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Os valores que movem o associativismo

Fonte: Revista Mercado em Foco – ACIL – Por Amanda de Santa

Pensar no coletivo, trocar conhecimento, cooperar para transformar a vida das pessoas e a sociedade. Estas são apenas algumas características do associativismo. Desde muito cedo, o homem percebeu que “a união faz a força” e passou a atuar em grupos para solucionar conflitos e conquistar objetivos em comum.

Formalmente, as associações como conhecemos hoje nasceram no século XIX, a partir do surgimento de grupos para defender interesses profissionais, empresariais e dos trabalhadores. Já a pulverização desses agrupamentos, que depois alcançaram outros campos, como o cultural, educacional, recreativo, social, ocorreu mais fortemente no século XX.

No Brasil, a primeira associação foi criada em 15 de julho de 1811. A Associação Comercial da Bahia nasceu com o objetivo de atender os interesses dos comerciantes e promover o progresso da então Colônia. Em 1890, após a recente Proclamação da República, foi fundada a Associação Comercial do Paraná, a terceira entidade representativa da classe comerciária a surgir no País.

O modelo brasileiro de associativismo mistura características europeias e norte-americanas. O economista, doutor em Ciências Sociais e professor do departamento de Administração da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Luís Miguel Luvio dos Santos, explica que, na Europa, o papel das associações é cobrar do Estado a garantia dos direitos básicos e o bem-estar social.

Já nos Estados Unidos, os cidadãos valorizam a liberdade individual, portanto, uma menor interferência do Estado na solução dos conflitos. O professor afirma que, desde o início da democracia americana, formaram-se associações para tudo e boa parte dos problemas enfrentados eram solucionados de forma autônoma por esses grupos.

No Brasil, de acordo com Santos, existem agrupamentos com atuação semelhante aos dois modelos. “Temos associações e movimentos muito fortes, que promovem reivindicações de direitos junto ao Estado, e também grupos filantrópicos, que não necessariamente substituem o governo, mas suprem lacunas deixadas por ele”, cita.

Vale destacar que o trabalho desenvolvido pelas associações é totalmente voluntário, já que elas são definidas em lei pela “união de pessoas que se organizem para fins não econômicos”. Além de superar dificuldades e buscar benefícios para os associados, essas entidades possuem um poder representativo muito forte na sociedade civil.

“Elas têm uma capacidade enorme de mobilizar, afetar e impactar de baixo para cima, de manifestar a voz de diferentes grupos”, destaca o professor. Esses grupos, segundo ele, transcendem o primeiro objetivo – que é defender os interesses dos associados – e impactam em outras esferas, não só municipais, mas estatais e até nacionais.

Filosofia de vida

Missão, sentido e filosofia de vida. É assim que o atual presidente da ACIL, Claudio Sergio Tedeschi, enxerga a causa associativista. Ele já esteve à frente de várias entidades, entre elas o Sinduscon Norte/PR e o Fórum Desenvolve Londrina, que ajudou criar. Para Tedeschi, a grande “remuneração” é participar da história desses grupos. “Além disso, temos uma oportunidade única de formação e informação”, acrescenta.

Na avaliação do presidente da ACIL, a troca de experiências e o aprendizado são muito ricos. É por isso que ele diz acreditar que tudo o que aprendeu durante a caminhada em associações precisa ser compartilhado com a comunidade. “Fiz muitas viagens para conhecer exemplos de cooperativismo e essa riqueza cultural não pode ficar só comigo, precisa ser transbordada”, justifica.

Uma das realizações que Tedeschi considera muito importante na própria trajetória é a participação na criação do Fórum Desenvolve Londrina, que reúne as maiores entidades representativas da cidade nos meios empresarial, acadêmico e do setor público. “É um colégio de líderes com pessoas que possuem uma rica experiência de vida comunitária”, descreve.

O Fórum, ele destaca, já produziu e entregou nove trabalhos para a comunidade. A própria ACIL ganhou, por causa dele, um Núcleo de Desenvolvimento Empresarial, formado por representantes de entidades locais para garantir a execução e o aperfeiçoamento de políticas de desenvolvimento sustentável.

Outro projeto que Tedeschi considera muito relevante é a aplicação da metodologia do empreendedorismo na rede pública de ensino primário em Londrina. Segundo ele, a ideia não é despertar nas crianças a vontade de serem empresárias, mas muito mais que isso, é fazer com que elas desenvolvam um olhar e uma postura empreendedora em tudo o que quiserem realizar na vida.

Tedeschi lembra que o associativismo é capaz de transformar para melhor a realidade em que determinado grupo vive. As associações, de maneira geral, são formadas por pessoas bem intencionadas, desprendidas e capazes de saírem de si mesmas para pensar coletivamente.

Busca do bem comum

Muito experiente e também com uma trajetória longa no associativismo, o presidente do Sindimetal Londrina, Valter Orsi, diz que o que o move é a busca pelo bem comum. Para ele é importante dividir o conhecimento que possui com o coletivo e fazer a diferença na sociedade.

“Cidades onde o associativismo é forte são mais igualitárias, a riqueza é mais bem distribuída, e oferecem uma melhor qualidade de vida”, lembra. Orsi já passou por diversas entidades, entre elas a própria ACIL, e também a Fiep. Travou várias “batalhas” e pôde comemorar muitas conquistas.

As mais importantes, na opinião dele, foram a criação do Estatuto da Micro e Pequena Empresa, a ação do movimento “Pé Vermelho, Mãos Limpas”, o incentivo à instalação do Sicoob em Londrina, e a participação na criação da Sociedade Garantidora de Crédito do Norte do Paraná, a GarantiNorte PR.

Presidir entidades requer não apenas boa vontade, mas também conhecimento sobre liderança. Afinal, é preciso saber como conduzir um grupo de pessoas que trabalha voluntariamente por uma causa ou objetivo em comum. “É preciso ser humilde, engajar, ouvir, buscar o comprometimento e envolvimento das pessoas”, afirma.

Para Orsi, o crescimento do associativismo é irreversível. “Gostaria que fosse mais acelerado. Observamos certa lentidão no engajamento da sociedade, vivemos num mundo individualista”, lamenta. Para ele, os jovens, que representam a nova geração nesse meio, poderão dar mais velocidade ao crescimento do associativismo. “Eles possuem ferramentas e informações para isso”, garante.

A nova geração busca espaço

O diretor Jovem Empresário da ACIL, André Grádia Gomes Yui, vê no associativismo uma ótima oportunidade para networking, troca de ideias, informações e experiências, ajuda mútua, possibilidade de realizar negociações em conjunto e, com isso, ter mais força e poder de barganha. “Conquistamos benefícios que ajudam diretamente as nossas empresas, mas também todo o ecossistema”, afirma.

Yui diz que não considera a idade uma barreira, mas confessa que a maneira como cada geração enxerga a gestão é conflitante em vários pontos. O mais importante, no entanto, é o respeito à diversidade. “Sempre quis doar parte do meu tempo para fazer algo pela comunidade. O associativismo é uma maneira que os empresários têm de contribuir com a sociedade”, argumenta.

Na avaliação de Yui, porém, é preciso mais abertura para a participação dos jovens, que são minoria nas diretorias das principais entidades. “Para que o associativismo tenha continuidade, é preciso introduzir o jovem, garantir a renovação, que é saudável para o desenvolvimento e importante para que os grupos não percam a sua essência”, aponta.

E foi exatamente essa abertura que o empresário e hoje vice-presidente para o Setor de Empreendedorismo da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Paraná (Faciap-PR), Marcelo Masso Quelho Filho, buscou ao procurar a ACIL. Entusiasmado para fazer algo pela cidade, ele teve “carta branca” para montar o Conselho do Jovem Empresário de Londrina (Conjove) em 2013 e também participou da conquista da cadeira Jovem Empresário na diretoria da entidade.

Os encontros semanais do Conjove eram usados para a capacitação, networking e, principalmente, para que os jovens entendessem como as políticas públicas, a legislação trabalhista e outras questões interferiam em suas empresas e o que eles poderiam fazer para melhorar o ambiente de negócios. “Deixar de ser o revolucionário do sofá, que assiste a tudo, mas não faz nada”, resume.

Além do senso de coletivo e da oportunidade de conviver com pessoas extraordinárias, o associativismo ensinou ao jovem empresário uma grande lição. “Antes, o valor do tempo não era claro para mim”, confessa Quelho. O trabalho voluntário demanda dedicação e, depois de se engajar, ele diz ter entendido que as pessoas mais ocupadas são as que mais arrumam tempo. Por isso, não há desculpa para não abraçar a causa.


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