Nossa feira de cada dia

Fonte: Alexandre Sanches/Revista Mercado em Foco Acordar de madrugada, ir ao Ceasa ou ao Mercadão do Povo buscar mercadorias frescas e montar a sua barraca antes do sol nascer. Este […]

Apiki

Compartilhe com o universo

Compartilhar Nossa feira de cada dia no Linkedin Compartilhar Nossa feira de cada dia no Twitter Compartilhar Nossa feira de cada dia no Facebook

Fonte: Alexandre Sanches/Revista Mercado em Foco

Acordar de madrugada, ir ao Ceasa ou ao Mercadão do Povo buscar mercadorias frescas e montar a sua barraca antes do sol nascer. Este é o cotidiano de muitos londrinenses que vivem das feiras livres distribuídas diariamente nos diversos pontos da cidade.

Se para quem trabalha como feirante o dia começa quando muitos londrinenses estão dormindo, para outros, a busca por produtos frescos logo ao raiar do sol, indo até o meio-dia ou 13h, é uma constante, independente dos mesmos produtos serem ofertados nas grandes redes de supermercados ou nos sacolões que se espalham pelos bairros. Tudo por conta de diferenciais que o consumidor não encontrará em outros estabelecimentos: a oportunidade de pechinchar preço mais em conta os produtos caminhando pouco e, principalmente, pelo clima proporcionado por este comércio ambulante que leva as pessoas a não se sentirem apenas fazendo compra, mas dando um passeio, encontrando amigos e cultivando amizades.

Nas feiras de Londrina são comercializados de tudo um pouco: frutas, verduras, legumes, raízes e especiarias, alimentos pré-prontos e de origem japonesa, pamonha e produtos derivados do milho, café em pó e em grão, arroz e feijão a granel, flores, artesanato, ovos. Atualmente, por conta das leis sanitárias, não são mais vendidos animais vivos, como galinhas. Porém, em determinados pontos é possível comprar frangos e peixes, defumados, embutidos, queijos e outros produtos. E, no final das compras, as pessoas podem ainda parar nas bancas dos pastéis para recarregar as energias e se refrescar com um bom refrigerante.

Hoje, Londrina possui 251 feirantes cadastrados junto à Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU) para as feiras livres, que coordena e fiscaliza o funcionamento do setor, distribuídos em 32 pontos diferentes semanalmente (média de quatro por dia). Atrás destes empresários, que não se enquadram nem como micro e nem como pequenos, mas como comerciantes ambulantes, há uma movimentação de dinheiro e geração de empregos.

Algumas barracas são administradas por uma única pessoa. Outras, por núcleos familiares. Mas há quem contrate ajudante para as vendas, organização e limpeza das barracas.

Um desses feirantes é Paulo Rogelo, 52 anos e há 35 anos nas feiras livres que, após deixar a sua banca, está há cinco trabalhando como auxiliar na banca de dona Maura, 67 anos e há 49 vendendo frutas nas feiras. Rogelo diz que, apesar da oferta por supermercados e outros estabelecimentos comerciais que trabalham hortifrutigranjeiros, a feira livre sempre vai sobreviver.

“A mercadoria das feiras é mais fresca. Não temos como estocar, sem câmara fria para armazenagem. Compramos com frequência direto do campo para a feira. E as pessoas vêm à feira por tradição de 20, 30 anos, são clientes fiéis. Temos clientes que há mais de 30 anos fazem questão de virem semanalmente aqui”, comenta, informando que há casos em que o núcleo familiar está na segunda, terceira geração de consumidores das feiras.

Para Rogelo, o diferencial é que as feiras se tornam um lugar de passeio, não apenas de compras, onde as pessoas se divertem, conversam, desabafam. “Há pessoas que gastam com psicólogos. E há quem vem à feira gastar com pastel, frutas, verduras, falar com o feirante. Temos tempo para conversar. Já no mercado vai conversar com quem? Com o repositor, que nem sempre está lá no horário das compras?”

Há ainda a concorrência entre os feirantes distribuídos em áreas que vão de dois a cinco quarteirões no máximo, como na tradicional feira da Avenida São Paulo, às quintas e domingos, com quatro quadras. “A gente ganha centavos, não ganha milhões. Não podemos fazer loucuras, mas sempre procuramos cobrir o preço da concorrência, agradando aos nossos clientes”, salienta, lembrando que uma das diferenças da feira para o supermercado está na venda por quilo e por dúzia entre os feirantes.

Agregando valor

O feirante Osvaldo Canesso, 62 anos e há 49 nas feiras livres, sempre vendendo ovos, fez a vida e deu educação aos filhos como ambulante. Apesar de considerar que está meio devagar para o trabalho rotineiro, continua na lida por amor aos fregueses. “Eles são sempre pontuais, vem bater papo com a gente, contar piada. A feira é um patrimônio público e não pode deixar de existir porque fará falta”, enfatiza.

Ele lembra que algumas feiras livres londrinenses podem ser consideradas patrimônio cultural, histórico e turístico, pois muitas pessoas de outros municípios procuram passear e ver novidades no setor. Por este motivo, aliado à necessidade de aumentar os rendimentos, Canesso passou a trabalhar com artesanato de madeira em sua barraca, agregando valor.

Para combater a concorrência dos supermercados, o feirante cita a necessidade de procurar por produtos com diferencial a mais. “Hoje os supermercados compram grandes quantidades e podem armazenar os produtos. Eu, semanalmente, compro a minha quota de ovos para vender, pois além de perecível, meu produto é frágil. Então, procuro os ovos maiores e até mesmo os de duas gemas, que agradam a dona de casa”, salienta.

Nestes 49 anos de feirante, Canesso diz que já viu de tudo, até mesmo a fuga de muitos ambulantes descendentes de japoneses, na década de 80, que foram ganhar a vida no Japão. “Muitos dos feirantes eram de origem japonesa. Famílias inteiras deixaram os pontos e foram embora ganhar dinheiro lá fora. E ao voltar, não quiseram mais trabalhar nas feiras”, comenta.

Ele mesmo diz não ter quem dê continuidade ao seu comércio quando for parar de vez. “Consegui dar uma boa educação aos filhos, que fizeram faculdade e hoje trabalham na área que escolheram, ganhando um bom salário. Aqui o ganho é praticamente o mesmo sempre. Muitos desistem por conta disso”, explica. No entanto, boa parte dos feirantes de Londrina possui mais de dez anos no ramo e há casos de quem começou com os pais e estão há décadas na lida, como o Jorge, um japonês que mal fala o português e vende verduras e legumes. Ele atua como feirante há 50 anos, mantendo sua banca com a ajuda de diversos auxiliares contratados.

Feriantes são moradores de Londrina

As feiras livres de Londrina são regidas pela Lei Municipal 11.468/2011 (Código de Posturas do Município). E uma das exigências para que possam explorar um ponto é que o comerciante seja morador estabelecido no município, não podendo morar nas cidades vizinhas. Além das feiras livres, há as chamadas Feiras da Lua, que atualmente tem 35 feirantes cadastrados, e a Feira dos Produtos, esta coordenada e fiscalizada pela Secretaria Municipal da Agricultura.

De acordo com a supervisora de Espaços Públicos da CMTU, Josi Aparecida Durante, as feiras livres são concessões públicas. E uma comissão composta de representantes de órgãos públicos e sociedade organizada é que autoriza a instalação de novas barracas. Após ser requerida a vaga, a fiscalização verifica a existência de pontos nas feiras solicitadas. “Não basta só existir o ponto, mas é preciso verificar se o produto que vai comercializar não tem em demasia nos locais pedidos. Tem que haver um equilíbrio dos congêneres ofertados”, explica.

A rotatividade no setor não é tão grande. E nos últimos anos, segundo a supervisora, a desistência de pontos tem sido mais difícil. “Normalmente a desistência se dá por problemas de saúde. E quando a pessoa falta mais de três semanas seguidas no mesmo ponto. Aí a legislação determina a revogação do alvará de funcionamento para este ponto”, comenta.

Mesmo assim, Josi deixa claro que, em caso do comerciante ambulante resolver parar com sua atividade e quiser passar para um funcionário ou um familiar, ele tem que entrar com a solicitação de transferência do ponto junto à CMTU. “A comissão vai analisar a documentação, o histórico e decidir se poderá ser transferida ou não”, orienta.

Número da vida de feirante

32 feiras livres
5 feiras da lua
1 feira do produtor
251 feriantes (feiras livres)
35 feirantes (feiras da lua)
Não há informações sobre total de feirantes na feira do produtor
Funcionamento da Feira Livre
De segunda a domingo, com média de quatro por dia
Funcionamento da Feira da Lua
De terça a sábado, sendo uma por dia
Funcionamento da Feira do Produtor
Aos domingos

Leia também