Scale-ups: otimismo de alto impacto

Fonte: Lúcio Flávio Moura – Revista Mercado em Foco – ACIL Repetida tantas vezes, a palavra crise poderia funcionar como um espantalho no campo dos bons negócios. Após a estagnação […]

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Fonte: Lúcio Flávio Moura – Revista Mercado em Foco – ACIL


Repetida tantas vezes, a palavra
crise poderia funcionar como um espantalho no campo dos bons
negócios. Após a estagnação de 2014, o crescimento negativo do
ano passado e as perspectivas sombrias para 2016, de fato há os que
engavetam projetos e adiam sonhos. Mas o círculo vicioso pode ser
quebrado pela coragem de inventar produtos ou modelos pioneiros,
driblando as condições mais adversas. Um dos maiores símbolos
desta mentalidade são as
scale-ups,
jovens empresas que usam a inovação para crescer rápido e gerar
empregos.

Em Londrina, segundo um estudo
publicado pela Endeavor – organização internacional sem fins
lucrativos que fomenta os chamados empreendimentos de alto impacto –,
este segmento gerou 40% dos novos postos de trabalho em 2015 mesmo
representando menos de 2% do total das empresas. A Endeavor também
divulgou recentemente um comparativo de 32 cidades brasileiras, no
qual Londrina figura na 17ª posição geral e na 7ª entre os polos
do interior.

A cidade passou a integrar a
lista da Endeavor graças ao trabalho de líderes empresariais como
George Hiraiwa, envolvido diretamente nos esforços que mantêm a
cultura de inovação viva na cidade. Ele apoia projetos, monitora
start-ups
e trabalha na costura de um sistema que congrega instituições de
fomento, potenciais investidores e futuros empreendedores. “Temos
uma sociedade civil organizada ativa e uma administração municipal
atenta a este movimento. Com o poder público ainda mais engajado,
poderemos nos fortalecer, encontrar caminhos”, avalia Hiraiwa,
ex-presidente da ACIL.

Para Alexandre Farina, executivo
da agência de desenvolvimento Terra Roxa, a Região Metropolitana de
Londrina apresenta uma combinação de fatores capaz de torná-la
competitiva para negócios de alto impacto. “Temos mão de obra
qualificada a baixo custo em comparação com os grandes centros do
País, além de qualidade de vida e infraestrutura necessária”,
ele enumera.

Outro trunfo de Londrina é a
cultura empreendedora da cidade, que surgiu a partir de um grande
empreendimento privado, a Companhia de Terras do Norte do Paraná, e
que nas primeiras décadas catalisou um exército de trabalhadores em
busca de riqueza e trabalho. “A cidade é um exemplo visual da
força empreendedora, com seu
skyline
tomado por edifícios que impressiona qualquer visitante”, lembra
Farina.

Mas a pujança dos visionários
de Londrina vai muito além da construção civil e das suas torres
imponentes. Mercado em
Foco
conta, nas próximas
páginas, histórias de pessoas que estão fazendo a roda da economia
girar a partir de boas ideias e de um faro apurado, virtudes
recompensadas com um bom dinheiro.

Fundada em 1994 e já conhecida
como um caso de sucesso e exemplo a ser seguido, a Angelus Produtos
Odontológicos, do empresário Roberto Queiroz Martins Alcântara,
vai galgando degraus e influenciando novas experiências. “Sempre
procuramos a inovação, desde o primeiro momento, e acreditamos que
poderíamos atuar no mercado global a partir de Londrina”, conta o
empresário, que também milita no sistema de fomento para as
scale-ups
na presidência da Associação de Desenvolvimento Tecnológico de
Londrina (Adetec).

A empresa se associou à gigante
inglesa Prima Dental para uma nova planta industrial, ativada no fim
do ano passado. A iniciativa deve se converter em um índice de
crescimento maior que o dos últimos anos, na casa dos 20%, e
garantir uma receita de mais de R$ 30 milhões em 2016 (metade
angariada em exportações, incluindo mercados exigentes como o
japonês e o norte-americano). “Nos relacionamos com instituições
de pesquisa e temos uma equipe composta por mestres e doutor
es.
A chave do nosso crescimento é a inovação”, afirma Alcântara.

E
alerta: “Quem inova tem mais facilidade a crédito subsidiado e
acesso ao mercado exterior, que provoca a visão de longo prazo e a
melhora dos produtos e serviços. O que está faltando para

crescermos ainda mais é preparo dos empreendedores. Mas há um
movimento forte em Londrina para resolvermos todos os gargalos”.

Onde
investir em 2016

De acordo com um levantamento do
Sebrae nacional, os setores com maior potencial de retorno em 2016
são aqueles que vão em direção ao consumo com um custo-benefício
melhor, efeito colateral de uma economia desaquecida: conserto de
carros e motos; conserto de computadores e equipamentos; recarga de
cartuchos para impressoras; bijuterias; preparo de comida pronta para
consumo em casa; confecção e comércio de roupas; e salões de
beleza, clínicas de estética e comércio de cosméticos.

Saúde
de ferro na incubadora

A Yuze surgiu em abril de 2012 a
partir de duas constatações, que anos depois se mostraram
certeiras. Novas tecnologias em cerâmica abriam possibilidades na
indústria e o setor de utilidades domésticas estava carente de
inovação. Somando estes fatores,
Guilherme Eiras, graduado em
engenharia mecânica, hoje com 27
anos, decidiu desenvolver, produzir e comercializar uma linha calcada
na funcionalidade de facas, moedores, afiadores, abridores de latas e
garrafas, usando como base uma cerâmica de alta durabilidade. “A
gente sabia que era um mercado muito amplo e com grande variedade de
produtos, mas com espaço para inovação”, conta ele.

Com design e materiais diferentes
da concorrência, apostando na fome por praticidade e sofisticação
de uma nova geração de cozinheiros amadores e profissionais, a Yuze
chegou ao mercado com aceitação instantânea. No primeiro ano
completo em atividade, 2013, as encomendas cresceram 300%. No ano
seguinte, o ritmo se manteve e o faturamento dobrou. “Em 2015, a
demanda continuou aquecida e demos outro salto de 80%. Este ano, a
gente projeta um índice semelhante.”

O faturamento já é considerável
– R$ 1,6 milhão no ano passado –, mas a Yuze ainda tem uma
instalação enxuta, com apenas cinco funcionários.

No modelo de negócio escolhido
por Eiras, a fabricação e a montagem das peças são feitas sob
encomenda em plantas industriais no Brasil e na Ásia. A expansão em
2016 passa pelas vendas no exterior, com a participação em feiras
na Europa.
“Sempre pensamos no mercado como algo global”, afirma o
empreendedor, que usa o slogan “y
our
day, your way

(“seu dia, seu jeito”) para resumir o conceito dos produtos.

A scale-up
londrinense já sabe muito bem aonde quer chegar. O espaço modesto
que o empreendimento ocupa no campus da Universidade Estadual de
Londrina (UEL), na incubadora da Agência de Inovação, a Aintec,
deve se tornar insuficiente em pouco tempo. Há um plano de
transferência para um barracão industrial. “É provável que
tenhamos uma pequena linha de montagem na nova sede, mas
continuaremos com foco na produtividade dos colaboradores, que eu
acho uma coisa muito importante para quem empreende no Brasil hoje”,
afirma Eiras.

Em 2018, com novos aportes de
investimento, a Yuze quer implantar uma rede de lojas franqueadas.
“Queremos que o cliente tenha um lugar exclusivo para a experiência
de ver e conhecer melhor nossos produtos”, explica o engenheiro
mecânico. Hoje, boa parte dos clientes usa o comércio eletrônico
para adquirir as peças.

Sobre
crescer em uma economia em recessão, Guilherme Eiras tem uma frase
na ponta da língua: “Nunca pensamos em crise”. Ele explica que
“ela só é um fator a mais quando você não acredita no negócio.
Se eu tivesse temor por causa da crise, teríamos fechado a empresa
em poucos meses”.

O boom na venda de novos
sorrisos

Durante o curso de Odontologia na
UEL, o estudante Fernando Massi já se diferenciava dos colegas por
seu tino comercial – vendia materiais para consultórios no pouco
tempo livre que lhe restava. A percepção de que tinha um talento
incomum entre os dentistas o fez desenvolver um modelo de negócios
pioneiro e que vai influenciar toda a cadeia de atendimento
odontológico no País, segundo suas próprias previsões. “É
uma área na qual você tem que estimular o cliente. Apenas 5% deles
procuram o serviço espontaneamente. E os dentistas não estão
preparados para fazer a divulgação e formar sua clientela”,
explica Massi.

Hoje ele comanda uma gigante, a
Ortodontic Center, fundada em Londrina em 1999. A empresa de Massi
abraçou a inovação para deslanchar e obteve resultados que
comprovaram suas certezas da época de faculdade.

Desde 2004, ele multiplica
franquias para consultórios País afora. “Monto uma estrutura
padrão para o investidor e passo todo o
know-how
para que ele ganhe dinheiro. Ele contrata os profissionais para
atender os clientes e se beneficia com um sólido suporte de
marketing e gestão, que faz desaparecer a figura do intermediário”,
afirma o empresário.

Com uma rentabilidade prometida
de 30% em relação ao faturamento bruto, o negócio seduziu muita
gente e já é um exemplo clássico de scale-up.
A Ortodontic Center já atua em 19 estados, com 200 unidades de
atendimento, entre próprias e franqueadas (que repassam 10% do
faturamento para o franqueador). A experiência gerou seis mil postos
de trabalho diretos, 2,5 mil apenas para ortodontistas (ramo
conhecido pelos aparelhos corretores). “Em três anos, crescemos
pouco menos de 200% em faturamento, número de pontos de atendimento
e postos de trabalho”, revela. Neste ano, a receita deve
ultrapassar os R$ 100 milhões.

Curiosamente, Massi atribui
grande parte do seu sucesso ao desaquecimento do consumo que começou
em 2013. “Houve uma explosão de consumo no Brasil até o início
desta década e suas consequências ensinaram muito ao mercado”,
avalia. “As famílias da classe B, por exemplo, estão mais
equipadas: têm televisões grandes e cheias de recursos,
computadores,
tablets,
celulares e bons automóveis, e já não há um deslumbramento com o
supérfluo em decorrência da crise. Elas agora querem gastar com
coisas mais importantes, como saúde e estética, e é o que
oferecemos com qualidade e bons preços.”

A escalada da Arkivus

Até mesmo o maior problema atual da Arkivus Soluções Tecnológicas, neste início de 2016, é uma dor de cabeça que muitas empresas tradicionais gostariam de ter nestes tempos em que só se fala em crise: a dificuldade para ocupar três novos postos de trabalho na sua equipe de vendas, sobrecarregada por uma demanda pra lá de aquecida. A scale-up londrinense do setor de tecnologia da informação (TI) projeta crescimento de quase 60% no faturamento – ritmo que se mantém há, pelo menos, três anos – vendendo agilidade, redução de custos, melhoria de produtividade e segurança para seus clientes através de softwares voltados à gestão de documentos. A Arkivus já digitaliza a papelada de 126 clientes, a maioria do mercado varejista, e oferece, por exemplo, a identificação instantânea de compradores que usam documentos falsos para fazer crediário em lojas. “Com uma webcam é possível descobrir o fraudador por biometria facial”, conta Marcelo Stuami Zanelatto, que fundou a empresa em 2008. A nova tecnologia agradou o mercado que hoje é a âncora do portfólio da Arkivus. A empresa já mantém um arquivo de 4 milhões de fisionomias no seu banco de dados e o software está instalado em 1,2 mil pontos de vendas em 21 estados. “Este ano, vamos apostar na expansão para plataformas móveis”, revela.

As scale-ups

São empresas que crescem muito,
pelo menos 20% ao ano, por três anos consecutivos (em número de
funcionários ou receita). De acordo com o IBGE, o Brasil tem
aproximadamente 35 mil scale-ups,
menos de 1% do total de empresas do País. Apesar disso, elas são
responsáveis por quase 60% dos novos empregos gerados nos últimos
anos (o equivalente a 3,3 milhões).

As 20 melhores cidades para
empreendimentos com crescimento acelerado, segundo estudo da ONG
Endeavor.

1º São Paulo

2º Florianópolis

3º Vitória

4º Recife

5º Campinas

6º São José dos Campos

7º Porto Alegre

8º Curitiba

9º Joinville

10º Rio de Janeiro

11º Maringá

12º Ribeirão Preto/Belo
Horizonte

14º Goiânia

15º Sorocaba

16º Caxias do Sul

17º Londrina

18º Uberlândia

19º Brasília

20º Blumenau


* Como é a medição

O índice da Endeavor é obtido a
partir de uma cesta com 55 indicadores municipais em sete segmentos:
ambiente regulatório, infraestrutura, mercado, acesso a capital,
inovação, capital humano e cultura empreendedora.

O QUE A PESQUISA REVELA SOBRE
LONDRINA

Cultura
empreendedora

71% dos londrinenses reconhecem
empreendedores como pessoas de sucesso. Este índice é de 67% entre
os maringaenses e 61% entre os curitibanos.

Baixo Custo

Está entre as cinco melhores
cidades nos gastos com impostos, 12º com imóveis e 13º com mão de
obra.
O valor do metro quadrado é 25% menor que a média.
A
alíquota média do IPTU é de 1%, contra 3% em Blumenau e
Sorocaba.
Contratar um dirigente em Londrina é 20% mais barato
que a média.

Paradoxo na educação

Londrina é a 14ª cidade com
mais alunos concluindo cursos em instituições de excelência (com
notas 4 e 5 no Enade). No entanto, a proporção do total de
formandos em cursos de alta qualidade é a 30ª mais baixa (8% do
total, enquanto a média é de 23% e chega a quase 60% em
Florianópolis).

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