Visões de um empresário pé-vermelho

Industrial do ramo metalúrgico, líder empresarial e pai da família: conheça as opiniões e atitudes de Valter Orsi, presidente do Sindimetal Londrina

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Fonte: Paulo Briguet/Revista Mercado em Foco

De sua janela no Sindimetal, Valter Orsi tem uma visão ampla de Londrina. A cidade pode ser contemplada ali em 360 graus; por isso, o 25º andar do Edifício Oscar Fuganti, onde se localiza a sede da entidade, tem sido frequentemente procurado por fotógrafos e cinegrafistas em busca de belas imagens urbanas. Dali eles podem focalizar a Catedral, a Alameda Manoel Ribas, o Júlio Fuganti, o Centro Comercial, a Rodoviária, o Boulevard, o Estádio do Café, o Relojão, o Palácio do Comércio, a Praça Willie Davids, o Ouro Verde.

É um caso em que o lugar traduz perfeitamente o homem. Valter Orsi é um londrinense da gema, de coração, de pé rigorosamente vermelho. Nasceu há 59 anos numa casa na esquina da Rua São Salvador com a Avenida Duque de Caxias, filho dos pioneiros Éssio e Zulmira Orsi. Atravessando a rua, seus pais tinham o Armazém Nossa Senhora Aparecida, onde o pequeno Valter ajudava desde pequeno. Quer dizer que você morava na Vila Casoni, Valter? “Não”, ele corrige, londrinense conhecedor dos limites urbanos. “Vila Casoni era para baixo da Rua Belém. Ali era considerado Centro.” De forma que podemos dizer com toda precisão geográfica: Valter Orsi nasceu, cresceu e continua vivendo no Centro de Londrina.

A pergunta de todos os dias

“Qual é a tua obra?” Todas as manhãs, quando acorda, Valter Orsi procura responder a essa questão. “Estou fazendo o certo ou o errado? Estou sendo justo? Estou atingindo os melhores objetivos? São as perguntas que eu me faço todos os dias.” Desde muito jovem, Valter sempre quis se realizar como empresário, pai de família e cidadão. Seus quatro filhos – o mais velho com 33 anos, o mais novo com 14 – lhe dão muitas alegrias. Nayara, de 17 anos, cursa Oceanografia em Florianópolis, mas destacava-se como pesquisadora desde a escola secundária. “Ela já esteve duas vezes em Nova York para falar sobre pesquisa, teve um trabalho selecionado entre os cinco melhores do Brasil, participou da maior feira sobre pesquisa do mundo [a da Intel, em Los Angeles] e foi convidada a atuar em um centro de pesquisa biológica em Israel”, enumera Orsi, com orgulho.

Educar bons filhos para o mundo é uma conquista importante, mas Valter pensa em algo mais. “E a sociedade? Eu quero que o presidente, o governador, o prefeito, o síndico do meu prédio resolvam os meus problemas? Serei um eterno cobrador? Não: eu quero contribuir com meu país, meu estado, minha cidade. Essa é a luta do meu dia a dia. Para falar a verdade, é o que mais me realiza”, diz o presidente do Sindimetal, entidade que congrega as empresas do ramo metalúrgico em Londrina.

Prosperidade tem seu valor, mas é preciso enxergar mais longe: “Às vezes me dizem que eu poderia ter duas ou três vezes mais do que tenho. Mas isso não me abala. Ser feliz é mais do que uma soma em dinheiro; é uma soma de virtudes e atitudes.” Virtudes e atitudes que às vezes precisam ser utilizadas para superar o desânimo causado pelas manchetes de jornais: “Eu peço sempre a Deus que me mantenha motivado. Porque às vezes os casos de corrupção me dão vontade de abandonar tudo e cuidar apenas da minha família, da minha empresa”.

O ex-futuro bancário

Ser empresário era algo que estava no sangue de Valter Orsi desde os tempos em que ele ajudava o pai no balcão do Armazém Nossa Senhora Aparecida. Mas, em 1975, Valter esteve muito perto de tomar outros rumos: passou em um concurso do Banco do Brasil. Na época, trabalhava como vendedor numa empresa de equipamentos. Depois de fazer uma venda para um senhor de cabelos brancos, Valter lhe disse que estava para sair do emprego. O homem ficou em silêncio por um instante e disse: “Meu jovem, pense bem no que está fazendo. Eu trabalhei como auditor no Banco do Brasil e acho que é uma carreira excelente. Mas, pelo que eu pude ver, pelo modo como você me atendeu, deu para notar que a sua vocação é outra. Pense bem se você quer mesmo trabalhar em banco”.

Aquelas palavras impressionaram fortemente o jovem Valter Orsi. Ele pensou bem e decidiu não entrar para o banco. Deixou o emprego, mas para tornar-se pequeno empresário. “Hoje talvez eu fosse um gerente de banco, não sei. Mas depois daquela conversa resolvi fazer o que gostava.” Hoje Valter sente-se grato ao homem que lhe deu aquele conselho. “Nem sei o nome dele, nunca mais o vi. Mas agradeço. A vida é tão bela, tão rica. Fazer o que se gosta é fundamental para a felicidade.”

Há quase 40 anos, o mundo perdeu um bancário e ganhou um empreendedor. Valter foi o primeiro presidente da Associação de Micro e Pequenas Empresas do Norte do Paraná. Depois, presidiu a federação estadual do mesmo segmento. O espírito associativista manifestou-se seguidamente nas lutas por melhores condições para os pequenos negócios. “Queríamos aplicar no Brasil os bons exemplos de apoio às microempresas em outros países.” Em meados dos anos 80, Valter participou da elaboração do Estatuto das Micro e Pequenas Empresas do Brasil. Chegou a ganhar um diploma por assiduidade nos cursos de capacitação oferecidos aos empreendedores. “Se tinha curso, eu estava lá.”

Momento histórico da cidade

Por 12 anos, Valter Orsi participou da diretoria da ACIL. Trabalhou, por exemplo, na implantação do atual Centro de Capacitação. Eleito presidente da entidade para a gestão 1999-2000, teve então um dos maiores desafios de sua vida ao integrar, ao lado de outras lideranças locais, o movimento Pé Vermelho Mãos Limpas, também conhecido como Movimento pela Ética na Administração Pública de Londrina.

Eram tempos difíceis. No terceiro mandato de Antonio Belinati em Londrina, estourou o escândalo AMA-Comurb. Parte de R$ 186 milhões provenientes da venda de ações da Sercomtel foram desviados em licitações fraudulentas. Diante do silêncio da mídia local, as entidades locais, lideradas pela ACIL e a OAB, exigiram a investigação e punição dos desvios. Foi um momento histórico – na vida da cidade e na vida de Valter. “Eu me orgulho daqueles dias. Foi um movimento democrático, passo a passo. Em nenhum momento partimos para a agressão ou baixaria. Diante dos desvios, simplesmente acreditávamos que a nossa cidade não poderia ser assim. Que a nossa prefeitura não poderia ser assim. Que os nossos vereadores não poderiam ser assim. Que as licitações não poderiam ser assim. Que o dinheiro público não podia ser tratado assim.”

Em junho de 2000, o prefeito Antonio Belinati teve o seu mandato cassado pela Câmara de Vereadores. “Eu fico feliz por ter participado de um momento histórico para Londrina. O tempo deu a resposta: todo aquele esforço tem o seu reflexo hoje. A partir dali, Londrina começou a entender que o interesse público precisa ser respeitado.” Na opinião de Valter Orsi, a cidade vive hoje um clima de confiança cujas sementes foram plantadas naquele período turbulento. “Não há mais espaço para populismo nem para desvio do dinheiro público em Londrina”, afirma. “Quem está no cargo deve servir, e não se servir. É preciso resgatar a grandeza da expressão servidor público. Tenho certeza de que Londrina será um modelo de gestão pública para o Brasil.”

No entanto, a cidade só pode chegar a esse nível de desenvolvimento se contar com as empresas e os empresários. “Infelizmente, muitos ainda acham que empresário é sinônimo de explorador, sonegador, poluidor. Na verdade, o empresário brasileiro é quem gera empregos, impostos e qualidade de vida”, argumenta. Valter Orsi acredita que as entidades têm o dever de combater o preconceito contra a atividade empresarial. “Uma nação que criminaliza a atividade empresarial está expulsando os talentos do país. No momento em que se apagam as luzes de uma empresa, a cidade, o estado e o país perdem demais. Capital e trabalho precisam estar de mãos dadas. Estamos todos no mesmo barco. O sucesso do empresário é o sucesso do trabalhador. Quando há desequilíbrio, os dois perdem.”

Valter Orsi olha pela janela do Sindimetal. “Outro dia colocaram aqui uma câmera filmando por 24 horas. Desta janela se vê o amanhecer e o anoitecer de Londrina.” Diante da paisagem urbana, surge uma pergunta: como foi possível fazer tantas coisas em apenas 80 anos de história? A resposta está em uma palavra: união. Vinte e um anos mais novo que a cidade, o ex-futuro bancário sabe que ainda é preciso fazer muito mais – em todos os 360 graus da Filha de Londres.  

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