Fonte: Jornal de Londrina
Onze anos após os londrinenses impedirem em plebiscito a venda da Sercomtel Celular, a empresa de telefonia móvel vai desaparecer – não pelas mãos da iniciativa privada – mas de outra forma: até o dia 31 de outubro, estará extinta e incorporada à Sercomtel fixa, formando uma só. Ambas, no entanto, somam prejuízos: o acumulado do ano até julho foi de R$ 10,5 milhões para a fixa e R$ 4,6 milhões nas operações com celular.
No alvo da incorporação, autorizada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), metas para redução de custos, menos pagamentos de impostos – principalmente PIS e Cofins – e a perspectiva de que o consumidor obtenha vantagens ao obter produtos da telefônica municipal.
A Anatel exige que os valores economizados com a união das duas empresas seja investido integralmente para reduzir os valores de pacotes de assinatura básica aos consumidores (hoje de R$ 42 – residencial – e R$ 70 para o comercial). Os cálculos ainda não foram finalizados, mas a expectativa é de valores entre 3% e 5% menores para os serviços básicos. Taxas de roaming – pagas quando o consumidor sai da área de cobertura celular em Londrina – também podem cair, mas futuramente.
O prazo para a redução aparecer nas contas telefônicas em Londrina e Tamarana é de 120 dias. Taxas como as do Fundo de Universalização dos Serviços Telefônicos (Fust) e do Funtel entram na conta da economia, pois passam a ser pagas para a Anatel por apenas uma empresa.
Simultaneamente à incorporação, a Sercomtel propõe tratamento especial, por parte da Anatel, para pequenas operadoras do setor – incluídas a CTBC, de Ribeirão Preto, e a Nextel – hoje praticamente “engolidas” pelas gigantes.
A unificação das duas empresas de Londrina torna-se a primeira autorizada pela Anatel, que também avalia a incorporação da operadora Vivo pela espanhola Telefônica.
O aval da Anatel para a unificação entre ambas não veta demissões – mas a Sercomtel argumenta ser desnecessário reduzir equipes. Hoje, as duas operadoras têm 600 funcionários e 117 entraram no Programa de Desligamento Voluntário (PDV), iniciado antes da incorporação. Apenas a Sercomtel Celular tem 60 funcionários – e ficará com 48 quando a unificação estiver completa.
A partir de agora, os acionistas da empresa londrinense (Prefeitura com 55% e Copel com 45%) passam a discutir toneladas de informações para completar a operação. “Londrina é a 6ª cidade em oferta de telecomunicações no Brasil. A engenharia societária vai permitir menos custos, melhores serviços e preços. Sem contar a operação administrativa, que ficará certamente mais ágil”, diz Marcus Vinícius Brunetti, gerente de regulamentação e interconexão da Sercomtel, responsável pela condução formal da incorporação das operações de telefonia fixas com a celular.
Um dos “pesos” administrativos para as duas telefônicas, por exemplo, é que, pelo fato de serem empresas públicas, qualquer compra deve passar por processos de licitação – que serão unificados. “Futuramente, esses custos, se efetivamente reduzidos, também podem chegar ao consumidor”, aposta o gerente da telefônica municipal. “Queremos que o público londrinense volte a ser saudavelmente bairrista e volte a usar a Sercomtel.”
“Decisão de não vender foi emocional”, diz analista
O administrador Ricardo Prochet, professor da FGV e pós-graduado em Administração, Finanças e Controladoria, vê a incorporação como o resultado prático da negativa de vender a Sercomtel Celular em 2001, quando Londrina decidiu o caso em um plebiscito. Na época, Prochet foi um dos líderes da campanha pelo “sim” à venda. Hoje, diante da incorporação inevitável, diz ter a certeza de ter tomado a posição mais correta.
Naquele ano, uma consultoria estimou o valor de venda da Sercomtel Celular em US$ 113 milhões (mais de R$ 200 milhões) – e a italiana TIM era uma das interessadas. “Nessa época a fixa e a celular davam lucro da ordem de R$ 3 milhões. Hoje, só há prejuízo acumulado. Se tivéssemos vendido, não haveria hoje a interpretação de que a incorporação é a melhor e talvez a única aposta possível para a empresa”, afirma. “Foi uma decisão emocional”, atesta ele. “Sob essa perspectiva, a incorporação não traz benefício real nenhum.”
Agora, Prochet afirma que a Sercomtel, pós-unificação, deve investir na oferta gratuita de celulares para combater as grandes da telefonia móvel: “Não adianta apenas investir em propaganda. Se quiserem conquistar mais consumidores, devem dar aparelhos para quem já é cliente da Sercomtel Fixa”, sugere. “Com certeza provocaria uma migração nunca vista para a Sercomtel Celular. O londrinense gosta da Sercomtel, mas precisa ver vantagem real ao adquirir algo dela”. Segundo o especialista, a redução de valores das assinaturas básica, em no máximo 5%, “é quase irrisória”. Para Prochet, a incorporação vai permitir apenas “esconder” a operação de resultados ineficientes da telefonia celular “no bolo da empresa”.