Fonte: JL
Projetado por Jaime Lerner, o ex-governador arquiteto, o calçadão de Londrina mora na memória do londrinense – tal qual o Lago Igapó, a Rodoviária de Londrina e o Estádio do Café – mas o fato é que a cidade parece sofrer de amnésia quanto ao espaços, um dos mais queridos do centro.
Nos últimos meses, quem vai ao calçadão pode confundi-lo com um imenso camelódromo a céu aberto, onde ambulantes se acotovelam em meio ao lixo em profusão nas esquinas e no chão. A limpeza e manutenção de bancos e lixeiras é escassa: o símbolo maior do abandono está no chafariz da primeira parte revitalizada – sem jorrar uma gota há pelo menos três anos.
Do poder público municipal que parece ter desistido de zelar pelo espaço, passando pelos ambulantes autorizados; dos vendedores ilegais às lojas de eletrodomésticos que jogam material promocional no chão e anunciam produtos com som altíssimo – a baderna coletiva é resultado da contribuição geral. Na última semana, havia redes amarradas nos postes e nos bancos, lanches, milho e melancia ao ar livre, cigarros contrabandeados, óculos e CDs piratas, churros, pimenta, cebolas.
“Mas o que eu gostava mesmo era ver os jornais que as bancas de revista deixavam pendurados. Reunia muita gente e todo mundo vinha ler. Sempre tinha um comentário sobre alguma coisa”, lembra o motorista Sérgio Rubens de Oliveira, 43, pelo calçadão entre um intervalo e outro do serviço.
Quando a quarta etapa da troca do piso for entregue, em menos de um mês, entre as avenidas São Paulo e Rio de Janeiro – custo de R$ 413.146,70 – a certeza é de o calçadão vai melhorar, mas ainda permanecerá longe de se tornar uma marca de relevo ou uma atração para a cidade.
Para o calçadão ser mais do que uma espera pelo poder público que não funciona – inspirado na Rua Riachuelo, de Curitiba, e em experiências ao redor do mundo, o JL traz cinco propostas e abre o debate para mudar o panorama desse pedaço de Londrina. Qual é a sua contribuição?
JL abre debate para mudar o panorama desse espaço central
Ideias não faltam para dar brilho ao calçadão. O consenso geral é de que tarefas básicas – limpar, fiscalizar e dar manutenção no mobiliário urbano – cabem ao poder público. Na falta dele, é preciso mais. Veja o que a união entre moradores, comerciantes e poder público poderia mudar:
1 – Sistema de governança próprio: hoje, o calçadão não tem uma gerência local para atender às peculiaridades do espaço. Os varredores só passam duas vezes por dia e nem fazem cócegas à sujeira geral. Um banco quebrado pode levar meses a ser consertado. Por isso, o calçadão merece uma associação, com orçamento mantido por iniciativas independentes do poder público. Mais de 100 empresas na cidade fazem serviços hidráulicos e o chafariz está quebrado há três anos. “Se for para colaborar, ponho a mão no bolso, mas ninguém nunca fez uma discussão assim”, afirma Murilo Ferreira Grilo, da família dona da Rogelle’s, uma das várias lojas de joias do pedaço. Bancos e redes nacionais de lojas que estão ali poderiam ser convocados ao esforço. “Acho que precisamos de um administrador, como um síndico”, completa Marina Cardoso, 76, há 20 anos moradora de um prédio do calçadão.
2 – Virar uma marca: o calçadão não tem slogan ou marca de peso. Nas lojas, inexistem camisetas, canecas ou qualquer lembrança que remeta ao espaço. Falta, também, um painel histórico. O projeto da Nova Rua Riachuelo, em Curitiba, criou um colorido logotipo e um mote: “A rua do Reciclar, do Reinventar e do Reencantar”.
3 – Calendário fixo de eventos: o calçadão tem uma feira de artesanato aos sábados e domingos e é palco do Filo e do Festival de Música. É preciso unificar as agendas isoladas e criar mais atrativos. Já pensou um dia de comércio aberto por 24 horas, por exemplo?
4 – Enterrar fiação: a baderna de fios dá a sensação de gambiarra até nas partes revitalizadas. Com a expectativa de a Sercomtel assumir a iluminação da cidade, eis um investimento necessário. Não custaria nem 10% dos R$ 50 milhões guardados em taxas de iluminação pagas pelos londrinenses. No Parque Nacional do Iguaçu, 42 km de fios de alta e baixa tensão, subterrâneos, custaram R$ 7,5 milhões. O Calçadão tem menos de 700 m.
5 – Programa de Tolerância Zero: comerciantes, moradores e quem passa devem ser chamados à responsabilidade com lixo, som alto e a ordenação geral do lugar. Com agentes próprios é possível estimular a colaboração pública para tornar o calçadão território livre da poluição e da venda ilegal de produtos.