Notícias

|

O valor do respeito

Fonte: Revista Mercado em Foco – ACIL – Por Lúcio Flávio Moura

Aos 66 anos, o empresário paranaense Mário Gazin se tornou um ícone para os empreendedores que sonham alto. Em parceria com o pai, Alfredo, começou no fim dos anos 1960 sua caminhada árdua e de resultados impressionantes. Já retirado da rotina corporativa, o senhor de semblante bonachão se tornou um observador zeloso do seu império, constituído por 243 lojas de varejos em 9 estados, além de cinco indústrias de colchões e estofados, uma indústria de molas e 13 centros de distribuição de mercadorias. Os números atestam uma vocação magistral deste personagem ímpar no ambiente corporativos: fazer um negócio crescer permanentemente. Uma história que daria um livro. E que deu: “Mario Gazin – A arte de inspirar pessoas e encantar clientes”, do jornalista Elias Awad, onde constam todos os detalhes da ascensão de um grupo empresarial que entendeu como poucos o jeito interiorano para comprar e vender, base do sucesso incontestável . A trajetória, contada também em palestras pelo País, é quase um resumo de todos os percalços enfrentados e de todas as oportunidades oferecidas ao empresariado brasileiro nas últimas cinco décadas. Gazin é uma das atrações do Fórum Lidere, evento que marca os 80 anos da ACIL como o início de uma nova era no debate empresarial do Norte do Estado. Com a palavra, um mestre dos negócios.

Mercado em Foco: Crescer na crise é um desafio que muita gente acredita ser impossível para um grupo empresarial com forte atuação no varejo. Por que não foi impossível para a Gazin?

Mário Gazin: Os níveis de empenho e trabalho da Gazin não diminuem em tempos desfavoráveis. Continuamos comprometidos com as metas e resultados crescentes e quando a crise chegou já estávamos num ritmo de trabalho capaz de suprir as necessidades da crise, tudo isso aliado a disciplina na execução estratégica por meio de processos. As duas principais diretrizes da Gazin são: “Cliente em Primeiro Lugar” e “Despesas limitadas ao orçamento”. São princípios que, somados ao desenvolvimento dos nossos funcionários, têm feito da Gazin uma marca de valor relevante para o consumidor na travessia desta crise.

MF: Quais são os erros mais comuns que o senhor observa no varejo como consumidor. Quais os que mais provocam irritação?

MG: Na ótica de consumidor, há um cuidado simples muitas vezes negligenciado: o atendimento. O cliente está carente de cuidado. Há pressão por todos os lados e o vendedor muitas vezes mal treinado visualiza o cliente como mais uma possibilidade de cumprir sua meta. Porém, o segredo de longevidade e saúde do varejo está na inovação de forma simples, a começar pela preparação e atualização de seu time de vendas, o inclinando para uma mentalidade de relacionamento, confiança e geração de valor no atendimento. A preparação garante que o cliente terá desejo de voltar.

MF:Um empresário bem sucedido é respeitado no Brasil? A visão sobre os gestores corporativos e os empreendedores está mudando junto a opinião pública?

MG: Precisamos ter o respeito como ponto de partida das nossas ações. Isso dita o ritmo de como elas vão acontecer e estabelece uma ponte com o próximo, seja um parceiro de negócio, fornecedor, funcionário ou cliente. Para isso, é preciso que os nossos valores falem mais alto do que nossas crenças, e é isso que tenho visto em boa parte dos gestores e empreendedores, a concordância de que a sustentabilidade dos negócios vem de relações estabelecidas com respeito e valores.

MF:O senhor poderia contar como é sua atual rotina no grupo empresarial? Foi doloroso o processo de passar a liderança para um gestor que não é da família? Quais conselhos o senhor daria para um líder empresarial que decide se retirar mas ainda não tem segurança para nomear um substituto?

MG: Recentemente, lancei o meu livro e viajo dando palestras sobre minhas experiências e lições. Gosto de compartilhar conhecimento. Visito bastante os meus “filhos” das filiais e quando estou na Matriz gosto de cozinhar para os novos vendedores que vem para fazer a integração. A filosofia da Gazin é humana e relacionada ao ato de servir. Gosto de proporcionar esta experiência para fixar neles esta marca assim que entram para a empresa. Quanto a “passar” a presidência, não foi difícil. Iniciei esse processo bem antes, me preparei e preparei o meu sucessor. Nós, “pais”, precisamos garantir a cultura e o faturamento da empresa. É preciso entender que há dois tipos de “filhos”: os “herdeiros”, que quer herdar o que já foi construído, e os “sucessores” que querem dar continuidade, aumentar e perpetuar o que foi construído. Quem não tem um “filho sucessor” precisa arrumar e desenvolvê-lo ( primeiro a gente olha e vê o que tem em casa, eu fiz isso). Se for de fora, dá mais trabalho porque os de casa ficam enciumados, o que diminui isso é se a pessoa tem familiaridade com a cultura da empresa, se não tiver enfraquece a legitimidade da escolha.

MF: O Grupo Gazin é um gigante do varejo, com sede em Douradina, um município com menos de 10 mil habitantes na microrregião de Umuarama. A empresa planeja mudar o endereço da sua sede caso mantenha o atual ritmo de crescimento?

MG: Não temos esta pretensão. Douradina é a cidade que nos acolheu, onde fixamos nossas raízes, nos movimentamos para que a cultura da empresa, que tem até uma marca chamada Jeito Gazin, também esteja presente nas nossas filiais, independente do negócio, seja varejo, indústria ou atacado. Sendo assim, a prioridade não é a mudança de localidade da Matriz, mas inovar cada vez mais em nossos meios de comunicação internos para que a cultura se mantenha viva nos mais de 7 mil funcionários do grupo espalhados pelo país.

A cultura e o modo de vida típicos de uma pequena cidade de certo modo influencia a cultura corporativa da Gazin? 

MG: O nosso Jeito Gazin é o grande influenciador da região onde a Matriz está localizada. Assim como toda empresa sustentável, a Gazin também tem seu compromisso com a sociedade. Além de empregar, desenvolvemos nossos funcionários para que transmitam esse valor aos seus grupos. Oferecemos cursos profissionalizantes e de qualidade de vida abertos à população, somado a participação da Gazin a um calendário anual de ações sociais voltadas à cidade. Temos um compromisso com a região. São mais de 1.400 funcionários. Deixar a cidade ou fechar a empresa seria muito doloroso economicamente. A Gazin tem um nível de responsabilidade e compromisso grande com esta região.

Quais são as diferenças de atuação de um grupo varejista em uma cidade do interior e ou em uma grande capital? Os consumidores são diferentes?

MG: Pessoas são pessoas em todo lugar. Porém, nos grandes centros, há uma grande variedade de opções para suprir as necessidades do consumidor. Já nas cidades do interior, onde atuamos estrategicamente, há um nicho de consumidores carentes de opções e cuidados. Há ainda a vantagem de se criar relacionamentos mais rapidamente: todos se conhecem, o que facilita também a permeação da Gazin no calendário de atividades da cidade. Tudo isso é fortalecimento de relacionamento e mais chance de fidelização.

O Lidere propõe a reflexão em três vertentes: gestão, inovação e liderança. Se o senhor fosse capaz de resumir cada uma delas em uma frase, quais seriam?

MG: Gestão é a estratégia de engajamento, desenvolvimento e consolidação de um time que comprou a ideia do líder e sua estratégia para alcançar o objetivo proposto. Inovação é engajar pessoas e seus talentos num processo de melhoria para o bem comum usando novas formas. Liderança é a capacidade de formar novos líderes. A forma mais eficaz é servindo – uma liderança que se consolida pelo exemplo é legitimada pela maioria.  


Compartilhe com o universo

Compartilhar O valor do respeito no Facebook Compartilhar O valor do respeito no Twitter Compartilhar O valor do respeito no Linkedin

Deixe seu comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *