Ferrovia Norte-Sul: O futuro passa por aqui

Região Norte se une para ter de volta o traçado original sobre trilhos que vai melhorar a infraestrutura e logística no eixo Londrina-Maringá

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Por Susan Naime/ACIL

Lideranças empresariais, políticas, do agronegócio e instituições da sociedade civil organizada estão unidas para defender a inclusão da região Norte do Paraná no traçado da Ferrovia Norte-Sul, projetada pelo Programa de Investimentos em Logística (PIL), do Governo Federal, com o objetivo de estimular as transações comerciais no mercado interno.

Originalmente, a malha ferroviária parte de Panorama (SP), passa pelo Norte do Estado, onde segue por Apucarana, contempla as regiões metropolitanas de Londrina e Maringá até chegar em Guarapuava e Pato Branco. Em seguida é direcionada a Santa Catarina (passando por Chapecó e Erechin), até chegar no Rio Grande do Sul, onde passa por Passo Fundo, Roca Sales, Montenegro, Triunfo/Gen Luz, Pelotas e Rio Grande.

Porém, em agosto de 2012, o movimento do Norte do Paraná foi pego de surpresa ao saber que o traçado da ferrovia havia sido alterado após articulações de lideranças do Oeste paranaense e do Mato Grosso do Sul. Pelo novo planejamento a interligação será por Maracajú (MS) e depois volta ao Paraná por Guaíra, Cascavel e Guarapuava, excluindo o trecho compreendido no Norte Paranaense.

Para o vice-prefeito de Apucarana e diretor-presidente do Instituto de Desenvolvimento, Pesquisa e Planejamento (Idepplan), engenheiro Sebastião Ferreira Martins Junior, os prejuízos com a alteração do traçado original são imensuráveis. “O Norte do Paraná é uma das regiões que mais cresce no país. É a região mais produtiva do Brasil em termos de grãos. É onde tem as melhores terras para soja, milho, feijão e tantas outras coisas. É também a região que produz muito álcool e açúcar. São 3,2 milhões de toneladas de açúcar, 1,4 bilhão de litros de álcool, fora os 2 bilhões de litros de álcool que passam por aqui indo para Santa Catarina e Rio Grande de Sul. O traçado original vai nos ligar a todo mercado consumidor brasileiro de uma forma ágil, rápida e eficiente. Já com esse novo traçado vamos perder um grande diferencial competitivo, vamos continuar sofrendo com pedágios e com ferrovias antigas”.

A infraestrutura utilizada nas ferrovias que atendem a região é outro fator preocupante. Segundo o engenheiro, os projetos das ferrovias foram elaborados há quase 70 anos, o que aponta para a urgente necessidade de modernização. “A bitola [largura determinada pela distância medida entre as faces interiores das cabeças de dois carris ou trilhos em uma via férrea] utilizada nessas antigas ferrovias é de 1 metro. Já a Norte-Sul vem com a bitola de 1,60 m, ou seja, a velocidade dos trens é de 70 a 80 km/h. Hoje as nossas ferrovias são operadas pela América Latina Logística com a velocidade de 20 km/h. Se a Ferrovia Norte-Sul não passar por aqui, vamos ter um grande prejuízo”, afirma.

Movimento político

Os estudos técnicos de dados e topografia para o novo modal tiveram início há quase uma década, mas ganharam força quando houve a crise internacional. O Brasil conseguiu suportar os obstáculos econômicos, financeiros, ideológicos e políticos graças à pujança do mercado interno. A partir daí, o Governo Federal decidiu priorizar ações de logística que ligam o mercado produtor ao consumidor dentro do Brasil. Em outras palavras, é o brasileiro comprando e vendendo para o próprio brasileiro.

Ao lado de outras lideranças políticas, o prefeito Alexandre Kireeff (PSD) participou do movimento que elaborou estratégias em defesa do traçado da Ferrovia Norte-Sul pelo Norte do Paraná. O chefe do Executivo reconhece que faltou articulação antecipada das forças políticas, econômicas e das representações de classe de todo o Norte do Estado, mas que o momento agora é de união e reivindicação. Para Kireeff, o traçado original vai garantir o desenvolvimento econômico, a produção de empregos, renda e qualidade de vida para a região.

"Num curto prazo o impacto não é tão importante, mas a médio e longo prazo nós vamos ser excluídos de uma solução logística que integra o Brasil de Norte a Sul. Não podemos imaginar que apenas a exportação seja um viés da atividade econômica predominante na nossa região. Precisamos pensar também em um mercado interno, na industrialização e fornecimento de produtos industrializados para todo o Brasil. Desviar daqui é nos tirar o direito de disputar o mercado interno a médio e longo prazo".

Marcha da Ferrovia

O vice-prefeito de Maringá, Claudio Ferdinandi, lembrou da Marcha da Produção, em 1958, ao defender a passagem da Ferrovia Norte-Sul pela região Norte do Paraná. “Esta é uma reivindicação histórica e a solução está em Brasília. Já estamos unindo todas as nossas forças políticas. Agora temos que repetir a Marcha da Produção do Café, que deu certo em 1958”.

A Marcha da Produção se desencadeou após tentativas frustradas dos lavradores em pleitear novos preços para o café. Caravanas compostas por agricultores do Paraná (especialmente Londrina e Maringá), São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro foram até a capital federal protestar junto ao Palácio do Catete. O movimento reuniu cerca de 40 mil pessoas.

Luta de classes

O presidente da Terra Roxa Investimentos e do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá, José Carlos Valêncio, ressalta que há vários anos as lideranças do Norte do Paraná reivindicam que a logística de transporte modal ferroviário seja modernizada. Segundo ele, caso isso não ocorra, a região pode perder competitividade no mercado interno. “O transporte ferroviário que temos hoje é o da época dos ingleses quando traçaram o trecho Ivaiporã-Paiçandu, passando por Maringá e Londrina. É um modal muito antigo e isso prejudica a escoação da safra. Fomos surpreendidos com essa mudança, e por isso precisamos que seja retornado o trajeto inicial dessa ferrovia.”

Para o presidente da ACIL, Flávio Montenegro Balan, o traçado atual da Ferrovia Norte-Sul foi definido através de um movimento político articulado nos bastidores de Brasília, e por isso lideranças do Norte do Paraná não vão deixar de lutar pelo traçado elaborado inicialmente. "Não podemos ficar assim porque para se levar a carga via ferroviária até o Porto de Paranaguá hoje nós pagamos quase o mesmo preço do modal rodoviário, enquanto que em outras localidades fora do Brasil é um terço. Estamos lutando pelo nosso traçado. Que se mantenha o que já foi conquistado e está sacramentado, e que circule esse no pacote, que é de suma importância por se tratar de uma região superprodutora e que não tem a duplicação das suas rodovias", afirmou.

Estado pode intermediar

Em dezembro de 2013, o presidente da Ferroeste, João Vicente Bresolin Araújo, esteve em Londrina para ouvir o pleito da região e, posteriormente, subsidiar o melhor traçado ao Governo Federal. Segundo ele, a Secretaria Estadual de Infraestrutura e Logística tem priorizado o seu trabalho na extensão da Ferroeste, ferrovia que já está contemplada no primeiro programa do Plano Nacional de Logística (PIL). Esta etapa prevê a extensão da Ferroeste de Guarapuava até Paranaguá, e de Cascavel até Maracaju (MS). O segundo momento é para saber como a Ferrovia Norte-Sul vai chegar ao Paraná.

“Pretendemos pegar todos os estudos realizados pelas regiões, elaborar um estudo de viabilidade para verificar por onde é mais viável esse traçado passar, por onde tem mais carga indo e voltando, e por onde será mais fácil fazer ferrovia, ficando menos oneroso para o Estado. Nenhuma escolha foi tomada ainda. O Governo Estadual não tem nenhuma preferência. A decisão final é do Governo Federal”, disse Araújo.

O presidente da Ferroeste acredita que a segunda parte do PIL deve ser lançada em 2014. “É imprescindível que o Paraná receba mais investimentos ferroviários. As ferrovias existentes não conseguem atender todas as demandas. Queremos ouvir o que a região demanda e ajudar no melhor pleito”.

A expectativa é que os estudos para priorizar o traçado pelo Norte do Paraná aconteçam já em 2014, período para também iniciar a realização de audiências públicas e licitação, e concluir todo o processo em 2015.

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FRASES SOBRE A NORTE-SUL

“O traçado original vai nos ligar a todo mercado consumidor brasileiro de uma forma ágil, rápida e eficiente”, Sebastião Ferreira Martins Junior, vice-prefeito de Apucarana

 

“É imprescindível que o Paraná receba mais investimentos ferroviários. As ferrovias existentes não conseguem atender todas as demandas”, João Vicente Bresolin Araújo, presidente da Ferroeste
 

"Que se mantenha o que já foi conquistado e está sacramentado, e que circule esse no pacote, que é de suma importância por se tratar de uma região superprodutora e que não tem a duplicação das suas rodovias", Flávio Montenegro Balan, presidente da ACIL

“O transporte ferroviário que temos hoje é o da época dos ingleses. É um modal muito antigo e isso prejudica a escoação da safra”, José Carlos Valêncio, presidente da Terra Roxa Investimentos

 

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