O ministro Guido Mantega segue dizendo que tem uma infinidade de opções à sua disposição para enquadrar o câmbio. Com isso passa a impressão de que a solução está logo aí, na gaveta da frente.
E, na verdade, não há como inverter a tendência à valorização cambial (baixa do dólar) no Brasil. Isso posto, é preciso ajustar a economia de modo a conviver com moeda forte.
Não há quem não esteja preocupado com a atual tendência à valorização do real, situação que tira competitividade do produto nacional porque o deixa mais caro em dólares.
A economia brasileira está se fortalecendo por várias razões. Porque está mais equilibrada, tem um forte mercado interno e é uma das economias do mundo com mais perspectivas.
Ainda ontem, John Drzik, do Fórum Econômico Mundial, com sede em Davos, na Suíça, advertiu que, até 2030, a procura global por alimentos crescerá 50%; a por energia aumentará 40%; e a demanda por água doce, 30%. E, atenção: 2030 está logo aí; são apenas 19 anos.
O Brasil tem um enorme potencial para atender a essa demanda, na condição de grande produtor de alimentos, de energia e de água doce. E basta isso para se ver que o País está fadado a ser uma economia forte – a menos que os brasileiros façam enormes besteiras.
O problema é que economia forte tem necessariamente moeda forte, independentemente do arsenal contra valorização cambial que o ministro garante ter à sua disposição. Em entrevista concedida a jornalistas brasileiros em novembro, o presidente do Banco de Israel (banco central), Stanley Fischer, advertia que não é possível ter economia forte com moeda fraca. Essa verdade já está martelando na cabeça dos brasileiros e vai continuar a martelar nos próximos anos.
Até agora, sempre que, por uma razão qualquer, o produto nacional perdia competitividade, o governo tratava de providenciar uma desvalorização cambial. Mas esse truque acabou. O País tem de se acostumar a tirar competitividade não mais da desvalorização cambial, que está ficando cada vez mais difícil, mas por meio do aumento da produtividade e da redução do custo Brasil.
A Alemanha nem moeda tem e, portanto, não pode manobrar o câmbio para desvalorizar sua moeda para dar competitividade a seu produto. No entanto, a partir do momento em que tomou a decisão de abrir mão da soberania monetária, o governo da Alemanha não fez outra coisa senão garantir competitividade por outros meios. Eles impuseram austeridade às contas públicas maior do que a dos outros países da área do euro, comprimiram os salários e as aposentadorias, fizeram reformas de base e investiram em infraestrutura, o que reduz custos de produção e de distribuição. Hoje, mesmo sem moeda, os alemães são os campeões da competitividade de toda a Europa e não só da área do euro.
O Brasil não é a Alemanha e ninguém espera que repita a trajetória vencedora desse país. No entanto, vai ter de descobrir outro jeito de ter uma economia forte com moeda forte.
Felizmente há muito espaço para a redução do custo Brasil. É derrubar o excesso do custo do Estado, derrubar a carga tributária excessiva, derrubar os juros escorchantes, derrubar o custo da Justiça, fazer as reformas… O ministro Mantega tem razão, há uma infinidade de providências a tomar.
Fonte: O Estado de São Paulo