Fonte: Muriel Amaral – Revista Mercado em Foco
Quem não se lembra dos espetáculos circenses em que o artista
gira pratos de cerâmica em finas varetas de madeira e que não pode
deixá-los cair? A acrobacia requer atenção e perspicácia para que
os pratos não caiam e todo o esforço desprendido seja transformado
em cacos. É mais ou menos assim que empresários e comerciários
terão que fazer para enfrentar a maratona de feriados para não
deixar a peteca cair. Sinônimo de comemoração e descanso para
muitos trabalhadores, os vários feriados prolongados que vão
ocorrer esse ano no País podem ser traduzidos como medidas e ações
para enfrentar os dias em que o comércio e indústrias poderão
ficar parados.
Ao todo serão nove feriadões que podem prejudicar a economia
brasileira, que já não anda em passos firmes quando se fala em
aquecimento e poder de compra. O comércio de rua sofre ainda mais os
impactos dos dias parados. Segundo informações apresentadas pelo
site de notícias G1, 10% de empresas paradas significam R$ 2,36
bilhões que deixam de circular para cada feriado. Se não tem como
reverter a quantidade de feriados, o que resta é arregaçar as
mangas e pensar ações para que o impacto não seja tão grande e o
orçamento da empresa não fique no vermelho. Além de superar os
dias parados, os lojistas devem enfrentar a atitude de alguns
consumidores, que preferem não usar o dinheiro durante a semana para
utilizá-lo durante o feriado.
Foi pensando em driblar as consequências dos feriados que Vanda
Maram e a filha Jaqueline Rivail pensaram e esquematizaram medidas
para enfrentar a situação. Elas comandam duas lojas de presentes e
decoração no centro da cidade. “Os feriados prolongados criam
despesas para nós. Ainda mais para empresas pequenas como as
nossas”, alega Vanda. Para desafiar a maratona de dias parados, a
empresária não idealizou nada em longo prazo; as medidas são
tomadas de acordo com o planejamento semanal.
“Quando percebermos
que o movimento está fraco, dispensamos mais cedo os funcionários
no sábado ou nos dias após o feriado. Assim, não temos os custos
de hora extra, transporte e alimentação, por exemplo”, explica.
Ela lembra que o mês de fevereiro fechou com baixo crescimento por
conta do feriado de Carnaval, mas as lojas Puro Aroma estavam de
portas abertas no sábado e segunda-feira para quem quisesse fazer
compras. “Mesmo com essa situação embaraçosa, não podemos
fechar as portas nesses dias porque temos que respeitar o cliente,
temos um compromisso com aqueles que vêm à loja nesses dias”,
completa.
Para Fábio Ajita, sócio-proprietário das Casas Ajita e de
outras lojas que atuam no comércio de calçados, as unidades que
ficam na rua sofrem com o impacto de dias parados. De acordo com o
empresário, o planejamento das lojas não contempla medidas para os
feriados, pois as ações são voltadas mais para atender datas
comemorativas. Todavia, ele tem um pensamento diferente sobre os
feriados no ritmo de trabalho. “É importante fazer essas pausas na
rotina e na vida. Logicamente que os feriados criam um ônus porque
aquele dia deixamos de vender, mas se a economia estiver aquecida e a
pessoa tiver dinheiro e condições de compra, em longo prazo essa
ausência pode ser sanada”, explica Ajita. “Pessoas de outras
cidades vêm a Londrina para fazer compras, isso contribui bastante
para as vendas”, completa o empresário quando fala sobre os
feriados municipais.
Para se ter uma ideia da dimensão da amplitude da rede de loja,
são oito lojas que se encontram em Londrina e região, sendo que
algumas dessas lojas ficam em shoppings, mas a grande maioria se
localiza na rua. Sobre a abertura de lojas em shoppings, por ser uma
experiência ainda muito recente, o empresário não soube mensurar a
diferença entre as vendas realizadas nesses espaços ou nas lojas de
ruas. “Preciso de mais um ano para verificar os números das vendas
nos dois locais”, afirma.
Com outro pensamento empresarial, até porque as condições são
outras, a grande quantidade de feriados é algo que consta nos
planejamentos da Angelus, indústria londrinense que fabrica produtos
odontológicos, pois os dias parados impactam de forma significativa
na produção da empresa. Como a Angelus exporta para mais de 80
países, a produção e o atendimento a esses clientes externos não
podem parar por conta dos feriados aqui no Brasil.
“No último trimestre de cada ano, a empresa realiza um
planejamento anual em que são contemplados os dias de feriados e
toda a produtividade para o ano seguinte”, conta Ester Falaschi,
gerente de RH da empresa. Entre as principais medidas da Angelus está
identificar os itens que apresentam maior urgência de produção
para que o atendimento desses produtos não seja comprometido nos
dias de baixa produtividade. De acordo com Ester, nos dias de baixa
produtividade, como é o caso das semanas que têm feriados, a
produção da empresa é voltada para composição de um estoque para
atender, principalmente, aos mercados do exterior, o que garante um
giro de produto e não compromete o abastecimento dos produtos e
gargalos na cadeia produtiva.