Fonte: Cristiane Oya – Revista Mercado em Foco – ACIL
Dentro de um ano, os eleitores londrinenses voltam às urnas para
eleger o prefeito e os 19 vereadores. Nos bastidores, partidos e
pré-candidatos já começam a se movimentar em torno de alianças e
de coligações que garantam seus projetos e interesses políticos.
Representantes de entidades de classe ouvidos pela revista
Mercado em Foco
são unânimes em apontar a necessidade da sociedade também se
mobilizar em defesa das principais demandas públicas que devem
pautar a disputa eleitoral, principalmente para a chefia do Executivo
Municipal, na construção da Londrina que a sociedade deseja.
“Com uma sociedade cada vez
mais preocupada com o destino da cidade, o prefeito tem que
participar, discutir, pôr em prática as melhores soluções. Não
podemos mais viver o passado, quando se elegia um prefeito e, no
outro dia, ele virava as costas para a cidade e colocava em prática
o seu anseio político”, salienta o presidente da ACIL, Valter
Orsi.
Para estas
eleições municipais, Orsi ainda sugere o
uso de critérios de competência administrativa na definição das
candidaturas.
“Tanto
no
Legislativo quanto no Executivo, precisamos de pessoas modernas,
exemplos de sucesso. Candidatos que tenham experiência em gestão de
pessoas e de projetos. Temos de quebrar esse paradigma de que todo
candidato tem que ser político profissional.”
Na opinião de Orsi, um dos
principais desafios do próximo prefeito será buscar o
desenvolvimento aliado à sustentabilidade, com a consolidação dos
parques industriais e a definição sobre a área de amortecimento do
Parque Estadual Mata dos Godoy. Atualmente uma liminar em ação
ajuizada pela ONG Meio Ambiente Equilibrado suspende a instalação
de indústrias em uma área de 54 mil hectares no entorno do parque.
“É uma área nobre, temos que nos preocupar com o
desenvolvimento da cidade e do meio ambiente, mas é preciso que o
IAP (Instituto Ambiental do Paraná) defina o que pode e o que não
pode ser feito na região. Hoje nada pode, porque existe uma ação
judicial. Precisamos chegar a consenso para que possamos ter um
equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e social e o respeito
à área de preservação ambiental”, avalia.
O investimento na industrialização
também é apontado pelo presidente do Sinduscon (Sindicato da
Indústria da Construção Civil), Osmar Alves, como um gargalo que o
próximo administrador terá que enfrentar. “Temos que facilitar a
instalação de empresas em Londrina, dar incentivos, definir regras.
Está sendo uma busca da atual administração, mas precisamos
acelerar esse debate. A sociedade tem de começar a participar agora,
a discutir o que queremos e o que esperamos do nosso prefeito.”
Paralelamente, Alves aponta a
necessidade de mais investimentos em logística como fator
preponderante para o desenvolvimento. “Precisamos de logística
para atender as indústrias que aqui estão instaladas e as que
possam vir a se instalar. Assim como um aeroporto que funcione. Outro
ponto que teremos que continuar buscando é a diminuição do excesso
de burocracia na nossa cidade.”
Para o
presidente do Sincoval (Sindicato do Comércio Varejista de Londrina
e Região), Roberto Martins, é hora de avançarmos em relação ao
desenvolvimento industrial e comercial da cidade. “Agora temos que
discutir a Londrina desenvolvida tanto na parte comercial como na
industrial e na prestação de serviços. Temos que colocar em pauta
a liberdade para o funcionamento das lojas, as mudanças no Código
de Posturas, a criação de um comércio mais atrativo.”
Martins aponta ainda, como desafios
do próximo administrador, a solução de problemas de infraestrutura
viária e a falta de vagas de estacionamento no centro da cidade. “Se
queremos uma cidade pujante, precisamos de facilidades de
estacionamento.”
Segundo
Charles Vezozzo, presidente do Fórum Desenvolve Londrina, que reúne
37 entidades, a integração da sociedade fará com que os candidatos
interajam mais com a comunidade e suas expectativas. “Em países
mais desenvolvidos um dos quesitos identificados para o crescimento é
a maior participação da comunidade. A partir do momento que se
participa mais, há mais transparência e mais visualização das
ações. Londrina já mostrou pelo voto que está consciente, que
quer ética e boa gestão”, afirma. “Deve haver diálogo e
participação da comunidade. É crucial. Quem não participa não
tem condições de fazer uma avaliação.”
Vezozzo aponta
que entre as expectativas estão a maior atenção à Saúde e à
Educação públicas. “Esses itens, aliados à qualidade de vida e
ao saneamento, são fundamentais para uma população mais
desenvolvida, para uma região mais próspera e também para
trabalharmos no atrativo de indústrias. Na pesquisa que o Fórum fez
no ano passado, vimos que a população não é contra indústria,
que traz empregos e desenvolvimento. É preciso pensar nessa
questão”, finaliza.
Participação da sociedade
Para o professor de Ética e
Filosofia Política da Universidade Estadual de Londrina, Clodomiro
Bannwart, os cidadãos precisam se atentar que as questões políticas
afetam a todos. “Toda decisão política vai ter uma consequência
para a sociedade”, enfatiza. “Nestas eleições, que a política
seja encarada como um instrumento de incentivo, de planejamento, de
mobilização. Que os cidadãos possam canalizar energia para que
cada parcela social possa cumprir sua cota de responsabilidade. Temos
que ter um envolvimento maior do cidadão”, destaca.
De acordo com Bannwart, as recentes
rupturas e as descontinuidades nas administrações fizeram com que
não houvesse um planejamento estrutural da cidade de médio e de
longo prazo. “Isso começou a ser retomado na gestão (Alexandre)
Kireeff e espero que tenhamos a possibilidade de colocar no pleito
eleitoral. Não pensar somente naquilo que nos acomete de forma
emergencial. Temos que pensar na infraestrutura para que a cidade
possa estar bem planejada, com desenvolvimento, qualidade dos
serviços públicos, um pouco mais além do que somente o atendimento
a demandas do passado.”
“Estou
focado na gestão”, afirma Kireeff
Como o senhor avalia esses dois
anos e meio de administração?
De forma objetiva, as metas que nós
estabelecemos estão sendo, a maioria, cumpridas dentro do
cronograma. Com algumas exceções, que são aquelas vinculadas a
terceiros. Por exemplo, o nosso programa habitacional é dependente
do programa federal Minha Casa, Minha Vida, então quando ele não
vai bem, aí a nossa meta acaba ficando comprometida.
Quais foram os principais
desafios enfrentados até agora?
Primeiro foi
equilibrar as contas públicas que no início do mandato estavam em
condições bastante deterioradas. Tínhamos um déficit estimado em
R$ 70 milhões, a Sercomtel tinha um balanço com R$ 65 milhões de
prejuízo, tinha pedido R$ 47 milhões de aporte. Nós conseguimos
reequilibrar. Também reorganizar os dois principais serviços do
município: Educação e Saúde. Faltavam 79 salas de aula, mais de
700 professores, uma quantidade imensa de profissionais da Saúde, só
uma ambulância funcionando. Um conjunto de desafios importantes que
nós também conseguimos redirigir para a regularização. E o
terceiro principal desafio era acabar com os contratos emergenciais.
Havia uma desorganização no processo licitatório, de contratação
de serviços terceirizados gravíssimo. Aí a gente inclui coleta de
lixo, varrição, gestão da CTR (Central de Tratamento de Resíduos),
merenda escolar, transporte escolar rural, Saúde. Ao final do
primeiro ano já havia sido superado.
Quais
seriam os principais gargalos da administração até o final de
2016?
Sem
sombra de dúvida, é finalizar a reestruturação da Saúde. Não é
um desafio fácil até porque dependemos de terceiros, do governo
federal em especial. Para o tratamento da média e de alta
complexidade, se não tivermos o compromisso do governo de arcar com
suas responsabilidades, não há como o município superá-las. E
finalizar o redimensionamento das equipes da Saúde da Família e a
quantidade de profissionais em todos os serviços. Esse é o maior
desafio e que depende de orçamento, do desempenho da receita do
município, da economia das despesas correntes para gerar caixa
suficiente para isso. Além de ganhar eficiência na execução dos
serviços.
Desde o início da sua gestão, o
senhor diz que é contra a reeleição, mas está chegando o processo
eleitoral. Qual é hoje o seu posicionamento?
Eu continuo sendo contra a
reeleição. Não me coloco como candidato a reeleição. Sempre
deixei em aberto a possibilidade porque já aprendi na minha vida que
as vezes as circunstâncias acabam se modificando, mas em princípio
não sou candidato a reeleição. Estou focado na gestão e não em
qualquer tipo de articulação. Não faz parte do meu cotidiano esse
tipo de preocupação, mas percebo que a cada dia esse tema se torna
mais intenso no meu cotidiano. As pessoas me cobram. Sou cobrado
dentro do partido, no meio da rua, no avião, no ônibus. Onde quer
que eu vá, as pessoas me cobram.
Apesar da sua convicção
pessoal, dá para colocar um prazo para que haja uma definição?
Não, até porque eu tenho tantas
obrigações cotidianas, operacionais, que eu não consigo me dedicar
a avaliar essa questão. A minha prioridade é a gestão da cidade.
Sei lá quando vou tratar disso, mas em princípio continuo com a
minha posição, encerrar o meu mandato e se Deus quiser vamos ter um
prefeito melhor que eu para me suceder.