Fonte: Valor Econômico
A revisão das Contas Nacionais com base em padrões
internacionais pode elevar o crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB) em 2012 de 1% para algo entre 1,5% e 2%, mas dificilmente
levará a alguma alteração significativa nos resultados de 2013 e
2014 e tampouco muda o cenário de 2015. A avaliação é do
Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas
(IbreFGV), que mantém sua estimativa de queda de 1% para o PIB
neste ano, assim como a perspectiva de estagnação para o ano
passado.
Na edição de março do Boletim Macro, divulgada com
exclusividade ao Valor, a coordenadora técnica do documento, Silvia
Matos, e o pesquisador Vinícius Botelho observam que grande parte do
maior crescimento real do PIB em 2011 que passou de 2,7% para
3,9% veio da revisão de 0,1% para 2,2% no avanço da indústria
de transformação.
A taxa mais robusta deste componente do PIB, segundo eles, reflete
a incorporação dos dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA), e
diverge bastante da trajetória da Pesquisa Industrial Mensal
Produção Física (PIMPF), que mostrou alta de 0,3% da atividade do
setor.
Como, porém, a metodologia dessa pesquisa também foi alterada e,
depois de então, a PIM passou a caminhar mais próxima da PIA, e o
PIB de 2013 em diante já foi construído a partir da “nova PIM”,
o desempenho da economia naquele ano, e também em 2014, não deve
ser afetado por grandes mudanças na evolução da indústria.
Isso deve ocorrer apenas em 2012, ano em que, devido à inclusão
da pesquisa anual do setor nas Contas Nacionais, a queda do PIB da
indústria de transformação deve diminuir de 2,4% para 1%, o que
pode acrescentar 0,4 ponto à taxa de crescimento do PIB total.
“A desaceleração do período Dilma Rousseff permanece, mas
talvez fosse um pouco pior sem a incorporação das mudanças
metodológicas no PIB”, diz Silvia. Em seus cálculos, após as
alterações no sistema de Contas Nacionais, a média anual de
crescimento econômico no primeiro mandato da presidente pode
aumentar de 1,6% para 2%, mas a melhora deve ficar concentrada nos
anos de 2011 e 2012, o que acentua a perda de fôlego da atividade no
período recente.
Para ela, a expansão um pouco maior registrada de 2011 a 2014 não
é muito relevante e não muda o histórico de deterioração da
política econômica no último quadriênio, processo que levou ao
aumento da inflação e do déficit em transações correntes mesmo
em meio a um quadro de desaquecimento da atividade. Esses
desequilíbrios começaram a ser corrigidos agora, mas não serão
totalmente revertidos em apenas um ano, avalia Silvia.
Depois da estabilidade prevista para o PIB em 2014 a melhora
na trajetória da construção civil como resultado das revisões
metodológicas pode acrescentar, no máximo 0,2 ponto ao resultado ,
o Ibre segue trabalhando com retração de 1% para a atividade neste
ano. A coordenadora pondera, no entanto, que as perspectivas para
este ano na verdade pioraram: a previsão anterior de queda foi
mantida, mesmo depois de o instituto transferir a expectativa de
racionamento de 5% do consumo de energia de 2015 para 2016.
Segundo a economista, a probabilidade de uma restrição
energética diminuiu devido ao forte aumento previsto para as tarifas
de eletricidade, de cerca de 60%, e ao quadro recessivo, que deve
levar a um recuo de 0,6% do consumo das famílias. Em 2016, porém, o
uso de fontes energéticas mais caras para evitar o racionamento
agora vai gerar correções ainda mais proibitivas nas contas de luz,
o que tende a enfraquecer o consumo e os investimentos, ao mesmo
tempo em que o problema estrutural de redução da oferta não será
sanado.
Além da questão energética, a pesquisadora do Ibre acrescenta
que a Petrobras “é outro elefante na sala do governo” que ainda
deve atrapalhar o crescimento mesmo após 2015. “Mesmo que a
questão fiscal seja resolvida, “não consigo ver um cenário de
crescimento em 2016 com todos os indicadores melhorando”.