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Voto: a chave democrática da mudança

Fonte: Revista Mercado em Foco – ACIL – ​Por Francismar Lemes

O Brasil deslocou o eixo, desde os protestos de junho de 2013, desencadeando uma crise de representação e governança política, que tem produzido abalos diários. Calcular o futuro e os resultados das eleições 2018 é uma operação de lógica difícil em que se conhece a variável contexto, mas é preciso descobrir inúmeras incógnitas.

A revista Mercado em Foco propõe uma observação sobre este jogo político. O objetivo é colaborar com o debate para a escolha dos que não poderão desperdiçar a chance de mudança, inclusive devolver a confiança da população brasileira na política.

Nesta edição, será apresentada a atmosfera que envolve estas eleições, com a análise do cientista político Clodomiro Bannwart, professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), e do consultor econômico da ACIL, Marcos Rambalducci, que é professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

Que Brasil é este que em outubro irá às urnas?

Bannwart recorre a um dos mais importantes filósofos, Santo Agostinho, para demonstrar a complexidade da pergunta. Algo como “só querer saber tudo de duas coisas: a respeito de Deus e da mortalidade da alma”.

Igualmente pinçando uma comparação, Rambalducci diz que a resposta tem o valor de um milhão de dólares tamanho o grau de hipóteses para um acerto ou erro de uma previsão.

Os dois analistas concordam com a fotografia do sentimento da população tirada pela pesquisa do Ibope e divulgada na segunda quinzena de março. O pessimismo da sociedade em relação às eleições aparece em 44% das respostas.

Muitas análises só encontram um retrato igual no pleito de 1989. Outros ingredientes, como o grande número de candidatos, crises ética-moral e econômica, um quadro partidário caótico e uma agenda conservadora em ascensão, se somam tanto lá como cá ao ceticismo popular.

Estes são alguns dos princípios que regerão os conflitos do eleitorado até a urna. Porém, outro ainda mais imponderável determinará até o último momento a decisão do eleitor: a realidade, com os seus fatos novos.

“O que nos diferencia de 1989 é que estamos fechando o ciclo da Nova República, desde a redemocratização do país, em 1988, a 2018. Acredito que estes 30 anos foram catalisados por duas grandes forças políticas. De um lado o PT e de outro o PSDB. A gente não consegue fazer a leitura do que foram essas três décadas sem olhar essas duas forças progressistas que, no entanto, se curvaram à velha elite política brasileira. Destruímos essa polaridade. Ao destruir isso, o que se vê é o velho PMDB, agora suprimindo o “P” da sigla, funcionando como sempre funcionou no Brasil . Aqui merece uma reflexão crítica: nós não conseguimos ler as forças progressistas que tentaram movimentar a Nova República sem a estrutura arcaica e fisiológica do PMDB. Quer dizer: o PMDB esteve atrás de tudo isso. Sempre no poder. Fazer uma leitura crítica envolve uma avaliação do papel do PMDB na história recente da democracia no país”, afirma Bannwart .

A roda da história gira e as eleições no Brasil fazem parte de um superciclo de pleitos de 2018, em que 350 milhões de latino-americanos têm a chance de votar por mudanças.

Eleições que, de acordo com artigo do Fórum Econômico Mundial sobre América Latina, terão a responsabilidade de sustentar a democracia em baixa por causa do aumento de conflitos não só políticos, como sociais, combater o aumento da insegurança, os casos graves de corrupção, considerada uma endemia duradoura, a alta taxa de desemprego proporcionada também por concentrar a maior escassez de competências no mundo na economia formal, sendo que dois em cada cinco jovens não estão estudando nem trabalhando, e 55% dos trabalhadores da região trabalham na economia informal.

Rambulducci defende que para encontrar o eixo, o Brasil precisa sair das eleições com a perspectiva de reformas econômica, que devem ser salvaguardas do duelo entre esquerda e direita.

O professor destaca que houve uma recuperação de alguns posicionamentos macroeconômicos de controle da inflação no Brasil, mas sem conseguir um superávit fiscal.

“Por outro lado, nós temos um cenário absolutamente negativo que é a continuação de déficits reiterados. Para o ano de 2018, teremos um gasto fiscal da ordem de mais de R$ 1,3 trilhão, sendo que, praticamente, R$ 1 trilhão é somente com a seguridade social. Desse R$ 1 trilhão mais de 70% são despesas com a Previdência Social. Isso significa que nós estamos absolutamente alijados da possiblidade de ter um governo que possa fazer investimentos. Este endividamento precisa ser equacionado. O atual governo não tem cacife politico para fazer as reformas que se fazem necessárias. Nós dependeremos do próximo. Aí temos uma incógnita grande sobre o nosso futuro”, afirma Rambalducci.

 

Direitos x Deveres

Quem serão os eleitos que terão que corresponder ao que sobrou de esperança entre os brasileiros?

Na avaliação de Bannwart poderá ser qualquer um de qualquer partido, principalmente no caso do que irá sentar na cadeira de presidente.

“Há uma inversão. O brasileiro está tendo muito mais uma confiabilidade no poder do judiciário do que na política. A política está criminalizada. Num contexto criminalizado, em que há a quebra de estruturas, o que sobra? Partidos de aluguel que vão, não só vender a sigla, mas também partir para um processo aguerrido de conquista do poder. Me parece que teremos uma eleição numa perspectiva bem maquiavélica”, ressalta.

Se não dá para contar com a sorte, devemos ficar de olho também em outras variáveis destas eleições, como a influência da internet e redes sociais, que podem bagunçar todo o processo, como nunca ainda se viu.

“Existe uma mudança cultural grande. Um aspecto interessante e que não tem uma tematização tão clara dos elementos que o justifiquem é a guinada mais conservadora. Talvez, consequência do colapso dos partidos de centro esquerda, que governaram nos últimos 20 anos e que não conseguiram dar uma resposta satisfatória à sociedade. Aliado a isso, há uma potencialização da internet. Não sabemos como lidar com isso. Um exemplo são as eleições dos Estados Unidos e as influências das fake news. Isso pode determinar a nossa eleição”, afirma o cientista político.

Já Rambalducci acredita que a conjuntura atual pode colocar o Brasil numa sinuca se às eleições não sucederem reformas, como a da Previdência.

“É preciso haver um processo de informação da sociedade, mostrando a necessidade de uma reforma que garanta a solvência do país. Se medidas como essa não forem adotadas, nós estaremos numa situação muito complicada a partir de 2019. Essa situação tende a ser cada vez mais complicada em função até da nossa pirâmide etária”, afirma.

É preciso sair também dessas eleições com a perspectiva de uma verdadeira reforma política, já que somente tem atendido ao casuísmo, como o remendo deste ano, que tirou a propaganda partidária no semestre que não tem eleição, o que dificulta o acesso à informação pelo eleitor.

“Isso é terrível. Há uma proliferação de partidos. Já não entendemos ideologicamente quem é quem neste balaio de gatos e ainda impedem a informação sobre partidos. Isso mantém os feudos, as dinastias da política brasileira”, avalia o Bannwart.

Diante dessas condições, cada eleitor deve estar se perguntando de onde virá o nosso socorro.

Bannwart e Rambulducci tentam responder à pergunta de 1 milhão de dólares:

“Não podemos girar em falso o processo eleitoral. Existe uma ausência de utopia no horizonte, que mostra um ranço patrimonialismo, populismo, uma estrutura política arcaica, baixa escolaridade da população e redes sociais para alimentar a incapacidade de conseguirmos viver democraticamente”, finaliza Bannwart.

Rambalducci destaca a falta de base sólida para pensar que tal candidato, sendo eleito, terá as condições necessárias para girar a roda no sentido horário.

“É uma situação que não foi construída nós últimos 10 anos. Fernando Henrique tentou uma reforma e a gente sabia que se demorasse em ser feita seria ainda mais grave. A conta chegou. É hora de pagarmos”, conclui.


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