Estatais chinesas mostram interesse pelo Arco Norte

Empresas estudam pagar por análise de viabilidade econômica para projeto e até investir na construção e administração do complexo em Londrina

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Fonte: Folha de Londrina


As estatais chinesas AHCOF International Development e China Machinery Industry Construction Group (Sinoconst) demonstraram interesse em arcar com o estudo de viabilidade econômica e financeira do Arco Norte em Londrina, para avaliar se vale a pena investir no negócio. O grupo, que trabalha com obras de infraestrutura e tem interesse em entrar na América Latina, pediu anteontem informações sobre o anteprojeto ao Instituto de Desenvolvimento de Londrina (Codel). 

O Arco Norte é uma proposta de desenvolvimento regional, que tem como base um grande aeroporto internacional de cargas, centros de logística intermodal e de tecnologia. Originalmente, a proposta era usar uma área de 5,7 mil hectares ao lado da Mata dos Godoy, que foi decretada de utilidade pública em 2009 pela prefeitura. A declaração foi revogada em 2013 a pedido da Promotoria do Meio Ambiente de Londrina, pelo risco de impacto ambiental na reserva. 

O prefeito Alexandre Kireeff descarta fazer uma análise de risco ambiental antes de ter a de viabilidade econômica. Outras empresas e consultorias se propuseram anteriormente a fazer o estudo financeiro do projeto, como a Agência dos Estados Unidos para o Comércio e Desenvolvimento (USTDA) e a Lufthanza Consulting, que desistiram no ano passado e fizeram com que o assunto Arco Norte esfriasse e voltasse para a gaveta. 

A proposta da USTDA era embasar um plano para vender o Arco Norte a investidores nos EUA, mas, desta vez, as estatais chinesas tem interesse em fazer os estudos para assumirem o projeto. Intermediário no negócio, o advogado especialista em importe de capital estrangeiro Bruno Pedalino afirma que as estatais chinesas atuam com construção e administração de projetos, desde hidrelétricas e aeroportos até condomínios. 

O interesse em assumir o projeto do Arco Norte se deu porque as empresas passaram a financiar obras fora da China e pretendem entrar na América Latina nos próximos anos. “Existem várias modalidades de operação com que eles trabalham, como construir e pagar por uma estrada, explorar o pedágio até recuperarem o investimento e os juros e depois devolver ao governo”, diz Pedalino, sobre uma possível parceria público privada (PPP). 

Ao município, caberia a doação do terreno. O advogado afirma que os chineses trabalham com juros de 6% ao ano e fazem operações em dólares ou reais, o que reduz o impacto em caso de flutuações cambiais. A Sinoconst, maior empreiteira estatal do país asiático, faria a construção e a AHCOF, os serviços de logística. “Devemos criar mecanismos, nós, da região de Londrina, para que as coisas aconteçam, para que as empresas cheguem, e os mecanismos eficazes dependem de se criar infraestrutura.” 

O presidente da Codel, Bruno Veronesi, enviaria ainda nesta semana o projeto para os chineses. Ele afirma que a administração foca, no momento, a ampliação do Aeroporto Governador José Richa, para que possa receber mais cargas, ampliar a demanda do terminal e viabilizar o Arco Norte para o futuro. “O fluxo foi 26 vezes maior no primeiro semestre deste ano do que no do ano passado e cerca de 65% da carga que tramita por Maringá é da Região Metropolitana de Londrina”, diz. 

Para Veronesi, a identificação de viabilidade facilitaria o interesse da iniciativa privada, mas o estudo pode custar até US$ 2,5 milhões (R$ 5,9 milhões). “Se não, vai ter de ser projeto de governo, mas, se houver demanda pronta em um arco de 150 km do aeroporto, as empresas financiam”, conta. No entanto, ele lembra que é preciso que a produção regional seja de alto valor agregado, para que o transporte aéreo se pague. 

Complexo pode migrar para Porecatu

O intermediário no negócio entre as estatais chinesas e o Instituto de Desenvolvimento de Londrina (Codel), o advogado Bruno Pedalino, afirma que não está descartada a possibilidade de o Arco Norte ser viabilizado em Porecatu, a 90 km de Londrina. Ele acredita que a maior parte das indústrias ainda se instalaria em Londrina, com o deslocamento de serviços ligados a logística para a cidade da região metropolitana. “Em São Paulo, foi o maior escândalo quando se falou em aeroporto internacional em Guarulhos, mas olha como é hoje”, diz. 

O prefeito Alexandre Kireeff afirma que qualquer negociação do tipo está nas mãos do presidente da Codel, Bruno Veronesi, que não quis comentar qualquer negociação com a Prefeitura de Porecatu. Ele disse apenas que não descarta um aeroporto regional. 

O consultor de negócios Marcelo Mafra, que trabalhou pela implantação do Arco Norte, considera que a migração mudaria totalmente o projeto inicial. “A área de influência seria diferente”, diz. Ele acredita que a análise sobre a viabilidade econômica deveria ter sido anterior à ambiental, porque a proposta buscava um projeto sustentável, semelhante a outros 60 que são executados hoje em todo o mundo. 

Mafra também avalia que todos os dados de levantamentos econômicos sobre logística dão o maior potencial de crescimento ao setor aéreo. “Regiões com esse posicionamento serão mais competitivas em médio prazo”, diz, ao lembrar que o complexo demoraria mais de uma década para ficar pronto e que é necessário planejar o futuro. 

Para o consultor, Londrina passou por turbulências políticas que inviabilizaram as discussões, além da falta de interesse do governo e da iniciativa privada em pagar pelo estudo, que chegou a ser cotado por 300 mil euros (R$ 911 mil). Apesar de considerar a grande influência do aeroporto londrinense sobre o maringaense, tanto pelo maior fluxo de carga como pela torre de comando regional ficar em Londrina, ele diz que a cidade vizinha está hoje mais organizada no setor. “É preciso fazer um projeto de desenvolvimento para Londrina, porque não temos espaço no Paraná para dois projetos do tipo.” (F.G.)

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