Fonte: Gazeta do Povo com Estadão Conteúdo
Depois dos esclarecimentos, será promovida audiência com dois ex-dirigentes, entre eles o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, que era presidente da subsidiária na época da compra.
O relator do processo no TCU, ministro José Jorge, cita em seu voto que o sobrepreço da compra da usina de Marialva, região Norte do Paraná, é estimado em R$ 63 milhões ao todo. Isso porque a usina havia sido adquirida pelo grupo BSBios por R$ 37 milhões. Seis meses depois, a Petrobras comprou metade da propriedade da usina por R$ 55 milhões.
O ministro pondera que, na época da compra, as obras da usina estavam cerca de 75% concluídas. O preço final da obra, nesta projeção, seria de R$ 47,6 milhões. A projeção de R$ 110 milhões pela usina inteira, portanto, equivale a mais que o dobro do preço original. Considerando apenas 50% da obra, o sobrepreço seria de R$ 31,2 milhões.
A auditoria encontrou falta de documentos que comprovassem pesquisa prévia feita pela PBio. Além disso, a compra de Marialva teria sido feita em desacordo com relatórios da Petrobras.
Quanto à aquisição da planta da usina de Passo Fundo, o ministro considera que a PBio assumiu risco e descumpriu normas para aquisição de ativos no âmbito do Sistema Petrobras. Porém, ele diz que até o momento não há evidencias de dano ao erário. Os demais ministros do pleno do TCU seguiram o voto do relator.
Rossetto afirmou nessa quarta-feira que não teve acesso ao voto de José Jorge. Ele argumentou que a área técnica do TCU não viu sobrepreço e pontuou que, segundo os auditores, os riscos do negócio foram mitigados por garantias impostas à sócia e pelo desempenho da usina de Marialva. Rossetto disse não ter havido dano ao erário nem características comparáveis a Pasadena – não havia cláusulas prejudiciais nos negócios, como no caso da refinaria americana. “As irregularidades apontadas no relatório técnico referem-se a aspectos processuais, que serão devidamente esclarecidos.” A Petrobras não se pronunciou. Castello Branco não foi localizado.
Procurada pela Gazeta do Povo, a Petrobras informou que deve se posicionar sobre o assunto nesta quinta-feira (6). A BSBios, via assessoria de imprensa, disse que não irá se manifestar “pois a BSBIOS não foi auditada” e “desconhece o relatório”.
Semelhança com Pasadena
A Petrobras comprou metade da refinaria de Pasadena em 2006, do grupo belga Astra, por US$ 360 milhões, incluídos estoques de petróleo. Na época, a presidente Dilma Rousseff era ministra de Minas e Energia e presidia o Conselho de Administração da estatal. Os sócios brigaram por causa do custo da reforma que a Petrobras queria fazer na refinaria, que chegavam a US$ 2,5 bilhões, considerado alto pela Astra. Os belgas chegaram a oferecer recomprar os 50% da Petrobras, que não aceitou a oferta. o TCU chegou a recomendar a devolução de US$ 873 milhões por irregularidades no negócio
A Petrobras então enviou proposta de US$ 550 milhões pelo restante da refinaria, mas a Astra pediu US$ 1 bilhão. Os sócios fizeram um acordo de US$ 788 milhões, mas sem aprovação do conselho da estatal brasileira ele não foi fechado, o que levou a uma disputa judicial nos EUA.
A batalha judicial terminou em 2012 e a Petrobras acabou pagando US$ 885 milhões pelos 50% da refinaria que pertencipam à sócia. No total, a estatal brasileira desembolsou US$ 1,25 bilhão por um negócio comprado pela Astra por apenas US$ 42,5 milhões em 2005. O ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli diz que a Astra fez investimentos de US$ 360 milhões na refinaria após a aquisição de 2005.