A ciência da felicidade pode melhorar o ambiente de trabalho

Técnicas com foco na psicologia positiva são utilizadas como recurso para bem-estar do colaborador, de forma a melhorar a produtividade e autorrealização

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Fonte: Marian Trigueiros – Revista Mercado em Foco/ ACIL

Passados poucos mais de dois anos do início da pandemia no Brasil e todas as mudanças que as medidas sanitárias refletiram na vida das pessoas, sobretudo rotina de estudos e trabalho, nunca se falou tanto em doenças como Síndrome de Burnout (ou Síndrome do Esgotamento Profissional), depressão, ansiedade e a importância dos cuidados com a saúde emocional. Se, até pouco tempo atrás, essa era uma área da vida tratada como tabu no meio corporativo, agora, organizações começam a investir ou reforçar programas e ações ainda mais focadas no bem-estar, qualidade de vida e prevenção de doenças de cunho emocional de seus colaboradores. 

Engana-se, porém, quem pensa que essas ações sejam baseadas apenas no famoso “modelo Google”, que revolucionou o padrão das estruturas físicas das empresas ao ofertar mesas de pingue-pongue, redes e puffs para descansar ou, ainda, fornecimento de bebidas, lanchinhos e sessões de massagem durante o expediente. Vale ressaltar, ainda, que, somando-se à estrutura, estão opções de horários flexíveis, estações de trabalho ergonômicas, políticas generosas de licença, programa de alimentação saudável e aulas de ginástica que refletem diretamente na qualidade de vida do colaborador dentro da empresa. 

Mas, se essas medidas não são suficientes, o que é preciso fazer dentro das organizações? Além de todos os itens citados, a pandemia veio reforçar que, além da possibilidade de trabalho híbrido – ora presencial, ora remoto (pelo home office) – existe a necessidade de a empresa ou empregador oferecer respaldo emocional à sua equipe para que esta se mantenha coesa e ativa. Com isso, líderes e gestores estão descobrindo um novo recurso organizacional: a psicologia positiva mundial, baseada nos conceitos da “ciência da felicidade” ou “neurofelicidade”, termo que, a cada ano, ganha mais espaço entre as políticas de gestão empresarial. 

Intervenções 

Segundo Henrique Bueno, especialista em felicidade, CEO e fundador do Wholebeing Institute Brasil e da Academia da Felicidade, por meio de ferramentas comportamentais é possível aprender e praticar intervenções revolucionárias dessa nova ciência, que é capaz de promover bem-estar espiritual, físico, intelectual, relacional e emocional em todos os âmbitos da vida, entre eles, o profissional. “A psicologia positiva ensina que a construção de mais felicidade não acontece de forma intelectual ou racional. Existe, de fato, uma parte química que legitima a felicidade, mas, hoje, temos o entendimento de que somos capazes de produzir experiências que nos levem à felicidade”, explica. 

Pode parecer simples, e realmente é, caso não fôssemos treinados equivocadamente durante quase toda a vida. “Apenas querer ser feliz não nos serve de nada para, efetivamente, realizar esse sonho. Uma vida mais feliz pode e deve ser construída todos os dias, com escolhas e ações: a somatória desse conjunto é que, ainda que indiretamente, faz nossa felicidade se elevar”, sintetiza Bueno, que também é facilitador de programas de felicidade, liderança e comunicação que podem ser aplicados em empresas e seus colaboradores, resultando em melhor produtividade de maneira qualitativa e harmônica. 

Em outras palavras, é correto dizer que a psicologia positiva não se trata de tentar eliminar a tristeza ou qualquer outro sentimento negativo da vida, pois esses são inerentes à existência humana, mas apresentar um conjunto de técnicas que viabilizam estratégias para a promoção das experiências e dos sentimentos que nutrem o bem-estar de cada um. “Tudo é calcado na mudança de foco. Mais felicidade, portanto, pressupõe cuidar da saúde física (com alimentação, movimento e repouso), mas, também, refletir sobre os padrões de pensamento e como eles influenciam nosso corpo. A ciência da felicidade trabalha uma nova perspectiva do ambiente e das relações humanas a partir do estudo das emoções positivas, virtudes e potencialidades de cada indivíduo.” 

Evidências 

Segundo Bueno, existem modelos baseados em evidências empíricas que definem quais são os componentes que refletem na felicidade. “Um dos conceitos mais conhecidos é o Perma, do professor Martin Seligman, que afirma que a felicidade é composta de mais emoções positivas, engajamento (ou flow), relacionamentos positivos, sentido ou propósito e senso de realização e conquista.” Porém, atualmente, os programas dos quais é facilitador usa o modelo criado pelos pesquisadores Tal Ben-Shahar, Megan Mc Donough e Maria Sirois, cunhado como “spire” de felicidade integral, que parte do conjunto de bem-estar espiritual, físico, intelectual, relacional e emocional. 

Nos programas baseados na ciência da felicidade, de acordo com ele, é possível, portanto, compreender os princípios fundamentais da psicologia positiva, praticar novas perspectivas, aprender a mudar a mentalidade para conquistar a positividade, concentrar a atenção no positivo para obter mais criatividade, motivação, saúde e sucesso geral. “Além disso, aprende-se a aplicar o modelo “spire” de felicidade e bem-estar integral para aumentar a apreciação e a aplicação de uma visão multifacetada da prosperidade.” Nesse sentido, o departamento de gestão de pessoas, junto com a liderança, é responsável em pensar como podem melhorar o bem-estar no trabalho da sua equipe para garantir que cada colaborador se sinta valorizado, cuidado e, consequentemente, mais feliz. 

Ambiente 

Outro aspecto, conforme o especialista, é aprender a aplicar conceitos da ciência da felicidade no dia a dia da rotina profissional, para que o indivíduo experimente a autorrealização, fato que torna as pessoas mais focadas no local de trabalho. Dentre os principais benefícios estão ainda o estresse reduzido, diminuição do absenteísmo e dos custos de saúde, aumento e melhoria da produtividade, facilidade em identificar e explorar os seus pontos fortes (forças de caráter) para construção da sua melhor versão, aumento do engajamento dos funcionários, força de trabalho mais resiliente e melhor retenção da equipe. “Por isso, os programas de bem-estar no trabalho que promovem estilos de vida mais saudáveis e consideram o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional são tão benéficos para as empresas quanto para os próprios funcionários. Todos saem ganhando”, sintetiza Bueno. 

Método 

Dentre as técnicas utilizadas estão ferramentas para ação e intenção, em que o aluno aprende o "set-point" da felicidade, ou seja, a maneira habitual de voltar a um nível emocional confortável e como é possível elevar esse nível de felicidade ao longo do tempo por meio de escolhas e ações. Outra ferramenta é aprender sobre as cinco dimensões do bem-estar e como colocar os pontos fortes à frente e no centro da vida. O método ajuda, ainda, a entender o motivo pelo qual as emoções positivas são importantes e como a visão do mundo das pessoas é moldada pelas lentes emocionais utilizadas, bem como mostra que o que se pensa afeta o que se sente e como nos portamos, para que seja possível escolher a forma de se portar para alterar a emoção. 

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