Diretora Comercial de Franquias na Portobello Shop, Simone Corrêa veio a Londrina para participar do painel Desafios da Liderança Feminina, ao lado de Glaucimar Peticov, Sabrina Hoffmann e Vera Antunes, dentro da programação do Lidere + Negócios, realizado em outubro.
Graduada em Arquitetura e Urbanismo, com MBA em Marketing, Gestão de Franquias e Digital Business, além de especialização em Finanças Corporativas, Simone Corrêa tem mais de 30 anos de experiência, atua nas áreas de vendas B2B, B2C e B2B2C, sendo responsável pela estratégia e gestão da rede de franqueados.
Após sua participação no Lidere + Negócios, Simone Corrêa concedeu a seguinte entrevista à jornalista Julia Simões, da ACIL, em parceria com a H3 Filmes. A série de entrevistas está disponível no canal da ACIL pelo YouTube.
É um prazer falar com você.
Simone Corrêa – Oi, Júlia, o prazer é meu de estar nesse evento maravilhoso e de ter participado desse painel com mulheres magníficas.
Aproveitando o tema desse painel, que discutiu ali os desafios da liderança, queria que você compartilhasse quais foram os principais desafios que você enfrentou nessa jornada como líder e como você superou ou tem superado caso ainda passe por alguns deles.
Simone Corrêa – Pegando o gancho de tudo que a gente falou ali sobre os desafios da liderança feminina, é bem curioso porque eu completei em 30 anos de Portobello neste ano e participei de uma jornada de carreira dentro de uma empresa conceituada, mas felizmente uma empresa que sempre teve um olhar muito aberto para a diversidade, para as mulheres. E, mesmo numa época em que isso não era o assunto da moda, um assunto com tamanha relevância como tem hoje. Então eu comecei a trabalhar na área comercial. A área comercial, há 30 anos atrás, não era um mundo feminino.
Era um mundo repleto de homens. E eu lembro que, na época, o meu maior desafio talvez tenha sido comigo mesma. Porque eu era workaholic ao extremo e eu nunca me sentia boa o suficiente pra me destacar naquele mundo. Assim, trabalhando mais do que devia, mais do que podia, assumi algumas gerências e me mudei de cidade, enfrentando outros desafios, outras gerências, outros canais de distribuição.
Mas o mais interessante é que o meu maior desafio foi comigo mesma, porque eu não me sentia boa o suficiente para estar naquele mundo. Eu achava que eu tinha que fazer mais. E, durante muito tempo, até eu meio que replicava o modelo masculino.
Ali pelos 42 anos, eu tive quase que uma epifania, uma epifania que acontece nas terapias, onde a terapeuta olhou pra mim e disse assim: “Não, mas você precisa ser mais feminina. Porque isso é que vai te trazer o diferencial. Sendo você mesma, usando a sua essência. Use essas características femininas na liderança e isso vai te trazer a diferença”.
Foi a hora em que eu comecei a me colocar em prioridade, a entender que, para ser uma boa líder, eu precisava estar bem comigo mesma. Isso foi muito interessante, isso mudou bastante o meu jeito de lidar com tudo. E é bem interessante porque, durante 30 anos, vivi todas as gerações. Eu fui a líder analógica e hoje tenho que ser uma líder digital.
Fui uma líder na época em que era tudo físico e hoje sou uma líder que faz uma live para dar um direcionamento para as lojas. A liderança nessas diversas etapas do mundo, a liderança analógica, a liderança no mundo digital, a liderança de hoje. São 112 franqueados que nós temos hoje, com tempo de loja diferente, com características diferentes porque as regionalidades são diferentes.
Tem que ouvir muito e se comunicar na linguagem que cada um consegue entender. Eu acho que esse é o segredo do grande líder, né? O direcionamento, a parte técnica de direcionar, implantar, de acompanhar o desenvolvimento. Isso, acho que todo líder sabe, mas essa questão do ouvir e ser transparente na comunicação, isso faz a diferença. Acredito muito nisso como diferencial.
Aproveitando que você acompanhou diferentes etapas, diferentes cenários nessa sua jornada profissional, queria que você comentasse, com base na sua experiência, nesse contato que você teve, como você avalia hoje em dia essa representação feminina no cenário de liderança no ambiente empresarial?
Simone Corrêa – Felizmente, estou numa empresa em que nós já ultrapassamos 50% de liderança feminina na Portobello. Então isso é muito gratificante. Mas, seja no mundo, seja no Brasil, essa não é a realidade da maioria do mundo corporativo. A maioria do mundo corporativo, sim, cresceu o número de mulheres, mas não nos cargos de liderança, menos ainda nos cargos de alta liderança. E, como eu falei, eu sou fã de trabalhar com a diversidade, porque isso é rico para a empresa, isso é rico para o resultado da empresa. Vejo que as empresas estão perdendo oportunidades para ter mais mulheres nas lideranças. Isso vai fazer a diferença. É uma liderança para ser só feminina? Não, também não seria legal, mas também não pode ser só masculina. Então, esse equilíbrio é fundamental.
As características naturais que a antropologia traz do homem e da mulher, trabalhando juntos, vai fazer a empresa crescer muito mais. Mas, quando a gente vê, a gente sabe que as mulheres nas empresas evoluíram em cargos de liderança muito em áreas como RH, como ONGs. Quando você vai para áreas como infraestrutura e tecnologia, esse número é bem menor. Então a gente tem algumas etapas para galgar. Equidade salarial também é outro tema que aparece.
Quando a gente vê o mesmo cargo com as mesmas competências, o salário do homem ainda é superior. Esse é um tema que precisa ser enfrentado. E, principalmente, a parte cultural. Você não pode chegar na empresa e dizer: “A partir de hoje é assim”. Você constrói essa parte cultural e não tenho dúvida que esse equilíbrio na liderança vai trazer mais lucro para a empresa. Já que a empresa vive de lucro, é importante a gente olhar sob a ótica de quanto aquilo vai trazer de resultado para a empresa.
Não é ter a mulher simplesmente porque agora isso está em pauta. É porque isso vai trazer resultado.
Como você acha que eventos como o Lidere podem agregar para as mulheres nesse sentido, tanto em questão de conhecimento, networking, qual é a sua visão?
Simone Corrêa – Com certeza, um evento desse valoriza, incentiva todas as empresas. É um evento de negócios, isso já é inspirador, o próprio evento é inspirador. Quando vocês trazem para esse evento pautas como esta, ouvindo histórias de grandes profissionais, histórias de pessoas que inspiram, histórias de aprendizados, você consegue pegar sob a ótica da mulher. Uma mulher assistindo um painel onde há mulheres falando das mesmas dores, das mesmas inseguranças, de como também tinham o sentimento de culpa lá atrás quando não iam na reunião do filho para trabalhar. Eu acho que isso, de alguma forma, inspira.
E isso é muito importante. Se a mulher conseguir estar mais em rodas de mulheres, ela consegue se reconhecer mais e reconhecer esses pontos de dúvida que todos nós temos, que todos somos vulneráveis. Mas a mulher carrega isso um pouco mais pela história. A mulher sempre foi muito assim pelo outro, pelo outro, pelo outro.
Para uma mulher se colocar em prioridade, é um exercício que às vezes ela até se autossabota ou se sente culpada. Ao ouvir pessoas inspiradoras de todos os sexos, nós estamos falando em mulheres inspiradoras, homens inspiradores, porque a inspiração transcende o sexo, né? Eu acho isso muito rico. Eu estou realmente muito impactada, positivamente.
Não cheguei a vir no ano passado, mas neste ano tem mais participantes, com palestras interessantíssimas. Eu cheguei cedo para assistir os palestrantes antes de mim, realmente é muito, muito rico. Vocês estão de parabéns.
Foto: Leticia Padilha/ACIL