Por Paulo Briguet/Assessoria ACIL
Reforma política é um tema onipresente no Brasil atual. As
 duas palavrinhas supostamente mágicas são mencionadas no noticiário, nos
 parlamentos, nos gabinetes, nas universidades, nas redes sociais, nas conversas
 informais e até nas manifestações de rua. Mas, afinal de contas, o que
 significam? De que maneira o Brasil pode aperfeiçoar suas instituições
 políticas sem comprometer o desenvolvimento, a democracia e as liberdades
 públicas?
Esse foi o desafio proposto pela Faciap Jovem e o Conjove ACIL, que realizaram
 na última terça-feira, dia 5 de maio, o evento “Reforma
 Política: debate sobre um Estado mais eficiente”. Mais de 100 pessoas
 compareceram ao auditório da ACIL para ouvir três especialistas que analisaram
 da reforma política sob o viés econômico liberal. Entre o público presente ao
 ciclo de debates, estavam o prefeito de Londrina, Alexandre Lopes Kireeff; o
 presidente da ACIL, Valter Luiz Orsi; o presidente da Sociedade Rural do
 Paraná, Moacir Sgarioni. O ciclo de palestra faz parte do movimento cívico Brasil Mostra Sua Garra.
Os
 palestrantes da noite foram o costarriquenho Juan Carlos Hidalgo, o norte-americano Ilya Shapiro e o brasileiro Frederico
 Junkert. Eles ofereceram visões complementares e enriquecedoras sobre o
 tema.
 
 
Socialismo mata
 
 Juan Carlos Hidalgo, pesquisador do Cato Institute, falou sobre uma condição
 básica para qualquer sociedade democrática: o desenvolvimento econômico. “Não
 existe liberdade na política sem liberdade na economia”, afirmou Hidalgo.
 Segundo ele, uma economia pode ser considerada livre quando o tamanho do Estado
 não excede determinados limites; quando há respeito à propriedade privada e ao
 Estado de direito; quando existe estabilidade monetária; quando há liberdade
 para o comércio exterior; e quando as regulações comerciais, trabalhistas e de
 crédito não sufocam o dinamismo do mercado.
Os resultados da liberdade econômica são evidentes. Países economicamente
 livres são os que possuem maiores índices de desenvolvimento humano; maior
 expectativa de vida; menor mortalidade infantil; maior acesso à água potável;
 menor morbidade; menor corrupção; maior transparência; maior respeito ao meio
 ambiente. Em suma, conforme diminui o poder dos políticos sobre a economia,
 melhor é a vida das pessoas.
O controle sobre os meios de produção, preconizado pelo socialismo, é um caminho
 de morte, não de vida. Um exemplo importante é Índia, que adotou um modelo
 econômico fechado e socializante após a independência da Inglaterra, em 1947. “Se
 as medidas liberalizantes adotadas pelo governo indiano em 1981 tivessem
 entrado em vigor dez anos antes, 47 milhões de crianças deixariam de morrer no
 período. Quer dizer: o socialismo mata.” Hidalgo mostra essas lições da
 história recente e dá um recado claríssimo às autoridades brasileiras: “Se o
 Brasil quer vencer a pobreza, tem de investir em crescimento econômico, em vez
 de dar prioridade aos programas sociais. Se quer vencer a corrupção, precisa
 dar menos poder aos políticos sobre a economia.”
Menos e melhores leis
Ilya Shapiro
 nasceu na Rússia, ainda no período soviético, e com três anos migrou com sua
 família para a América Norte. É uma história mais ou menos parecida com a da
 escritora e filósofa Ayn Rand, grande defensora da livre iniciativa e da
 liberdade econômica. Shapiro hoje é professor da George
 Washington University Law School e escreve para o Wall Street Journal, Harvard
 Journal of Law e The New York Times.
Se Hidalgo
 abordou a questão da reforma política pelo aspecto econômico, Shapiro analisou
 o tema sob o ponto de vista jurídico. O palestrante norte-americano focalizou o
 documento fundador de qualquer país democrático: a constituição. “Todos os
 países nascem de uma constituição. Não precisa nem mesmo ser uma constituição
 escrita, como prova o exemplo da Inglaterra. Mas uma forte tradição
 constitucional é condição básica para uma sociedade estável e próspera.”
Uma constituição deve garantir três elementos fundamentais: transparência,
 previsibilidade e equidade. Infelizmente, algumas sociedades permitem um
 processo inflacionário que nada tem a ver com a economia, mas é igualmente
 fatal: a inflação legislativa. “Essa inflação leva a uma desvalorização da lei.
 Sua legitimidade é colocada em dúvida. Leis em número excessivo perdem a
 respeitabilidade e a eficácia.”
Na opinião de Ilya Shapiro, o mundo moderno exigem constituições simples e
 claras. Isso faz lembrar o pensamento do economista e professor José Monir
 Nasser: “Se um candidato diz que vai criar novas leis, não vote nele. Vote em
 candidatos que vão diminuir o número de leis”.
Menos poder para o Estado
 
 O advogado Frederico Junkert abordou o tema da reforma política sob o viés
 ideológico. Ele falou sobre o longo processo de doutrinação política
 desenvolvido pela esquerda brasileira, que culminou com a vitória de Lula na
 eleição presidencial de 2002. Junkert explica que o PT e os partidos de
 esquerda brasileiros adotaram a estratégia criada pelo filósofo italiano
 Antonio Gramsci, que substitui a tomada revolucionária do poder pelo gradativo
 psicológico sobre as massas. “A revolução gramsciana se dá com a ocupação de
 espaços e a infiltração de intelectuais orgânicos em escolas, universidades,
 imprensa, igrejas, ONGs e instituições culturais”, afirma Junkert. A ideia é
 formar “um novo senso comum”, para que as ideias socialistas – basicamente de
 controle sobre as pessoas, as empresas e as instituições – sejam vistas como
 uma solução natural para a vida em sociedade.
Doze anos depois, o resultado do sonho petista é a atual situação brasileira.
 Um país falido, consumido pela corrupção, com baixos níveis educacionais,
 baixos níveis de produtividade e altos índices de violência (70 mil
 assassinatos por ano, mais do que países em guerra civil). Uma economia
 fechada, em que 25% da população recebe Bolsa Família e 11 milhões de
 servidores públicos, 5% da população, consomem 12% da renda nacional. Um país
 em que os cidadãos trabalham até o final maio para pagar impostos e não recebem
 contrapartida em serviços públicos de qualidade. Um país em que a principal
 empresa estatal foi devastada por desvios de recursos e aparelhamento político.
A origem do quadro brasileiro está diretamente ligada ao Foro de S. Paulo, instituição criada por Lula e Fidel Castro em
 1990, com o objetivo declarado de recuperar na América do Sul aquilo que os
 movimentos socialistas perderam nos países do Leste Europeu com a queda do Muro
 de Berlim, em 1989. Quando o Foro de S. Paulo foi criado, havia apenas um país
 socialista na América Latina: Cuba. Hoje os partidos socialistas governam a
 maioria das nações sul-americanas.
Da mesma forma que sequestrou palavras como cidadania, ética, justiça social e
 participação popular, distorcendo-lhes o sentido original, o Foro de S. Paulo
 criou o seu próprio conceito de reforma política. Para o PT e seus aliados,
 reforma política significa voto em lista fechada, estatização do financiamento
 eleitoral, fortalecimento dos coletivos não-eleitos (“conselhos populares”) e
 controle da mídia (o nome esquerdista para censura). É uma receita para
 perpetuar o partido governante no poder e sufocar a oposição, como já está
 ocorrendo na Venezuela e na Argentina.
Muito ao contrário – ressalta Junkert – a reforma política que o Brasil precisa
 passa pelo financiamento privado de campanhas; pela discussão do pacto
 federativo (com uma divisão mais justa dos recursos entre União, estados e
 municípios); cláusula de desempenho para os partidos políticos (acabando com a
 farra do fundo partidário); fim da contribuição sindical obrigatória e adoção
 do voto distrital. “As manifestações de rua contra o governo apontam claramente
 nessa direção: é preciso fortalecer os indivíduos e diminuir o poder do Estado.”
 – Em
 breve, a ACIL vai disponibilizar cópias em vídeo das palestras de Juan Carlos
 Hidalgo, Ilya Shapiro e Frederico Junkert. 



