Fonte: JL
O economista Robert Shiller, um dos vencedores do prêmio Nobel de Economia deste ano, afirmou, no mês passado, que o Brasil pode estar vivendo uma bolha imobiliária parecida com a que se formou nos Estados Unidos, em 2008, e que deu origem à crise econômica. A justificativa para esta tese, segundo ele, é a alta, aparentemente sem explicação, no preço dos imóveis. A bolha é formada pelo processo de rápida elevação e queda dos valores. No atual cenário, Shiller disse que não investiria no mercado brasileiro.
Em Londrina, segundo dados do Sindicato de Habitação e Condomínios do Paraná (Secovi), o preço médio do metro quadrado residencial usado subiu 97,48% em cinco anos, passando de R$ 1.174,98 em 2009 para R$ 2.320,48 em 2013. Nos imóveis comerciais a alta foi ainda maior, 136,30%, de R$ 941,72 para R$ 2.225,29 o metro quadrado, em média. Em relação ao ano passado, a alta do preço médio do metro quadrado dos imóveis residenciais foi de 15,88%, e dos imóveis comerciais, 7,51%.
Precaução
No entanto, nos últimos cinco anos o rendimento dos salários não acompanharam esse crescimento. O acumulado do INPC, índice de inflação utilizado no reajuste salarial, foi de apenas 37,77%, de janeiro de 2008 até setembro de 2013. No ano passado, o salário do trabalhador londrinense foi, em média, de R$ 1.800,49, e de R$ 1.605,48, em 2011, de acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese/ER-PR).
A bolha no mercado imobiliário londrinense está se instalando, segundo a professora de economia Clévia França. “A bolha está instalada quando o consumidor a enxerga, e ainda tem muita gente alienada”, diz. Clévia conta que os integrantes desse mercado já sentiram a proximidade de uma crise. “Os investidores estão esperando, e quem tem imóveis para vender está vendendo a um alto preço. Vai fazer um bom negócio quem tiver dinheiro quando o preço começar a cair”, diz. De acordo com a economista, o risco de aumento na inadimplência é um grande ameaçador para os construtores. “No ano passado, quando alguns economistas falavam que o mercado imobiliário iria passar por uma crise dentro de quatro ou cinco anos eu cheguei a discordar; mas agora, acredito nessa previsão.”
“Não tem ninguém que não esteja apreensivo com o mercado imobiliário”, diz o professor de economia Marcos Rambalducci, mas a alta no preço dos imóveis ainda não parece ser uma bolha, na visão dele. O aumento na oferta de apartamentos e residências em Londrina veio atender a uma demanda que existia, mas ele questiona se o mercado ainda é capaz de absorver tantos imóveis. “Se continuar a crescer a oferta, até quando o mercado suporta? Precisaria de uma pesquisa que indicasse qual a real demanda imobiliária em Londrina; e essa demanda tem de ser por pessoas que compram para morar, se não, o mercado não suporta.”
Sindicatos descartam risco de crise
Na contramão do estado de alerta dos economistas, representantes do setor da construção civil afastam a ideia de bolha imobiliária. Para o presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis (Sincil), Marco Antonio Bacarin, é prematuro afirmar que haja risco de crise. “O economista vencedor do prêmio Nobel avaliou que os preços subiram muito, e esse é um dos itens para a bolha; mas aqui a alta foi por outros motivos, que não a especulação.”
Sem especulação
Bacarin explica que o mercado local está aquecido em razão da evolução no poder de compra e maior acesso ao crédito. “Até 2006, as pessoas não conseguiam comprar. Com as mudanças na oferta de crédito, aumento da renda, taxas de juros mais baratas e o prazo para pagamento, que passou de 15 anos para 30 anos, diminuíram o valor das prestações, facilitando a compra.” Em relação ao valor, Bacarin afirma que nos últimos 20 anos os imóveis sofreram apenas aumento acompanhando a variação econômica.
“A oferta de imóveis é casada com a demanda. Não tem gente em fila para comprar, nem especulação”, garante Gerson Guariente Júnior, presidente do Sindicato da Indústria e Construção Civil de Londrina (Sinduscon). O risco de inadimplência também não preocupa o setor. “O índice de inadimplência é baixo, devido ao financiamento por arrendamento residencial, pois se atrasar parcelas, perde o imóvel.”
Na avaliação de Marcos Moura, diretor do Sindicato de Habitação e Condomínios do Paraná (Secovi), o mercado de imóveis deve se acomodar, mas os lançamentos vão continuar, porém mais focados no resultado de pesquisas que apontem as necessidades dos clientes. “Quem compra um bom imóvel não tem dificuldade na revenda”, diz.
Os representantes dos sindicatos são unânimes em assegurar que o consumidor pode investir na compra de imóveis sem medo.