Fonte: Muriel Amaral / Revista Mercado em Foco
Antes de começar a matéria, é importante deixar claro que a reportagem não resistiu em degustar uma fatia de um dos bolos feitos pela dona Vilma. “Você aceita um pedaço de bolo com café? Fiz agora pouco”, oferece a simpática senhora. Como recusar uma fatia daquele bolo que praticamente se tornou um mito em Londrina? Seria quase uma ofensa. Depois de degustar uma farta fatia, deu para entender porque o bolo da dona Vilma se consagrou no paladar do londrinense. Aliás, não só dos londrinenses, mas de muita gente. Ela atende pedidos de clientes das cidades da região; em Curitiba e São Paulo alguns também puderam saborear as delícias que as mãos dela conseguem fazer.
Para atender a todos os pedidos, nos dias de hoje, ela conta com uma equipe de sete pessoas entre confeiteiros e ajudantes. Para se ter ideia da dimensão da produção de Vilma, são comercializados mais de 300 quilos de bolo na semana. Para dar conta do recado, ela adaptou o quintal da casa para ser o ambiente de trabalho. Na liderança dos pedidos está o de abacaxi, creme e ameixa, seguido pelo de nozes e de brigadeiro. “Alguns clientes encomendam para comer no dia a dia, nem precisa ser alguma data especial”, afirma. Além dos tradicionais bolos de casamento e aniversário de 15 anos, ela também já atendeu pedidos diferentes como bolo para aniversário de cachorro e também bolo para a criança destruir. Isso mesmo, destruir para registrar a farra dos pequenos em álbuns de fotografia.
A iniciativa de fazer bolo começou quase que por acaso. “Primeiramente, fazia bolos para amigos e parentes, sem cobrar nada. Depois, os pedidos foram aumentando e tive que me profissionalizar”, recorda a boleira que está desde 1972 em plena atividade. Foi em 1975 que ela fez o primeiro bolo de casamento e, assim, pôde acompanhar o crescimento do seu empreendimento, com a ajuda do marido, Ildo Cordeiro, que deixou o emprego no ramo farmacêutico para poder acompanhá-la na nova empreitada. “Foram mais de 20 anos de companhia e de trabalho”, relembra. Ildo faleceu há quase dez anos, mas as manobras com a massa não pararam.
Mesmo mantendo as ferramentas tradicionais para atendimento dos clientes, ela precisou se modernizar e acompanhar os novos comportamentos de consumo e interação. “Temos uma página no Facebook e muitos dos pedidos são feitos por lá”, explica Vilma. Com a ajuda do filho, ela mantém o perfil da rede social, onde o visitante pode encontrar algumas receitas de outros doces, dicas para cozinhar e as novidades que ela oferece aos clientes. Resultado desse investimento: aumento das vendas. “Eu gostei do resultado”, aponta.
A fidelização dos clientes mantém o modo tradicional, tanto que alguns deles se tornaram amigos dela. A divulgação começou pelo boca a boca, sem grandes investimentos em propaganda ou publicidade, mas, agora, ela viu na necessidade de aperfeiçoar o contato com os clientes. “É muito legal que em alguns casos eu faço o bolo de aniversário, de casamento e do aniversário dos filhos”, recorda.
O uso de tecnologias não se restringe apenas às estratégias para relacionamento de clientes, mas invade a cozinha. Recentemente ela adotou um sistema diferente para transporte e manutenção dos bolos. No método chamado cake in box, o bolo é congelado e fechado a vácuo em embalagens especiais o que preserva por mais tempo o sabor e a textura. “É muito prático”, garante. O único empecilho é que a embalagem comporta um pouco mais de um quilo de bolo.
Recordando…
Há tanto tempo na ativa, o que não faltam são histórias para contar. Ela se lembra do grande destaque na carreira como boleira quando pôde servir o presidente da República, João Batista Figueiredo, em visita a Londrina, em 1980. “O pedido era um bolo diferente. Então, fiz com a massa branca, merengue, sorvete e chantilly que foi servido na casca de mamão papaia. Foi feita uma degustação um dia antes de servir e a sobremesa foi aprovada”, recorda. Um mérito que ela guarda com muito orgulho.
Antes de se profissionalizar, a carga de trabalho era árdua. “Houve dias que precisei varar madrugadas para dar conta dos pedidos”, lembra. Hoje, isso não acontece mais, devido à organização melhor do tempo, do espaço e também do planejamento. “Assim, pude aproveitar mais as horas de trabalho”, acrescenta.
Quando a massa desanda..
Mesmo com muita destreza na cozinha na produção dos bolos, nem tudo foram flores na carreira de Vilma. Grandes catástrofes na cozinha não aconteceram, mas ela já passou por situações embaraçosas quando teve que entregar alguns dos pedidos. Um bolo de três andares e com o design bem diferente do convencional seria servido em uma festa de casamento. “Fui levar de carro, o carro era uma Brasília e na subida da rua Brigadeiro Faria Lima, o bolo se moveu”. Resultado: alguns momentos de pânico e muita agilidade para reverter o desastre. “Cheguei no local e consegui fazer uma produção no bolo para que ele pudesse estar prefeito na hora da festa”. Dito e feito, lá estava o bolo impávido com seus três andares.
A receita do sucesso
O segredo para estar há mais de 30 anos em pleno vapor não fica às escondidas. Nada de receitas mirabolantes ou de grandes investimentos. “Os produtos são de primeira qualidade: frutas frescas e de boa procedência, assim como tudo que uso na cozinha. A outra coisa é amor. Faço tudo com muito amor”, sintetiza. Bem simples, não é?



