customizava roupas para vender e hoje é dona de três lojas físicas; o rapaz que trocou uma cadeira por uma caixa de cerveja.

Apaixonados pelos bichos, os participantes descobriram, certa vez, um homem que maltratava seu cachorro. Houve revolta e confusão em frente à casa do sujeito. Foi preciso a intervenção da polícia e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente para que a situação fosse controlada.

“O Enjoei é um grupo de compra, venda, utilidade pública, ajuda ao próximo e de fazer o bem. É uma comunidade mesmo”, acrescenta Lavínia, lembrando que os eventos beneficentes sempre estiveram presentes, incluindo ações como arrecadação de alimentos e brinquedos para datas comemorativas como Dia das Crianças e Páscoa.

Como o próprio grupo se tornou uma empresa, a intenção agora é encaminhar os participantes para a formalização. Marcada para os dias 2 e 3 de dezembro, a nova feira terá um diferencial: a Praça do Empreendedor. “As pessoas precisam ter CNPJ, têm que ser MEI (Microempreendedor Individual), têm que estar dentro dos parâmetros da lei”, explica Lavínia. O evento também vai representar um salto de público, com 10 mil visitantes previstos, tendo como atrativos várias lojas âncoras e espaços para crianças, beleza, saúde e estética.

Guia de informação

Em plena transformação digital, o grupo vai se desdobrando em outras iniciativas, assumindo a característica de um portal de mídia. Um dos projetos, chamado Eaí Londrina?, vai englobar tudo o que ocorre dentro do Enjoei e não está relacionado a compra e venda.

“Vai ser um guia de informação e conteúdo, nada jornalístico, mas cultural e de entretenimento”, comenta Julio Degani, responsável pela Eaí Comunicação. “Vai ter a parte de empregos, cupons de desconto, ajuda ao próximo, lugares para conhecer em Londrina e as empresas da cidade que estão no grupo para você visualizar todas de uma forma organizada”, complementa Lavínia.

Outra startup é a plataforma De Mulher Para Mulher, ainda em desenvolvimento. “São mulheres encanadoras, eletricistas e pedreiras para atender a dona de casa que se sente incomodada em receber um homem”, esclarece Júlio Degani. Para completar, ainda há o Clube da Lavi, voltado ao empreendedorismo feminino.

Tudo é encorpado por números vistosos. O grupo tem 310 mil pessoas e recebe 4 mil postagens diárias, com um total de 4 milhões de postagens; o Enjoei Kids, com produtos infantis, tem 50 mil pessoas; a página no Facebook tem 30 mil fãs; e o Instagram, que ainda não foi divulgado, conta com 2 mil seguidores. Em seis edições, a feira Enjoei recebeu mais de 11 mil visitantes e 250 lojistas.

Lavínia virou marca na rede

Tanta visibilidade traz contratempos. Grupos chamados Enjoei se multiplicam numa onda de falsificação digital. A saída para o grupo oficial foi destacar o nome da criadora. Então, para acessar, é preciso procurar Enjoei eaí? (Lavínia Rocha) no Facebook.

“A gente tem cinco anos de história. Eu recebo reclamações de grupos dos quais eu não tenho como cuidar. O grupo oficial tem uma série de regras que, quando não são cumpridas, têm suas consequências. Agora, o que rola dentro dos outros grupos a gente não sabe”, reclama.

As cópias incomodam. Afinal, são anos de muito estudo e pouco sono, uma rotina puxada. Lavínia e Júlio (ele também estuda publicidade) vão para a faculdade durante a manhã e, depois, se debruçam sobre o universo do empreendedorismo digital sem hora para dormir. “Quando temos tempo livre, estamos no celular respondendo mensagens. Tem dia que vai até às 4 horas da manhã, até quando a gente aguenta”, conta Júlio.

Tanta dedicação faz sentido para Lavínia: “Este é o momento de aproveitar o gás e a energia que a gente tem para, no futuro, colher os frutos”.

Com tanto empenho, ambos ainda arranjam um tempinho para frequentar bares e restaurantes. Afinal, ninguém é de ferro. E a vida não pode ser vivida apenas na internet.


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