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Vocação para brilhar

Fonte: Revista Mercado em Foco​ – Por Francismar Lemes

A afirmação de que o mundo está passando da era do capitalismo para a do talentismo tem potencial apocalíptico. Porém, dez anos depois da crise financeira global em que os riscos para a economia mundial continuam, a previsão de Klaus Schwab, fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial, é a prescrição de uma receita de desenvolvimento para cidades como Londrina, polo brasileiro de ensino superior. Mais do que o status de centro universitário, a vocação poderá garantir competitividade.

Seguindo os apontamentos de Schwab, no futuro, talentos serão mais importantes do que o capital. Se querem ser competitivas globalmente, as cidades terão que apostar na capacidade de inovação.

E onde estarão esses talentos londrinenses que serão protagonistas na Quarta Revolução Industrial e nos colocarão em posições mais à frente na economia mundial? Nas universidades.

O Brasil não se posiciona bem em rankings das nações mais inovadoras. No Relatório Global de Competitividade 2017-2018 do Fórum Econômico Mundial, o país ocupa a octogésima posição numa lista de 137 países, em que os três líderes são a Suíça, Estados Unidos e Cingapura.

Incentivar a criação de novos campis universitários é investir na fabricação de talentos para o desenvolvimento, como se vê pelo relatório do fórum em que um dos pilares de avaliação – educação e treinamentos superiores – revela que numa escala de 1 a 7, países mais competitivos como Cingapura têm as maiores notas. O líder do ranking no quesito tem pontuação 6,3, enquanto o Brasil registra apenas 4,2.

Londrina tem potencial para formar os seus talentos e mudar a cara socioeconômica do município por meio da educação superior. Além de duas universidades públicas, a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e a Universidade Estadual de Londrina (UEL), possui várias instituições privadas.

Em 2017, o Grupo Positivo entrou na maior cidade do interior paranaense ao comprar a Faculdade Arthur Thomas. Ano em que a Unicesumar inaugurou um campi de 8,5 mil metros quadrados, com a previsão de R$ 180 milhões em investimentos em educação presencial e a distância.

De acordo com dados do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Londrina registrou em 2016 um total de 42.108 matrículas em instituições públicas e privadas de ensino superior, totalizando 6.943 formandos.

Paradoxos de uma nova era

Novos profissionais chegam a um mercado de trabalho em que os empregos formais estão derretendo. A inovação tecnológica avança sem garantir necessariamente saltos de produtividade. E, se hoje o mundo cabe no smarthphone, muitos trabalhos se tornaram ou se tornarão obsoletos.

A maior oferta de cursos superiores em Londrina pode ajudar a cidade a se livrar deste paradoxo.

“Durante anos, tivemos na cidade cursos superiores voltados para as ciências sociais e sociais aplicadas. Nos últimos sete anos, Londrina se tornou polo voltado para as engenharias, com cursos oferecidos pelas quatro maiores universidades públicas e privadas. Mais uma instituição chegou, a Unicesumar, para ampliar essa oferta de engenharia”, afirma o consultor econômico da Associação Comercial e Industrial de Londrina (ACIL) Marcos Rambalducci. Afirmação comprovada pelos números do Manual de Indicadores de Desenvolvimento 2017, publicado pelo Fórum Desenvolve Londrina.

Em 2007, as universidades londrinenses formaram 201 engenheiros. Já em 2016 foram 615 formandos em engenharia. Números que mostram o papel das universidades para o desenvolvimento econômico que, por enquanto, aparecem com mais clareza entre as engenharias, mas que devem crescer também em outras áreas da tecnologia como a TI, surgimento de startups, entre outras.

O Fórum Econômico Mundial diz que os que não querem se atrasar na corrida pela competitividade precisam mirar em ideias.

O que significa que os novos profissionais que estão saindo das universidades terão que atender as necessidades do mundo, inclusive as sociais da cidade em que vivem.

“Esses profissionais precisam encontrar soluções para os problemas cotidianos da cidade, com atitudes empreendedoras, alavancando políticas públicas, mobilizando conhecimento”, avalia Rambalducci.

O cenário promissor está posto, mas para que a sociedade londrinense se beneficie do título de polo universitário, atraindo estudantes em busca de formação, o mercado de ensino superior tem que resolver a equação: qualidade x preços de mensalidades, igual a mais qualidade.

“Várias análises do mercado de ensino superior revelam que é necessário melhorar o nível de qualidade e diminuir custos. Não adianta as instituições se livrarem de mestres e doutores. É preciso reter esses profissionais se quiserem disputar o mercado”, afirma o consultor.

Os talentos que saem das universidades têm grande chance de se estabelecerem por aqui.

O estudo do Impacto do Ensino Superior sobre o Trabalho e a Renda dos Municípios Brasileiros, do Centro de Políticas Públicas do Insper, instituição de ensino superior e de pesquisa sem fins lucrativos, mostra que os profissionais com maior formação contribuem para o aumento do salário médio, da taxa de ocupação e da renda per capta da população.

São dados que mostram que chegaremos ao futuro que gostaríamos para Londrina se houver convergência entre o crescimento econômico e o aumento de renda dos londrinenses.

Talento para a competividade

Sob o guarda-chuva do talentismo, novo conceito empresarial, a cidade poderá crescer com apoio das universidades, que oferecerão soluções de inovação, a circulação de novas ideias, o incentivo ao empreendedorismo e o compromisso com a sociedade. Mas, tudo isso será possível se as pessoas forem preparadas para este horizonte.

De acordo com o Fórum Econômico Mundial, as inovações não têm mais impactos porque as empresas, pessoas e cidades não estão preparadas para aproveitar as novas tecnologias à medida que se tornam on-line.

A consultora do Sebrae na área de Educação Empreendedora, Daniele Montenegro Conte, ressalta que a entidade de apoio às micros e pequenas empresas mantém programa em seis instituições de ensino superior da região.

“Fiz visitas em universidades dos Estados Unidos que iniciaram programas semelhantes na década de 1970. Houve uma grande mudança de cultura. No caso das nossas micros e pequenas empresas, é caro para conseguirem inovar sozinhas. Por outro lado, desconhecem que podem obter este serviço através das universidades. A nossa maior luta é fazer esta aproximação”, afirma a consultora sobre o papel das incubadoras de negócios apoiadas pelo Sebrae.

Bons frutos

Para o Fórum Econômico Mundial, países competitivos têm que passar no crivo de requisitos básicos como infraestrutura, ambiente macroeconômico, saúde e educação.

Puxando a sardinha para o desenvolvimento londrinense, ao se instalarem em regiões com pouca infraestrutura, instituições como a Unicesumar conseguem interferir positivamente em alguns pilares básicos da competitividade. Um exemplo é o pilar da infraestrutura.

“A chegada da Unicesumar na região Leste melhorou a acessibilidade, trouxe valorização imobiliária, interferiu positivamente no planejamento urbano. Impacto semelhante ao ocorrido com a instalação da UTFPR numa área que era rural, mas que está atraindo grandes empreendimentos imobiliários”, afirma o presidente do Instituto de Desenvolvimento de Londrina (Codel), Nado Ribeirete, lembrando que a Unicesumar assumiu compromisso de investir R$ 4 milhões para compensar impactos na região.

Ribeirete acrescenta que o desenvolvimento que se consolida com mais universidades tem reação em cadeia nos outros pilares da competitividade, como a saúde e educação. “É mais oportunidade para as pessoas empreenderem e terem emprego”, acredita.

Mais espaços e inclusão

Muito do que contribui para a vida e bem-estar de quem decide estudar em Londrina não é tangível. Porém, grande parte está nas mãos do setor de prestação de serviços e comércio.

Enquanto o mundo produtivo discute questões como prontidão tecnológica, problemas mais domésticos ainda precisam de soluções no setor.

Londrina tem 7.300 leitos em 53 bons hotéis e cerca de 1.200 restaurantes, bares e lanchonetes. É este batalhão de trabalhadores e empresários que está na linha de frente para receber os contingentes de estudantes.

Somente para o vestibular da UEL, anualmente, são esperados mais de 20 mil candidatos, alguns vêm na companhia de familiares, deixando na cidade algo em torno de R$ 3 milhões.

O que o time de profissionais precisa fazer para se beneficiar? Onde estão as oportunidades?

“Acredito que Londrina deveria ter uma secretaria municipal de turismo, que discutiria um calendário de eventos para a cidade. Alguém que gerenciasse essas questões e que fosse da área e não uma indicação política”, acredita o presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Londrina (Sindhotéis), Alzir Bocchi.

Já o mercado imobiliário acredita que mais universidades exigem que a cidade pense na criação de espaços e se torne mais inclusiva.

“Tudo passa por um plano diretor para a cidade. Quando falamos de estudantes, eles estão mais exigentes, querem apartamentos que tenham estrutura como lavanderia, sejam mais próximos das universidades ou do centro. As novas universidades melhoram a ocupação da região, o paisagismo e a segurança, mas também precisamos pensar nas questões sociais desse desenvolvimento”, conclui o diretor do Sindicato da Habitação e Condomínios (Secovi), Marcos Moura.


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