Como encarar 2016?

Fonte: Lauriano Benazzi e Beatriz Amaro – Revista Mercado em Foco – ACIL É senso comum que crises econômicas são cíclicas e planejamento e investimentos conscientes são necessários para atravessá-las […]

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Fonte: Lauriano Benazzi e Beatriz Amaro – Revista Mercado em Foco – ACIL


É senso comum que crises econômicas são
cíclicas e planejamento e investimentos conscientes são necessários
para atravessá-las ou sobreviver a elas. Para apontar tendências e
avaliar o cenário para 2016, a revista Mercado em Foco ouviu três
especialistas: Mario Nei Pacagnan, CEO da Litz Consultoria, Pesquisa
e Conhecimento; Marco Aurélio Kumura, executivo na área de
estratégia e marketing; e Carlos Eduardo Boni, professor de Economia
na Universidade Norte do Paraná (Unopar). Eles traçam um
diagnóstico da economia nacional e do arranjo produtivo local e
apontam metas essenciais para o reaquecimento da indústria, comércio
e serviços. Todas as avaliações têm em comum uma questão
inquietante: e você, empresário, fez sua lição de casa para este
ano?


“Devemos olhar mais para o mercado,  para
nossos clientes, para os concorrentes, para o negócio em si e
questionar pontos relevantes” (Mario Nei Pacagnan, CEO da Litz
Consultoria, Pesquisa e Conhecimento)


A principal atitude a ser tomada pela empresa na
crise é investir em conhecimento e informação. Mario Nei Pacagnan
vai direto ao ponto. “Devemos olhar mais para o mercado, para
nossos clientes, para os concorrentes, para o negócio em si e
questionar pontos relevantes.” A inovação é um dos alicerces
para o sucesso da empresa contemporânea, que não pode deixar de
investir em treinamentos, sistemas de informação, pesquisas e novas
tecnologias. “Hoje em dia é impossível conceber um negócio que
não tenha uma estrutura de TI por trás”, ele avalia. “Em
Londrina, a implantação do APL de TI já trouxe resultados
positivos.”

Segundo Pacagnan, a falta de planejamento é um
dos problemas culturais característicos do brasileiro, que “olha
só o tempo da bonança”. “É um povo que acredita muito na
sorte, no milagre, no improviso e acha que tudo vai dar certo.”
Diante de um cenário de crise, não há mais espaço para
improvisação. “O consumidor tem uma grande quantidade de escolhas
à disposição e consegue acessar informações com facilidade. O
empresário precisa ser efetivo em suas ações”, alerta.

A concorrência e a ansiedade dos consumidores
exigem atenção, por parte do empresário, à perspectiva de
renovação de seu produto ou negócio. Além disso, o diálogo dos
gestores com suas respectivas equipes é de extrema importância para
atingir o sucesso. “As pessoas gostam de ser lideradas por quem tem
energia positiva e visão clara do que quer para o futuro da
empresa”, explica o consultor.

O fim da crise está intrinsecamente ligado ao
crescimento socioeconômico do País. Para que o Brasil cresça,
Pacagnan diz que é preciso investir em educação, cultura e
cidadania. “O que mantém um negócio em expansão é o
investimento em conhecimento – isso ninguém te tira. A crise
também é momento de aprendizagem.”


“O que fazer, como fazer, para quem fazer? Este
modelo de negócio traz algum risco futuro? O consumo vai mudar? Para
responder a isso em períodos de crise, é preciso inovar” (Marco
Aurélio Kumura, executivo na área de estratégia e marketing)


Marco Aurélio Kumura, executivo da área de
estratégia e marketing, reforça a importância do investimento em
informação. “O empresário precisa estar bem informado para
decidir. Nesse cenário de incertezas, quem sai na frente é quem
toma decisões melhores, quem tem mais informações sobre produtos,
processos e públicos.” Para ele, a crise é uma oportunidade para
que o empresário repense suas ações – além do conjunto da
economia, eventualmente os negócios de um determinado segmento
enfrentam crises estruturais inerentes ao setor.

Para os empresários que buscam resultados acima
da média, o planejamento é fundamental. Ao planejar, eles vão se
deparar com dados estimulantes, como o poder de consumo do mercado
interno, cuja classe média emergente é estimada em 100 milhões de
pessoas. “Esse público vai consumir algum tipo de produto”, diz
Kumura, que faz comparações com outros mercados. “Temos uma das
maiores economias do mundo. O PIB do interior do Estado de São Paulo
equivale ao PIB da Argentina. O PIB da Grande Campinas equivale ao do
Chile, e o PIB do Bairro de Santo Amaro, em São Paulo, equivale ao
do Uruguai.”

Dados como estes comprovam que há espaço para
crescimento. Segundo Kumura, os empresários precisam levantar
algumas questões com suas equipes: o que fazer, como fazer, para
quem fazer? este modelo de negócio traz algum risco futuro? o
consumo vai mudar? Para responder estas perguntas em períodos de
crise, é preciso inovar. “Um dos pontos que pode levar ao sucesso
é a mudança de mindset (‘mapa metal’ que abriga visões
pré-concebidas), da forma de pensar, expandindo o leque de
possibilidades e soluções”, explica.

Fazer uma análise crítica do portfólio da
empresa faz parte do processo de reinvenção. “Se as pessoas
passaram a consumir produtos mais baratos, será que o portfólio da
empresa não precisa ser repensado? É uma oportunidade de tirar
produtos de linha e aumentar a produtividade da fábrica”, destaca.

Para formar uma equipe competitiva, os empresários
precisam aplicar seu capital em “inteligência humana”. “Não
adianta ter apenas dinheiro, fábricas e máquinas. É importante
trazer os melhores talentos”, salienta Kumura. Outro fator que
merece atenção é a flexibilidade da fábrica. Para Kumura, “se o
empresário se foca apenas em um segmento e este segmento vai mal,
toda a cadeia é quebrada”. Os casos de empresas – e cidades,
inclusive – que segmentaram sua indústria e tornaram-se
vulneráveis às oscilações do mercado são muito comuns.

Em 2016, é fundamental que o empresariado aja de
acordo com o que o momento vai exigir dele. “O que define um
empresário é a capacidade de decidir. Não adianta olhar para a
crise e dizer que a situação está ruim. Crises vêm e vão e,
quando acabam, é preciso estar melhor adaptado para sair à frente.
As demandas reprimidas devem ser atendidas”, avalia o executivo.


“2016 marcará uma fase de recuperação para
quem fez a lição de casa e está preparado” (Carlos Eduardo Boni,
professor de Economia na Unopar)


Para Carlos Eduardo Boni, 2016 será um período
de transição e o empresário que se ajustar terá mais vantagens
competitivas. “Este ano marcará uma fase de recuperação para
quem fez a lição de casa e está preparado”, diz. Boni salienta
que, nos últimos tempos, marcados pela crise, o perfil do público
consumidor mudou, ou seja, tornou-se mais crítico – as informações
estão por toda parte, portanto, “é importante que o ofertante do
produto acompanhe essas mudanças”.

Por parte do empresariado, é necessário o ajuste
dos processos de produção. “Inovação é fundamental”, propõe,
e destaca que parcerias com instituições de fomento tecnológico
são tão importantes quanto investir em conhecimento. “A indústria
será competitiva a partir do momento em que se tornar inovadora.”

Além do público consumidor interno, o
empresariado precisa estar atento à expansão dos mercados. “Nossa
capacidade produtiva é muito maior do que nossa capacidade de
consumo. Acordos empresariais são essenciais para que o empresário
maximize sua produção”, explica o economista, que aponta que as
exportações têm salvado a balança comercial do Brasil há
bastante tempo.

Em Londrina, “pensar na cidade é pensar em
segmentar o mercado. A indústria ainda é tímida, e é importante
investir em empreendimentos que deem condições para a geração de
empregos no setor”, ressalta Boni. O professor explica que as
cidades com maior número de indústrias tendem a ter uma população
com salários melhores, protegida das intempéries econômicas. “A
renda que deriva de serviços é menor e mais frágil em períodos de
crises.”

Ainda que o momento atual seja de aflição e
angústia para a economia nacional, Boni defende que “há condições
para sair da crise”. “São sacrifícios que cada um terá que
fazer pelo seu negócio – cortar custos e reduzir gastos, mas, em
contrapartida, manter-se no mercado.”


Ruim para uns, bom para outros


Se a crise afeta alguns setores da economia, em
compensação, beneficia outros. Marco Aurélio Kumura considera que
os segmentos voltados à exportação terão bons resultados, tais
como as áreas de autopeças, de reposição de peças para
manutenção de máquinas e de equipamentos industriais. Na rota de
fuga da crise, segmentos ligados à tecnologia e ao desenvolvimento
de softwares ocuparão lugares de destaque.

Por outro lado, explica Mario Nei Pacagnan, linhas
de produção ou de venda que envolvem commodities, produtos massivos
e com grande similaridade entre os concorrentes, sofrerão mais
impacto dos indicadores negativos e requerem atenção especial de
seus gestores. “Quando se trabalha com commodity, é difícil
mostrar algum diferencial. Para deslocar os concorrentes, é preciso
agregar uma técnica inovadora, um novo conhecimento.”

Carlos Eduardo Boni destaca que, a exemplo de anos
anteriores, o setor agrícola tende a prosperar. A macrorregião de
Londrina é favorecida, uma vez que muitos recursos de cidades
vizinhas vêm para a cidade. O setor de serviços, por sua vez, mesmo
sendo dominante na economia local, requer o desenvolvimento de
estratégias por parte do empresariado. “É preciso pensar em
produtos customizados de acordo com o perfil do cliente”, diz Boni.
Outra regra tradicional do varejo, em tempos de crise, é a redução
de preços. “O preço, apesar de não ser o único fator
determinante da demanda, é o mais importante.”

‘Fundo de reserva contra a crise’


Em 2015, a decadência da economia assombrou o
Brasil – e as projeções para o próximo ano são igualmente
pessimistas. Apesar da dificuldade em enxergar uma possível reversão
do quadro atual, cabe às grandes cooperativas repensar sua matriz
produtiva, ou seja, adequar-se às demandas econômicas de um país
em crise.

O Brasil é notável exportador de commodities,
cujos preços, fixados nas Bolsas de Mercadorias, sofrem com a
inconstância inerente aos tempos de economia desfavorável. “Uma
proposta para lidar com esta volatilidade é a criação de um fundo
de reserva constituído por recursos oriundos do próprio processo de
comercialização, formando um colchão de amortecimento para
minimizar as oscilações de mercado”, propõe Marcos Rambalducci,
consultor econômico da ACIL. “Seria estabelecido um preço mínimo
de garantia de rentabilidade ao produtor. Caso o preço no mercado
internacional remunerasse acima deste valor, haveria uma retenção
progressiva de dado percentual sobre este excedente; quanto maior o
excedente, maior o percentual retido.”

Outro problema enfrentado pelo País é a
dependência da demanda chinesa para exportação de commodities. A
China, no entanto, tenta mudar suas diretrizes e investir no aumento
do mercado do consumo interno. “É evidente que a queda no apetite
da China fez com que o preço das commodities despencasse. De
qualquer forma, o país é incapaz de produzir tudo o que consome, e
estas commodities permanecerão em sua pauta de importações”,
afirma Rambalducci. “Compete ao Brasil tecer políticas que foquem
na produção de valor por meio da transformação de nossas matérias
primas em bens semi e manufaturados.” É um processo que leva tempo
até surtir efeito. “Enquanto isso, precisaremos voltar nossas
atenções a mercados capazes de absorver nossa produção de
matérias primas, como alguns países da África, a Índia e a
própria China, que merece ser vista tanto como um demandante de
outras commodities quanto um possível parceiro da produção
industrial”, explica o consultor.

É preciso retomar um cenário de estabilidade na
economia do Brasil. Para Rambalducci, “isto significa equacionar as
contas nacionais e retornar à ortodoxia do tripé macroeconômico
calcado em câmbio flutuante, superávit primário e controle da
inflação”.

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