Fonte: Jornal de Londrina
Desde 2008 apontada como a campeã nacional da reciclagem – à frente até mesmo de São Paulo – Londrina agora aparece apenas no quarto lugar do ranking nacional da coleta seletiva.
O dado está no levantamento da Pesquisa Ciclosoft 2010, publicado a cada dois anos pelo Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), instituição independente que monitora a gestão de resíduos em nível nacional. No Brasil, 443 municípios têm o serviço público disponível – o equivalente a 8% das cidades.
As informações reunidas pelo Cempre mostram que Londrina coleta hoje 1.760 toneladas mensais de recicláveis – perto de 60 toneladas/dia. O total é praticamente a metade do que a Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU) divulgava durante o mandato do ex-prefeito Nedson Micheleti (PT).
Na gestão passada, a Prefeitura de Londrina afirmava – sem pesar nada, apenas com base em “estimativas” – que a cidade separava a incrível marca de 3.500 toneladas de resíduos mensais – quase 116 toneladas/dia. Lixo supostamente separado por moradores, comércios e indústrias da cidade.
Prêmios
Especialistas ligados à gestão de resíduos não descartam que a estimativa anterior, posicionando a cidade em primeiro lugar na reciclagem e que rendeu até prêmios para Londrina, foi inflada pela própria CMTU. Apenas na atual gestão, a Prefeitura começou a estabelecer métodos de medição de resíduos e passou a pagar R$ 0,02 a cada casa onde há a coleta porta a porta.
Entretanto, a medição e pesagem que estão ainda em desenvolvimento representam menos da metade da cidade: do total de 180 mil domicílios no total, agora a CMTU diz ter controle sobre o que se coleta em 80 mil – o que significa que 100 mil residências em Londrina ainda estão fora da conta – e não há garantias de que estejam todos dentro da coleta. Sem gestão de resíduos consolidada, até hoje não houve pesagens oficiais e confiáveis da totalidade dos recicláveis gerados na cidade.
Sem método
“Não temos ainda um método e buscamos como fazer uma medição correta”, afirma Marilys Garani, diretora da coleta seletiva na CMTU. “Ainda não chegamos ao modelo”, confirma a responsável. Segundo a diretora, os dados do Cempre podem ter sido informados por estimativas, mas ela não soube precisar como.
“Medir ainda é uma dificuldade. Os dados informados pelas prefeituras podem variar até mesmo de uma gestão para outra”, atesta Ivo Milani, pesquisador do Cempre. Ele não afasta a possibilidade de que os números de Londrina tenham sido superestimados anteriormente.
Sobram resíduos; faltam catadores e barracões
Na nova Central de Tratamento de Resíduos (CTR) aberta há menos de três meses, é possível ver montanhas de recicláveis sendo aterrados chegando pelos caminhões a todos momento – e com altos custos econômicos e ambientais para a cidade.
Atualmente, faltam catadores, barracões e os locais de armazenamento existentes estão abarrotados. “Desde setembro, o volume de resíduos já cresceu uns 30%” afirma Marilys Garani, gestora da coleta seletiva na CMTU. No centro da cidade, a distribuição de sacos verdes pulou de 700 unidades para 1400 unidades semanais. “A questão ambiental já é um problema. Estamos com falta de trabalhadores”, diz a gestora.
Atualmente, a Coopersil, única cooperativa reconhecida formalmente, agrega apenas 175 dos 440 catadores existentes antes do novo formato de gestão. Entretanto, o sistema precisa de pelo menos 570 trabalhadores – mas a Prefeitura ainda não consegue convencer trabalhadores independentes de rua a aderir definitivamente ao sistema.
Trabalhando na coleta seletiva desde 2005, Vilma Santos Costa, 43 anos, mora no Jardim Felicidade, na zona norte, a pequena vila para onde moradores de casas humildes trazem resíduos coletados em prédios e lojas do centro de Londrina.
É na periferia, longe dos olhos dos consumidores, que o lixo fica armazenado ao ar livre. Sem barracão ou qualquer estrutura, Vilma viu os resíduos coletados se esvaírem na enxurrada que arrastou os sacos ladeira abaixo do local em frente de casa – originalmente uma praça – que serve como local de armazenagem do lixo da classe média londrinense. “Faço serviço de graça e fico com o dinheiro da venda do lixo. A população reconhece o nosso trabalho, mas duvido que alguém saiba que o lixo de um apartamento vem parar aqui”, afirma a catadora.