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Self Storage: a terceirização do armazenamento

Fonte: Revista Mercado em Foco – ACIL – Por Celso Felizardo

O acelerado processo de verticalização registrado em Londrina e em outras grandes cidades do país nas últimas décadas acarretou em mudanças no perfil das famílias. A tradicional casa ampla, com vários cômodos, deu lugar a espaços mais compactos. Até mesmo as empresas têm optado pelas modernas salas comerciais nos edifícios. Preferência entre o novo público, principalmente pelo quesito segurança, o apartamento muitas vezes não dá conta de comportar todos os pertences dos moradores. Nos escritórios, também falta espaço para o estoque.

A solução para a insuficiência de metros quadrados pode estar em um conceito nascido nos Estados Unidos nos anos 1960, mas que só agora começa a se popularizar no Brasil: o self storage, que em uma tradução livre quer dizer auto-armazenamento. Basicamente, a atividade é caracterizada pela locação de unidades autônomas para a autogestão na guarda e organização de qualquer tipo de bem, seja móveis, objetos, documentos, estoques ou coleções.

Os boxes podem ser alugados por pessoas físicas ou jurídicas, de acordo com a necessidade apresentada. Na maioria das unidades de armazenamento, o cliente ganha um cartão ou uma senha eletrônica que dá acesso ao box. Normalmente, ele utiliza o próprio cadeado, tranca o box e leva a chave. Ninguém mais tem acesso aos bens armazenados. As empresas de self storage disponibilizam vários tamanhos de boxes que podem ser alugados mensalmente ou, em alguns casos, até em períodos menores.

Luiz Henrique Salle, de 30 anos, é proprietário do "Meu Espaço Self Storage". Ele é pioneiro da atividade em Londrina. A vocação para o negócio nasceu com a empresa de mudanças da família que ele ajudava a administrar. "A gente já prestava um serviço parecido, de guardar os móveis dos clientes. Foi então que comecei a buscar informação sobre o self storage, que foi tema da minha monografia da conclusão do meu curso na faculdade, em 2009", conta. Dois anos depois de formado, ele encerrou as atividades de mudança para focar no armazenamento. "Foi um processo natural que deu muito certo", analisa.

Em 2014, Salle expandiu o negócio e inaugurou em anexo à estrutura principal o segundo galpão, na Avenida São João, zona leste de Londrina. Atualmente, a empresa tem a capacidade de 340 boxes de armazenamento. Ele conta que não há um perfil predominante de cliente. "O público é diverso. São pessoas que estão em processo de mudança, ou que se divorciaram. Há também empresas que armazenam estoque, arquivo morto e outros tipos de documentos", lista. Na Meu Espaço, os boxes variam entre 6 m2 e 30 m2 e o prazo mínimo para a locação é de uma semana. "Apesar da possibilidade do contrato semanal, 90% dos clientes preferem a opção mensal", detalha.

Um dos primeiros clientes da self storage de Salle é Rodrigo Augusto Marques, de 42 anos, proprietário da Importadora Brasslink. A parceria, lembra ele, começou há seis anos. "No início, nosso estoque era pequeno, então apelamos para uma solução caseira. Com o passar do tempo, o volume aumentou e precisamos do armazenamento profissional", lembra. Em 2011, Marques morava em São Paulo e chegou a procurar o serviço lá. Mudou de ideia quando descobriu a "Meu Espaço" em Londrina. "Era o que precisávamos. Boxes excelentes, onde conseguimos dimensionar o estoque. A segurança, limpeza e praticidade valem o custo benefício", elogia.

MERCADO EM EXPANSÃO

O self storage é a atividade que mais cresce no setor imobiliário americano. De acordo com a Associação Brasileira de Self Storage (Asbrass), os Estados Unidos tem 50 mil unidades, equivalente a 13 milhões de metros quadrados. No Brasil, o self storage conta com cerca de 100 empresas que oferecem o total de 170 mil metros quadrados. De olho neste mercado em expansão, o londrinense Leopoldo Pegoraro, de 24 anos, resolveu apostar no auto-armazenamento ao montar o seu primeiro negócio. Em maio deste ano ele abriu a Superbox ,na Rodovia Carlos João Strass, entre a região central e a zona norte de Londrina.

O galpão em funcionamento tem 31 boxes, mas Pegoraro conta que já adquiriu outros dois barracões no mesmo terreno para futuras ampliações. "A expectativa é muito boa. Em poucos meses de funcionamento já tivemos uma grande procura e o nível de satisfação dos clientes também é alto", diz. Segundo Pegoraro, a decisão de montar a empresa se deu após muita pesquisa sobre o assunto. "No ano passado tive contato com o conceito e vi que esse mercado está em franca ascensão em todo o mundo, inclusive no Brasil, nos principais centros. Ao analisar, é possível perceber uma demanda muito clara em Londrina", avalia.

Outra aposta da Superbox que tem atraído o interesse das empresas é a cessão de endereço fiscal e comercial. "Muitos empresários não vêem vantagem em manter um escritório comercial, sendo que pela natureza do seu negócio, tudo pode ser resolvido por meio eletrônico, por exemplo", relata. De acordo com Pegoraro, os órgãos de fiscalização exigem que o estoque tenha um espaço mínimo de 6 m2 e que ele fique em um lugar acessível a qualquer hora para os fiscais. "Então, isso não pode estar acomodado em um imóvel residencial. Aqui, nós fornecemos o local físico para a obtenção de CNPJ, inscrição estadual e expedição de alvará de funcionamento para as empresas", destaca.

As facilidades do self storage fizeram com que Vitor Cruciol Vecchiatti, dono da ConfortDoor, empresa especializada em vedação de portas, procurasse a "terceirização" do seu estoque. Por quatro anos, desde a fundação da empresa, ele fez o armazenamento dos materiais em um barracão alugado. Quando descobriu o self storage, não pensou duas vezes. "O que me conquistou logo de cara na Superbox foi a flexibilidade. No barracão, eu armazenava 1,5 mil m2 em meses de pico, mas tinha época em que o estoque caia para 500 m2. Sem a flexibilidade, eu sempre pagava a manutenção pela carga máxima. Aqui não, vou alugando os boxes conforme minha necessidade de momento. Vale muito a pena", recomenda. "Sem contar que é um serviço profissional, com ambiente limpo, segurança, tudo é monitorado por câmeras", acrescenta.

INTERATIVIDADE

Além das empresas que oferecem o serviço de armazenamento, o self storage também tem chamado a atenção das start-ups. Uma plataforma digital londrinense tem se destacado no cenário nacional pela pretensão de se tornar um "Airbnb" do armazenamento: a Cabemcasa. Assim como na famosa ferramenta de hospedagem, o site reúne anúncios de quem tem espaço vago em casa. A diferença é que, em vez de ser um "anfitrião", a pessoa passa a se tornar um "guardião" de objetos de terceiros.

Um dos idealizadores da plataforma, João Paulo Albuquerque, de 30 anos, conta que o projeto ainda está em fase embrionária, mas que tem grandes chances de se tornar viável. "Lançamos o serviço há dois meses e já temos 70 anúncios espalhados por todo o país. Apesar de ser uma start-up londrinense, nosso foco é todo o mercado nacional. No início, principalmente São Paulo", diz. Quando as duas partes fecham negócio, a Cabemcasa fica com uma comissão de 20% sobre o aluguel do espaço.

Segundo Albuquerque, a ideia de criar a Cabemcasa nasceu quando precisou reformar um pub que mantém na zona sul da cidade. "Precisei levar os móveis para um depósito distante e vi muitas casas na redondeza que tinham espaço suficiente para acomodar temporariamente meus pertences. Foi então que vi uma oportunidade", lembra. Para o empreendedor, o maior desafio é romper a cultura da desconfiança. "Tudo que é novo assusta um pouco. Foi assim com outras plataformas que agora estão se mostrando eficientes", compara. "O guardião tem que apresentar uma lista de documentos e, além disso, oferecemos um seguro próprio de até R$ 2 mil para quem vai guardar seus objetos. O processo envolve toda a segurança necessária", assegura.

Para Albuquerque, este é um processo sem volta. "As mudanças são inevitáveis. O mercado tradicional tem passado por fortes transformações e as pessoas, principalmente o empresariado, têm que ter a cabeça aberta e acompanhar essas evoluções", aconselha.


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