Fonte: Renato Oliveira/Jornal da ACIL
Ideias inovadoras podem gerar grandes negócios. Quando se arrisca, a possibilidade do acerto é igual à do fracasso. Se é que existe fracasso. De tudo é possível se tirar proveito e experiência. O fluxo de estudantes rumo às universidades públicas e privadas sempre deixou evidente a força do setor educacional de Londrina.
O ano passado foi marcado pela aquisição da Universidade Norte do Paraná (Unopar) e do Sistema Maxi de Ensino por holdings do setor. Quem pensa que foi o modelo tradicional de ensino que chamou a atenção, engana-se. O potencial do ensino a distância (EAD) e o modelo de sistema de ensino foram decisivos nos negócios envolvendo as duas empresas.
Quem fez o estudo de mercado antes da Kroton Educacional, empresa controlada pelo grupo americano Advent, comprar a Unopar em dezembro passado pelo astronômico valor de R$ 1,3 bilhão foi o consultor Carlos Monteiro, da CM Consultoria, de Marília. O que embasou o crivo do especialista foi o bom momento que o EAD vive nas regiões Norte e Nordeste.
Mas, dentro de um contexto de fusões e aquisições, o negócio funcionou como uma ofensiva ao grupo Anhanguera, que havia se fundido à Uniban em setembro, numa transação de R$ 510 milhões. “Foi como uma estratégia de xadrez. Dois jogadores resolveram descartar duas peças valiosas ao mesmo tempo”, compara Monteiro.
O consultor informa que a família Laffranchi conhecia o modelo desde os anos 90, mas demorou para colocar o EAD em prática. Muitos achavam que não daria certo. O espírito empreendedor falou mais alto e o trabalho realizado entre 2003 e 2011 foi fundamental para o mercado assistir ao maior negócio da educação até hoje. “Sem dúvida, eles são os pioneiros”, sublinha.
Monteiro revela que a Kroton pretende ampliar o portfólio de 12 cursos “a toque de caixa”. Tudo para aproveitar programas do Governo Federal que almejam chegar aos 10 milhões de estudantes matriculados em cursos de graduação até 2020. E o ensino a distância é o trunfo para atingir tal marca. Números de 2010 estimam em cerca de 6,4 milhões de matrículas ativas e o setor acumula uma alta de 7,1% com relação ao ano anterior (2009), segundo o governo.
O reitor da Unifil, Eleazar Ferreira, ressalta que o tradicional modelo presencial de ensino não é tão interessante enquanto negócio. Segundo ele, o que teria pesado na decisão da Kroton foi o potencial que o EAD possui em regiões onde existe uma classe C crescente. “Hoje ocorre um movimento histórico de saída da educação presencial”, constata.
Na análise do reitor, “a educação presencial não gera riqueza em escala”. Ele acredita que o retorno decorre da “formação de mão de obra especializada e de polos de profissionais qualificados, mas não para o empresário”. Ferreira cita a falência dos Colégios Canadá e Delta como exemplos de que o modelo tradicional gera muitos custos, mas pouco retorno. “Tudo que é em escala, quanto maior, mais lucrativo é”, pontua.
Carlos Monteiro acredita que, diante da formação de conglomerados na educação, a saída para universidades menores é investir na regionalização. “Nunca é recomendável reduzir preços para competir. Isso sempre dá errado. É melhor aproveitar o nome que tem na região e investir na fidelização de quem já conhece a instituição”, aconselha.
Sistema de ensino londrinense foi comprado pela Abril
O professor Manoel Machado, diretor de marketing do Colégio Universitário, explica que o sistema de ensino do Grupo Maxi foi fundamental para que a Editora Abril fechasse o negócio de R$ 43 milhões. Presente em 20 estados no Brasil e no Japão, inúmeras são as escolas que adotaram o material didático criado em Londrina pelos professores e diretores do Sistema Maxi de Ensino.
Machado conta que a Abril já controla outros dois concorrentes importantes no setor: os sistemas Anglo e SER. “Muitas escolas já estão optando pelos sistemas ao invés dos tradicionais livros avulsos das editoras. Por isso esses grupos estão de olho no potencial do ensino público. Imagina as escolas estaduais e municipais comprando ou recomendando para os pais o material dessas empresas? É muita coisa”, estima.
Ele destaca que o negócio foi uma pechincha se considerados alguns pontos como a abrangência (presença em 20 estados brasileiros e Japão) e potencial de crescimento. É também uma forma de manter-se à frente do grupo Pearsons que havia comprado o Sistema COC em julho de 2010.
“A abrangência é um caminho para a Abril divulgar inclusive seus outros sistemas (Anglo e SER). Hoje assistimos no Brasil a uma corrida pelos sistemas de ensino. Somando os grandes, médios e pequenos são 70 sistemas. A tendência é que a maioria esteja congregada em cincos megagrupos daqui há dez anos visando o ensino público”, aposta Machado.