Fonte: Renato Oliveira – Revista Mercado em Foco – ACIL
Dizem que uma das escolhas que
mais pode comprometer a vida de qualquer pessoa é a carreira
profissional. Um errinho de cálculo pode representar anos perdidos.
Ou o contrário: uma aposta pode dar certo, e muito certo. E este foi
o destino do empresário Flávio Antonio Meneghetti que, em 1973,
estava diante de um dilema.
Nascido em Cândido Mota e
formado em Administração de Empresas, havia acabado de receber uma
promoção do First National Bank of Chicago para trabalhar na matriz
nos Estados Unidos. Era (e até hoje é) o sonho de qualquer jovem
executivo. Mas um desafio proposto por seu pai, Paschoal Meneghetti,
mudaria completamente seu destino profissional.
Divisor
de águas
Aos
25 anos de idade, Flávio deveria escolher entre seguir a carreira no
banco ou voltar para Londrina e assumir o novo negócio que o pai
planejava. Era a decisão da sua vida. “Quando voltei dos Estados
Unidos, em julho de 1973, ele veio com essa história de assumir a
Marajó. Falei que não dava, pois tinha acabado de voltar de
Chicago. O banco tinha investido em mim. Ficaria muito chato pedir
demissão”, recorda. Ele diz que ficou segurando a situação até
setembro, quando a direção do banco o procurou para dizer que
voltaria para os EUA. “Aquilo foi o limite e tive que abrir o jogo.
Eu estava sendo promovido e os caras ficaram de queixo caído quando
pedi demissão”.
Mas o caminho estava trilhado.
Logo em seguida Flávio se repatriou ao Norte do Paraná para se
tornar sócio-fundador da Marajó Comércio de Veículos, ao lado de
outros quatro empresários: Vitor Bastos, Rubens Accorsi, o
ex-prefeito Wilson Moreira e o antigo companheiro de negócios de seu
pai, Elias Montosa.
Ousadia
nos negócios
A Marajó se originou depois
de um gesto ousado do Sr. Paschoal Meneghetti. De uma só vez, o pai
de Flávio comprou dez caminhões da Fábrica Nacional de Motores
(FNM), a popular Fenemê. O objetivo de Paschoal era aumentar a
distribuição de combustível da Texaco, que ele havia iniciado em
1956. Na época, além da fábrica de caminhões estatal, havia
outros dois concorrentes: Scania e Mercedes Benz,
tocados respectivamente pelas famílias Lopes e Jabur. Quem quisesse
comprar um Fenemê tinha que ir a Maringá ou Apucarana.
Assinados os papéis, a Marajó
tornou-se a principal vitrine de uma Fenemê desacreditada no
mercado. Flávio lembra que a construção do prédio da
concessionária, que fica na Avenida Tiradentes, era um “verdadeiro
elefante branco”. “Foi por falta de orientação e conhecimento
que construímos essa estrutura; era muito maior do que precisávamos
na época. Mas a FNM via que a Marajó estava investindo e usava isso
para mostrar para os outros que tinha gente que confiava nela. Era o
grande projeto deles”, conta.
A
Fiat entra na história
Mas
dois anos depois, em 1975, uma reviravolta no mercado colocou a Fiat
no caminho da Marajó. O empresário lembra que a fabricante italiana
de carros comprou a estatal de caminhões brasileira e virou a Fiat
Diesel Brasil S/A, que acabou se tornando o grande negócio da
sociedade. “E, nós, da Marajó, emitimos em primeiro de novembro
de 1976 a primeira nota fiscal de automóvel: o Fiat 147”, recorda,
com orgulho.
No ano seguinte, Flávio
Meneghetti aproveitou para correr atrás de um projeto que seria o
primeiro consórcio de carros da Fiat no mundo. Ele procurou na época
três revendedores no Paraná – em Maringá, Paranavaí e Cascavel,
para dar o pontapé inicial na empreitada. “As negociações
empacaram por causa do nome, que seria Marajó. Expliquei que esse
não seria o problema e poderíamos mudar. Já que estávamos unidos,
chamou-se União. Assim toparam vender nosso consórcio.”
A partir daí, o empresário
acompanhava de perto cada cidade que abria uma concessionária para
vender os carros da marca italiana. Até a metade dos anos 80 o
Consórcio União tinha revendedores em Campo Mourão, Toledo, Foz do
Iguaçu, Guarapuava, Ponta Grossa e Curitiba, além de cidades no
Estado de São Paulo como Assis, Presidente Prudente, Bauru, Campinas
e até na capital paulista. Sem falar do Rio de Janeiro. “Depois
disso chegamos a comprar consórcios em Uberlândia e Cuiabá. Assim,
o consórcio União cresceu”.
Liderança
e visão de futuro
No final da década de 80,
Flávio consolida sua atuação na marca Fiat. Ele assume a
vice-presidência da Associação Brasileira de Concessionárias Fiat
(Abracaf) entre 1989 e 1991. Em 2004, desfez a sociedade com os
outros empresários. As família Accorsi e Montosa ficaram com o
Consórcio União. Já a família Meneghetti, que tem Flávio e os
irmãos Cláudio e Madalena como sócios, ficou com a Marajó
Automóveis.
Atualmente, Flávio se dedica a
projetos no mercado imobiliário. Em 2014 lançou um empreendimento
na região norte de Londrina. Os três filhos, Flávia, Eduardo e
Felipe estão à frente da Marajó que possui duas lojas: uma na
Avenida Tiradentes outra na Higienópolis.
Agraciado
com o título de Cidadão Honorário de Londrina no ano passado,
Flávio é uma liderança ativa e influente no empresariado local. É
um dos idealizadores do Plano de Desenvolvimento de Londrina (PDI),
de 1992 a 1994. Também criou o Movimento Londrina Competitiva, que
modernizou a Prefeitura de Londrina nos anos de 2010 e 2011. E se
dedica a negociação de uma união de forças com ACIL, Sociedade
Rural do Paraná (SRP) e outras entidades em apoio ao prefeito
Alexandre Kireeff (PSD) na duplicação da PR-445, sentido
Londrina-Mauá, para desafogar o gargalo da industrialização local.
Paschoal,
o frentista que virou empresário
O
espírito empreendedor de Flávio Meneghetti vem da família. O
primeiro negócio de seu pai, Paschoal Meneghetti, foi comprar um
caminhão Studebaker, em 1948. Segundo Flávio, ele aprendeu a
dirigir quando serviu o exército em 1945 e virou frentista três
anos depois, quando se casou com Thereza Meneghetti. Neste ano nasce
o primeiro filho do casal, Flávio Meneghetti, em Cândido Mota.
Depois de passar uma temporada em
São Paulo fazendo fretes, a família mudou-se para Assis e Paschoal
passou a trabalhar para a Irmãos Breve transportando combustível.
Em 1954, chegou em Londrina e dois anos depois já tinha três
caminhões e era representante da Texaco na região. “Isso foi o
ponto da virada da vida dele. Quando deixou de ser um motorista de
caminhão para um pequeno empresário. Foi criada a transportadora
Meneghetti, em 1956.”
Nessa época, Pascoal se
aproximou de um funcionário da Texaco que viria a ser seu sócio:
Elias Montosa. “Meu pai tinha o terceiro ano primário que ele
cursou na roça. Ele era um homem muito inteligente, mas com pouco
estudo. Isso o Elias tinha. Ele era o caixa. Mexia com todo o
dinheiro. Nisso, virou sócio de meu pai”, conta Flávio.
Pascoal Meneghetti faleceu em
setembro de 2010, aos 89 anos de idade.