Fonte: Folha de Londrina
Apenas 0,36% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil é investido em logística e infraestrutura. O número faz parte de um levantamento divulgado pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). De acordo com a entidade, na China o percentual de investimento do PIB nesse setor chega a 10%. As consequências desse baixo investimento, segundo pesquisadores da área, são estradas ruins, frete de alto custo e malha ferroviária insuficiente, o que influencia diretamente na redução da competitividade agrícola brasileira.
Somente na produção de soja, a competitividade chega a sofrer um deficit de 20% desde a saída da porteira até a comercialização da produção devido à precariedade logística do País. O escoamento de safra e a infraestrutura brasileira foram os temas escolhidos para a edição 2013 do 12° Congresso Brasileiro do Agronegócio, ocorrido ontem em São Paulo. Pesquisadores, empresários e dirigentes do agronegócio nacional debateram durante todo o dia possíveis soluções para melhorar o escoamento dos produtos agropecuários.
Segundo Bernardo Figueiredo, presidente da Empresa de Planejamento em Logística (EPL), estatal voltada para estudos e pesquisas em planejamento integrado de logística no País, os problemas de transportes enfrentados hoje pelo agronegócio brasileiro são semelhantes aos da década de 1970. "A estrutura brasileira está baseada ainda no modal rodoviário que não suporta a oferta", critica o analista. Figueiredo completa que seria necessário mais investimento no setor ferroviário.
Conforme ele, os 2,2 mil quilômetros de ferrovias existentes no Brasil são inexpressivos. "Ficamos 30 anos sem investir seriamente nesse setor", lamenta Figueiredo. Conforme dados divulgados pela Abag, 60% da safra brasileira é escoada por meio de caminhões, enquanto a participação das ferrovias não passa de 21%. Hidrovias e setor aéreo completam o quadro de distribuição de produtos agropecuários com, respectivamente, 14% e 5%.
O presidente da EPL lembra que o setor ferroviário só começou a receber grandes investimentos a partir de 2007 com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), criado pelo governo federal. "Mas os avanços ainda são pontuais", salienta Figueiredo. Ele aponta que, de agosto até novembro deste ano, nove leilões de concessão de ferrovias deverão ser realizados, o que já dá certa perspectiva de melhora. O total de investimentos é estimado em R$ 20,2 bilhões com prazo de 25 anos, passíveis de renovação.
Alexandre Schwartsman, sócio-diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econômica, observa que o investimento ideal para o Brasil em logística e infraestrutura seria de 4% do PIB nacional, mas se chegássemos a 2%, na opinião dele, já seria um grande avanço. Ele salienta que o Brasil necessita equilibrar os seus investimentos e saber a forma de aplicar.
Mais apoio
Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), explica que para resolver esse problema de logística e infraestrutura do País seria necessário mais disponibilidade de crédito. Mesmo com a morosidade do avanço do setor no Brasil, ele se mostra otimista com o desenvolvimento dessa área. "É a primeira vez que se fala em um plano de logística neste País", comemora Nakano.
Além da ampliação das estradas de ferro, a construção de unidades de armazenagem nas propriedades rurais também seria uma das saídas para aliviar o sistema de escoamento da produção. Alexandre Schwartsman endossa essa ideia e a tese de que é importante o produtor investir em armazenagem, mas ele salienta que o agricultor necessita de recursos e financiamentos facilitados.
O repórter viajou a São Paulo a convite da organização do evento.