Fonte: Alexandre Sanches/Mercado em Foco/Julho
Imagine passear pelas ruas de Londrina e, aos poucos, encontrar algum monumento ou instalação que já se transformou ou foi cartão postal da cidade, revivendo momentos da recente história da colonização norte-paranaense. Isso é realmente possível, uma vez que em muitas regiões, seja no chamado centro histórico ou em bairros mais afastados, passamos por ícones que ajudam a contar um pouco destes 80 anos e que, cotidianamente, encontramos nas ruas e esquinas. No entanto, pela rotina, são considerados pela maior parte das pessoas como mais uma instalação no nosso caminho.
Ainda é possível encontrar muitas testemunhas da colonização, como os primeiros londrinenses a nascer aqui ou os filhos de migrantes e imigrantes que vieram para cá ainda crianças. Porém, a forma mais fácil de resgatar esta história é passear pela cidade e procurar explorar esta história viva.
Conhecida até meados da década de 1970 como a Capital Mundial do Café, diversos monumentos e edifícios nos levam a este importante momento histórico da colonização e crescimento do norte do Estado. E vários locais homenageiam o ciclo, como o Estádio do Café, atual casa do Londrina Esporte Clube (LEC), ou o Teatro Ouro Verde, construído como cinema pelos “barões do café” e que tem na sua fachada um ramo de café, homenageando o principal símbolo da riqueza londrinense.
As principais instalações, no entanto, estão no centro histórico, como a antiga Estação Rodoviária – um patrimônio histórico projetado por Vilanova Artigas, hoje transformado em Museu de Artes de Londrina – e a Estação Ferroviária, localizada cerca de 100 metros, onde hoje funciona o Museu Histórico Padre Carlos Weiss. Os dois prédios foram os principais pontos de entrada e saída de Londrina.
No meio deles está a Praça Rocha Pombo, que era uma atração à parte entre embarques e chegadas de ônibus ou de trem. O tanque com carpas vermelhas e o chafariz que, à noite, ganhava luzes especiais, fizeram o sonho de muitas pessoas. Hoje, ela está praticamente abandonada, sem a atenção necessária à importância que teve no desenvolvimento londrinense.
A linha férrea, que trouxe a prosperidade e levas de migrantes e imigrantes, foi substituída por uma avenida que corta a cidade de leste a oeste, com um canteiro central largo, transformando-se numa via rápida importante. E em meados de 1980 acabou a “separação” entre acima e abaixo da linha, levando o desenvolvimento nos bairros que ficavam além da estação ferroviária.
Numa cidade com aproximadamente 80 mil habitantes até o início dos anos 1980, a construção de prédios chamava a atenção de quem chegava a Londrina. Edifícios como o Tókio, na Rua Sergipe, o Centro Comercial com seus espigões residenciais, o Autolon – obra também de Vilanova Artigas – e o Júlio Fuganti, por exemplo, foram sempre referências do desenvolvimento econômico londrinense.
Mas uma obra em especial deu destaque à cidade: o Relojão do Edifício América. Este monumento era visível de todos os pontos da cidade, de norte a sul, de leste a oeste, sendo referência inclusive para muitos atrasadinhos. Além disso, neste edifício funcionou os principais escritórios de corretagem de café da região norte paranaense.
Avançando para o outro lado da cidade, após o prédio da Catedral Metropolitana, o Bosque Central Marechal Rondon já fez a alegria de muitos adultos e crianças, que utilizavam este espaço como uma importante área de lazer. Mas era no interior do bosque que funcionava um parque infantil, uma quadra esportiva e um minizoo – desativado na década de 80 –, onde além de macacos e aves, os visitantes encontravam jabotis, jacarés, capivaras e até antas.
E na Rua Piauí, entre os dois bosques, funcionou por muitos anos o Terminal Urbano, com linhas de ônibus que cruzavam a cidade ligando dois importantes bairros, como Aeroporto/Ney Braga, Bandeirantes/Ideal, Yara/Higienópolis, Waldemar Hauer/Shangri-Lá, entre outros.
Indo mais para a região sul, o Lago Igapó e a sua barragem se transformou no principal cartão postal londrinense. Projetada e construída na década de 1950, a área do lago ganhou árvores e gramado, se transformando num enorme parque. E ali, uma estrutura de granito e mármore foi erguida em 1977, sendo batizada como Monumento à Bíblia. Quatro bases dispostas em cruz, afinam-se em flecha e juntas buscam o infinito, formando um obelisco. Porém, passa despercebido das pessoas, podendo ser considerado apenas mais uma estrutura urbana. Cerca de 100 metros acima, na Rua Souza Naves, outro ícone, que por anos foi referência de quem chegava em Londrina: o monumento do Rotary Club, que ficava na entrada da cidade e dava as boas-vindas aos visitantes. Esta estrutura de concreto está em um canteiro no encontro de três vias do Jardim Petrópolis. Porém, é preciso que as pessoas prestem atenção e passem devagar pelo local para poder observar este marco.
A história viva
Para o jornalista e professor de história Gleiton Luiz de Lima, da Unopar, a recente colonização de Londrina está viva nas ruas, apesar de muitos ícones darem espaço à especulação imobiliária e ao crescimento da cidade. Ele enfatiza que é importante a preservação destes ícones históricos, dando uma identidade não apenas a Londrina, mas também aos seus moradores.
“As pessoas se identificam a partir da localização. Quando se fala de identidade, alguns pontos são marcantes, como a rodoviária e a ferroviária, que se transformaram em grandes monumentos e representam ainda mais um poder comum”, enfatizou.
Ele lembra que a história se faz através das narrativas ainda presentes com os pioneiros que estão aos poucos morrendo, mas também pelos prédios preservados. “Mesmo quem não vivenciou os momentos históricos de Londrina, vai construindo valor de conhecimento. A memória se perde porque não temos o retrato de construção dos monumentos. Em pouco mais de 20 anos vimos despencar muitos destes prédios. Na Avenida Higienópolis, por exemplo, havia a residência conhecida como Casa dos Anões, que era bela. E a especulação imobiliária a fez dar lugar a uma construção moderna de um banco. Sempre que cai um ícone desses, uma parte da nossa história se vai com a perda da identidade”, afirma.
De acordo com Gleiton Lima, é importante que as pessoas mantenham estes pontos históricos preservados, fazendo com que as pessoas relembrem fatos importantes da cidade. E, dessa forma, dar às gerações futuras a oportunidade de pertencer a um espaço. “Quando não há esse pertencimento é que acontecem as pichações e as depredações dos espaços públicos”, salienta.
Apesar de a cultura cafeeira ter perdido seu status e lugar após a geada negra de 1975, o café ainda é um ícone importante do londrinense. “O café etá enraizado em todos que para cá vieram. A maior parte dos nossos pioneiros vieram na esteira do café. Mesmo que eles estejam perecendo, as memórias vivas estão aí para rememorar estes fatos importantes da história de Londrina”, enfatiza o professor de história.