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Uma visão mais doce da vida

Por Fernanda Bressan – Revista Mercado em Foco – ACIL

 

Quem vê a confeitaria Hachimitsu em diversos pontos de Londrina não imagina como tudo começou. As delícias que encantam os olhos e o paladar são uma mistura de otimismo, gratidão, trabalho e decisão, além de vários erros que trouxeram experiência e muito aprendizado. Quem conta essa história é o empresário Nilo Kato, que ao lado da esposa Suely toca o negócio desde 2004. “Não existe atalho para nada, tudo é um processo, uma construção. Não acredito em imediatismo, vamos amadurecendo e construindo bases sólidas para alcançar um sucesso pleno”, declara o empresário.

A base começa no Japão, país que ele viveu por quase 15 anos. “Em 1990, fomos eu e a Suely para lá, ela como bolsista e eu para trabalhar. Quando ela encerrou o estágio que fazia, em 1993, nos casamos e lá tivemos nosso filho Hugo. Foram quase 15 anos lá, já tínhamos a cultura japonesa enraizada em nós, digo que éramos mais japoneses que brasileiros”, recorda. Essa, aliás, foi a primeira barreira enfrentada por eles quando retornaram ao Brasil.

Nilo conta que a decisão de retornar foi muito difícil, a maioria dos brasileiros que tentava esse caminho de volta não tinha sucesso. “Apesar de tudo mostrar que não era o momento de retornarmos, a gente decidiu voltar e começar uma nova etapa”.

O processo de volta começou quando o sogro o convidou para trabalhar em uma borracharia, ainda hoje ativa. “Esta transição durou dois anos. Comecei a observar as borracharias do Japão, um país de primeiro mundo onde tudo é automatizado, mesmo as empresas mais simples têm tecnologia”, explica. “Quando assumi a borracharia foi um grande choque, muito grande mesmo, porque tudo o que eu planejei não existia. Ele me deu um uniforme e comecei a trabalhar. Vou te dizer que esse foi um período muito importante para essa nova fase que começava. Se eu tivesse começado em um auto center automatizado, não saberia enfrentar as dificuldades”.

Um dia na borracharia um rapaz parou e pediu que Nilo calibrasse os pneus. “Nunca tinha calibrado um pneu, no Japão não tem isso, as pistas são um tapete, o pneu não fura, nem chega a ficar velho porque é trocado antes disso. Eu fingi que calibrei do jeito que imaginei, ele me deu uma nota de um real e disse ‘toma um café japonês’. Entrei no banheiro e chorei, ali comecei a dar valor a cada real, o quanto era difícil ganhar dinheiro no Brasil e estava querendo voltar ao Japão. Hoje vejo que estava indo pelo caminho mais fácil, de desistir, de buscar um alívio imediato para aquela situação. Não estava preparado”, define.

Rupturas

O que ganhava na borracharia não era suficiente para manter as despesas. Mas ao dizer que queria desistir e retornar ao Japão, Nilo recebeu o apoio da família e decidiu continuar tentando. Suely tinha estudado confeitaria no Japão por hobby, e até vendia bolos sob encomenda por lá. E foi dela o pontapé inicial para abrir a primeira loja Hachimitsu, na Avenida JK. “Ali começamos nosso primeiro negócio junto com minha cunhada Kelly. Em agosto de 2005 abrimos a primeira portinha, bem pequena. Fazíamos os doces pela manhã, abríamos a loja às 11 horas para vender a tarde a produção do dia. Era assim que as pequenas empresas no Japão faziam”, diz.

Foram meses operando no vermelho. Os doces eram suaves demais para o paladar brasileiro, o atendimento, muito cortês. “Tivemos um boom inicial, mas não fidelizava o cliente. Na época o nosso concorrente, a confeitaria Mister Cuca, vendia tudo e mais um pouco e muitas pessoas diziam que tínhamos que fazer igual, mas eu não queria fazer igual, queria implantar algo novo, nem melhor nem pior, mas uma opção diferente. Dizia: ‘Por que vou ser mais um? Não quer ser mais do mesmo!’”, conta.

Ao ouvir de um amigo que o paladar dos doces não era o mais adequado para o Brasil e, em outra conversa, ouvir um médico dizer que o atendimento da confeitaria era horrível, ele percebeu que precisava se ajustar. “Estava errado no sabor e achava que o atendimento tinha que ser igual ao do Japão, onde não invadimos a individualidade do cliente. Mas isso era muito formal para o Brasil. Era um brasileiro se sentindo estrangeiro no meu próprio país”.

As contas seguiam no vermelho. “No sétimo mês, estava quase decidido a fechar. Daí veio a virada de chave. Eu e a Suely mudamos nosso jeito de pensar, abrimos nossa mente. Vejo que começamos nosso negócio com pessimismo, e isso leva à negatividade. A partir do momento que falamos em arregaçar as mangas e mudamos de estratégia, veio o otimismo e isso passa até pelo olhar para o cliente”, lembra. Nilo ressalta que é comum buscar culpados quando as coisas não vão bem. “Queremos arrumar desculpa para o fracasso, dizer que não vendeu porque choveu, porque está calor, porque está frio! A partir do momento que deixei o papel de vítima e assumi o papel de entusiasmado, tudo começou a mudar, descobri a alegria de empreender”, ensina.

Da pequena loja com espaço para cinco cadeiras veio a ampliação da unidade e em grande estilo. “Os sonhos começaram a me tirar o sono, as ideias vinham, o otimismo foi maior que o medo. Contratei um dos melhores escritórios de arquitetura da cidade para o projeto. O normal seria que eu buscasse alguém que estava começando também, que era mais barato, mas eu já tinha o DNA de fazer algo diferente. Com os arquitetos Marilda e Zeca fizemos o projeto quebrando paradigmas, foi uma confeitaria contemporânea e foi um sucesso”, recorda.

Daí em diante tudo tomou novo rumo, veio o desejo de ter uma sede própria, um terreno no Bela Suíça foi adquirido e nele foi construída a segunda unidade, também em um projeto audacioso, que imitava uma colmeia de abelhas. Para quem não sabe, Hachimitsu significa mel de abelha. “Todos diziam que o local não era o mais adequado, que não tinha trânsito de pessoas, que não éramos conhecidos para isso, mas fui com uma visão positiva de futuro”, declara.

Gratidão

Nilo aponta que paralelo a todo esse momento ele foi transferindo positividade a seus colaboradores. “Queria quebrar o paradigma de que colaborador é difícil. Não entendia a relação de que empregador ficava infeliz com o funcionário e o funcionário falava mal do patrão. Isso significaria que quanto mais funcionário eu tivesse, mais problema eu teria. Fui aos poucos e, hoje, todos os dias a gente conversa com nossos funcionários, estimulamos o sentimento de gratidão. Ao acordarmos temos a opção de reclamar e a opção de ser grato, sugiro que todos exercitem a gratidão”, salienta.

A segunda loja foi inaugurada em novembro de 2013. “Os desafios começaram a mexer comigo e foi quando abrimos quatro lojas em um ano, entre 2014 e 2015. Ainda estava pagando as contas, não tinha um carrão, mas já começava a realizar”. Hoje são seis lojas Hachimitsu na cidade e uma fábrica com mais de mil metros que deverá ser inaugurada ainda este ano, centralizando a produção. “Mais do que ter orgulho pelas seis lojas, tenho orgulho de ter formado pessoas com o perfil entusiasmado e otimista. Tenho gratidão pelos meus clientes, a porcentagem de pessoas que falam bem do nosso doce é enorme e só posso agradecer por isso fazendo cada vez melhor. Resumindo a obra, é a gratidão que faz você ser otimista, acreditar, ter fé”, declara.

Crescer está nos planos, desde que o DNA seja preservado. “Só quero crescer se levar junto essa filosofia. Se virar uma franquia, não bastará ao franqueado entender de números, ele terá que entender o que é trabalhar com entusiasmo, com alegria, com gratidão. Assim o sucesso será igual ao daqui”, define. E ele continua. “Tenho em mente que a dificuldade faz parte do empreendedorismo, os erros são importantes porque aprendemos com eles. Atingir o sucesso temporário é fácil, mas o que buscamos é o sucesso pleno e isso leva tempo, é uma construção, e ainda estamos em construção”, finaliza.


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