Fonte: Janaína Ávila – Revista Mercado em Foco/ACIL
Os conceitos do empreendedorismo passam a fazer parte do cotidiano escolar dos alunos da Rede Municipal de Ensino de Londrina com a Lei Ordinária 13.321/2021, sancionada no final de dezembro do ano passado e já em vigor. De autoria dos vereadores Eduardo Tominaga e Giovani Mattos, a lei garante o ensino do desenvolvimento de habilidades, preparação para o mercado de trabalho, construção de competência profissional, educação financeira, livre iniciativa, sustentabilidade, ética e cooperação; capacidade de gestão, inovação e cultura organizacional. Temas muito comuns nas salas de reunião e treinamento das empresas, meetings e congressos e que, agora, ganham as salas de aula de um jeito diferente e respeitoso à infância e currículo escolares.
Não se trata de substituir matérias e conteúdos ou, nem mesmo, de uma disciplina com professor dedicado, mas da integração de conceitos do empreendedorismo e uma resposta às provocações das propostas de mudança da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB).
De acordo com o vereador Eduardo Tominaga, a lei municipal permite que os conceitos de empreendedorismo sejam trabalhados para complementar as matérias curriculares dos alunos. “O que esperamos, ao longo dos anos, é que os alunos desenvolvam habilidades como livre iniciativa, cooperação, capacidade de gestão, inovação, ética e sustentabilidade, entre outras. Isso certamente terá um impacto superpositivo na sociedade, pois teremos cidadãos mais bem preparados para enfrentar os desafios pessoais e profissionais”, afirma.
A cultura empreendedora já faz parte da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e, na cidade, isso não é diferente, com projetos em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, como o Programa VIDA, desenvolvido desde 2019, e por intermédio dos Jovens Empreendedores Primeiros Passos (JEPP), em parceria com o Sebrae, executado desde 2016 com alunos do Ensino Fundamental. É uma parceria que agora se renova e evolui com a proposta de criação de um material especial e exclusivo para os alunos da Rede Municipal de Ensino.
Material
De acordo com Adriana Biason, gerente do Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação, o Sebrae e uma equipe de pedagogos estão trabalhando juntos na criação de cadernos de atividades para professores e alunos, dentro de um diálogo mais condizente com a realidade da Rede, do conteúdo e do currículo de cada ano. “Nossa proposta é um ajuste. O comportamento empreendedor que o Sebrae traz como discussão e frente de atuação casado com as nossas necessidades acadêmicas”, explica.
Este deve ser o primeiro ano da nova modalidade de cooperação entre o Sebrae e a Secretaria Municipal de Educação com um projeto piloto programado para acontecer no terceiro trimestre, em meados de setembro.
“Uma proposta construída para o olhar da criança e para a cultura escolar da nossa Rede Municipal. É a primeira vez que isso acontece e estamos ansiosos pelos Cadernos Londrina Mais: Gente que Empreende, com propostas pedagógicas de trabalho com as crianças, com as noções de empreendedorismo complementando ação pedagógica. Hoje, as ações que a secretaria estabelece como prioridade são aquelas que fazem parte do cotidiano escolar. Junto com o Sebrae, entendemos que ser empreendedor é pensar como alguém que olha de forma sistêmica para a vida, e que isso não é uma busca por sucesso individual, sempre vamos trabalhar com as crianças a ideia do sucesso coletivo, da colaboração entre os pares. Nossa equipe pedagógica reelabora o material, em parceria com Sebrae, para que ele atenda o currículo e preserve o pensamento crítico. É um trabalho articulado com o currículo, com uma aproximação acadêmica e filosófica. Estamos atentos às ações vinculadas ao desenvolvimento do aluno na sociedade, com uma preocupação com sustentabilidade, trabalho colaborativo, onde todos tenham um lugar”, afirma Adriana Biason.
O material didático que vai conduzir alunos e professores da Rede Municipal de Ensino na estrada do empreendedorismo está sendo construído a partir dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um plano de ação global para eliminar a pobreza extrema e a fome, oferecer educação de qualidade ao longo da vida para todos, proteger o planeta e promover sociedades pacíficas e inclusivas até 2030.
“A Lei de Diretrizes e Bases da Educação já diz que a educação tem que ter vínculo com a vida e o mundo do trabalho. É muito importante que o que a escola venha a ensinar esteja vinculado à vida do sujeito para ele possa exercer sua cidadania de fato. O ensino dos conceitos do empreendedorismo tem sido uma nova forma de olhar para a nossa prática e uma boa reflexão para nós, aproximando-se do que acreditamos como educadores”, comenta.
Em outubro, no evento da Secretaria, o Londrina Mais, os primeiros resultados dessa nova fase de ensino dos conceitos do empreendedorismo devem ser apresentados com alunos do quinto ano (com idade entre 10 e 11 anos), participando de uma feira com um produto especial e pensado de forma sustentável. “A Rede pediu que o ensino do empreendedorismo não fosse algo desvinculado do cotidiano escolar e o Sebrae foi gentil em aceitar a proposta e o desafio”, ressalta a gerente.
Parceria
Para Alesandra de Almeida, consultora de negócios e gestora da linha estratégica de Educação Empreendedora na Regional Norte, do Sebrae/PR, a parceria com a Secretaria Municipal de Educação tem se mostrado muito saudável ao longo de todos esses anos, com resultados que ultrapassam os muros da escola, impactando a vida também dos familiares.
“A nossa metodologia prevê o desenvolvimento de comportamento e habilidade empreendedoras. Nossa proposta é desenvolver nessas crianças atitudes que vão impactar o dia a dia na vida adulta, para que elas tenham condições de fazer as próprias escolhas e ser protagonistas das suas próprias histórias. Acreditamos que esses conteúdos de empreendedorismo geram reflexões, ajudam a desenvolver competências e habilidades como indivíduos no futuro”, comenta.
Toda a metodologia é adaptada à faixa etária, sem a apresentação de termos técnicos. O fundamental, acrescenta a gestora, é que a criança aprenda a importância da criação de uma rede de contato saudável, saiba se comunicar, fazer trabalho em equipe, conseguir definir metas e objetivos no dia a dia, pensando no todo.
“Não é para que as crianças, necessariamente, tenham empresas no futuro. Queremos que elas tenham o espírito do empreendedorismo e do protagonismo. A lei municipal foi um ganho importante para a comunidade em geral. A principal proposta é que vamos conseguir manter o trabalho independente da gestão da Secretaria Municipal de Educação, uma garantia de acesso aos conteúdos. A educação empreendedora está plantando sementes, cultivando jovens, adolescentes, preparando o futuro da sociedade”, comenta. As atividades do JEPP foram, de certa forma, interrompidas pela pandemia e na retomada, os conteúdos estão sendo customizados para atender ao gap de aprendizagem.
Para o empresário Marcus Gimenes, do Núcleo de Desenvolvimento Empresarial (NDE) de Londrina, o ensino de empreendedorismo nas escolas é muito importante para formação dos jovens e não só no ambiente empresarial, mas também para a atuação no poder público, com uma bagagem de conhecimento para melhorar o próprio desempenho e vontade de fazer a diferença. “Os conceitos de empreendedorismo treinam os jovens a pensar formas diferentes de executar suas tarefas, a se arriscarem em novos processos, sabendo que errar faz parte da aprendizagem”, comenta.
Alcance
O NDE pretende levar a experiência londrinense, por intermédio do Sebrae, para o resto do Estado do Paraná. “Todas as entidades que compõem o NDE têm papel fundamental na disseminação do Empreendedorismo com o apoio do Sebrae e demais entidades ligadas do Sistema S, Universidades e outras intuições”, diz. “À medida que os conceitos vão sendo trabalhados, vamos descobrindo mais potencial nas pessoas com perfil empreendedor. Isso é muito desejável para uma economia dinâmica”, esclarece.
Para o superintendente da ACIL, Rodrigo Geara, o empreendedorismo é uma das grandes e mais importantes características associadas ao ser humano. “Um cidadão empreendedor é visionário, não tem preguiça, não tem medo e possui uma grande vontade de fazer acontecer. Quando essas características chegam na base, na escola, para as crianças, estamos dando uma possibilidade para que esses jovens tenham uma visão maior de mundo, de negócios, do empreendedorismo e da inovação”, diz.
Geara reforça que a iniciativa não diz respeito apenas para “ser dono do negócio”, mas traz ensinamentos que podem e devem ser aplicados em qualquer campo de atuação: “O empreendedor pode ser aquele que trabalha numa empresa, entidade, ONG; que faz trabalho voluntário, atua no campo político. Possui características que, quando aplicadas em qualquer campo, garantem melhores resultados, uma visão inovadora sempre buscando melhorias. Nas escolas, trabalhamos a base, garantindo um futuro melhor para as pessoas, para nossa cidade e para o país”, considera.
Todo e qualquer contexto relacionado ao desenvolvimento, continua Geara, é de interesse da ACIL: “apoiar o empreendedorismo em todos os campos e instâncias, seja nas grandes empresas ou junto aos jovens cidadãos, faz parte da nossa missão, está no nosso propósito. Onde houver espaço para fomentar, estimular o desenvolvimento, seja no campo público, legal ou institucional, através de parcerias e ações que venham proporcionar ou potencializar o empreendedorismo, lá estaremos”, conclui.