Memórias do Cadeião de Londrina

Fonte: Jornal de Londrina Os corredores de baixo guardam memórias das quais poucos querem se lembrar. Lembranças que logo serão transformadas. Os corredores de cima, também. Trazem desabafos, fichas criminais, […]

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Fonte: Jornal de Londrina

Os corredores de baixo guardam memórias das quais poucos querem se lembrar. Lembranças que logo serão transformadas. Os corredores de cima, também. Trazem desabafos, fichas criminais, juras de amor. Um ar denso por entre celas que outrora abrigaram ladrões e assassinos. Deus, Jesus Cristo. Fé, paz. Liberdade. Inscrições simples que revelam sentimentos profundos. Desenhos perigosos. Caveiras, armas, tanques de guerra e símbolos nazistas dividem espaço com corações, flores e casas. Convivem com recortes de jornais, notícias e fotos de mulheres, coladas nas paredes. Sonhos eternizados nas celas do antigo cadeião de Londrina.

O espaço, construído em 1953 e única cadeia pública da cidade até 1994, vai ser revitalizado e virar o Centro Cultural do Sesc. Devolvido pelo governo do estado à prefeitura no ano passado, e cedido em regime de comodato ao Sistema Fecomércio/Sesc/Senac, o Cadeião terá apenas duas celas preservadas. “A exigência da Secretaria Municipal de Cultura é que sejam preservadas uma ou duas celas, para que a história fique registrada”, explica Cilas Fonseca Vianna, gerente executivo do Sesc.

Salas de música, teatro, artesanato, pintura e exposições serão construídas no lugar onde antes havia presos. O auditório, por exemplo, terá espaço para aproximadamente 100 pessoas. O edital, com valor máximo de R$ 3,8 milhões, espera conhecer a empresa vencedora. Sete empresas apresentaram propostas e entregaram os envelopes, que estão sendo analisados.

Banho
Talvez quando estivesse esperando para tomar banho, em abril de 1990, Lázaro registrou o amor que tinha por Marleuza. Fez como Pexero, que declarou o sentimento por Géssica em paredes nos dois andares, o que indica provavelmente a passagem dele por mais de uma cela. “Pra que tanta liberdade?”, questiona, ironicamente, uma das inscrições. Ninguém sabe – e nem saberá – o autor delas. Pode ter sido Nelson, Raul ou Maninho. Ou até mesmo Pexero.

Saudades, doídas na solidão da alma de alguns detentos, foram registradas nas paredes. “Quando semtir uma leve brisa acareciar seus lábios, não se assuste, são minhas saudades (sic).” Decepções, também. “Triste vida a quen tem uma mullher da vida (sic).” A inscrição avisa, é todo mundo perigoso. “Danger.” São capazes de muita coisa. “Estou aqui nem sei porque. Mais sei que em algum lugar, há alguém que sabe porque estou aqui. E não sabe que só penso em estar com você.” Os donos das histórias se foram. Ou não. Dizem que pela noite ouvem-se barulhos de correntes.

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