Por
Michelle Aligleri
O
que o barulho da máquina de costura e a terra vermelha têm em
comum? Para o empresário Waldemar Maran tudo. Foi aqui na terra
vermelha do Norte do Paraná, onde chegou com a família aos seis
anos de idade, que começou seu encanto pelas máquinas de costura –
ramo em que atua até hoje. Mesmo tendo se passado 72 anos da
primeira vez que pisou o chão de Londrina, Maran lembra de detalhes
da cidade. Aliás, memória é uma característica que não lhe
falta. “Eu tinha seis anos, morava no patrimônio Selva com a minha
família e lembro que o prefeito da época passava por uma porteira
com o seu Fordinho. A minha alegria era ouvir o ronco do motor e
ganhar as balinhas que ele carregava”, comenta. Da mesma época
vêm as memórias da máquina de costura, que ficava nos fundos da
casa. “A minha mãe costurava para a família, éramos em onze
filhos e eu trocava as bobinas de linha e movimentava a manivela que
fazia a máquina funcionar”, detalha.
Desde
então Maran nunca mais deixou as máquinas de costura de lado, ele
cresceu junto com Londrina e aos 15 anos começou a trabalhar na
Companhia Singer. “Ficava na avenida São Paulo, 146, e o telefone
de lá era 199. Tínhamos que pedir uma ligação para a telefonista
às 16 horas para conseguir falar em São Paulo às 8 horas do dia
seguinte”, detalha. Na empresa ele começou nos serviços gerais e
passou a responsável pela manutenção. Como levava jeito com as
máquinas, foi escolhido entre os funcionários para fazer um curso
especial de manutenção em São Paulo. Foram oito anos trabalhando
na Singer, depois mais seis anos atuando na mesma área em Paranavaí,
e visitando Londrina a cada 15 dias por conta da família e da
namorada.
Casou-se
em 1959 e em 1965 Maran deu início ao próprio negócio, abriu uma
portinha na rua Goiás, próximo à avenida Duque de Caxias – onde
está sua loja atualmente – e começou a consertar máquinas de
costura. A portinha foi aumentando e ele se tornou representante de
uma marca de máquinas japonesas, passou então a revendedor e de lá
para cá o negócio só cresceu. Nesta época Maran teve forte
influência na instalação de indústrias têxteis na região de
Londrina e também em Cianorte – cidade do noroeste do estado
conhecida atualmente como a Capital do Vestuário. “Eu ensinei
muita gente a costurar e usar a máquina de costura industrial. De
forma indireta dei o impulso para algumas indústrias porque eu
vendia as máquinas do Japão”, lembra. Ele conta que chegou a
sugerir que o prefeito Wilson Moreira comprasse dez máquinas para
montar uma escola de corte e costura na cidade, mas a oferta não foi
aceita por conta dos custos que envolveriam a implantação.
A
loja atual “Valeron” tem 49 anos e comercializa máquinas de
costura industriais e domésticas, máquinas eletrônicas além de
utensílios para costura. Quando trocava as bobinas de linha para a
mãe, Maran não imaginava que aquele encanto de criança se tornaria
um dia uma profissão. Até hoje a relação do empresário com
máquinas antigas é diferenciada. “Quando alguém me traz uma
máquina para restaurar eu faço questão de fazer o serviço
pessoalmente. Durante as horas de trabalho eu volto ao passado, é
como uma terapia”, afirma.
Outros
tipos de máquinas antigas também ganharam o encanto do empresário.
Lembra-se do Fordinho do prefeito? Hoje Maran tem três deles, um de
1928, um de 1929 e o terceiro de 1931. Todos restaurados e
impecáveis. Os carros antigos se tornaram o hobby na vida do
empresário há 30 anos. Um Fusca 1970, um Dodge 1979, duas Mercedes
– uma 280 SL de 1979 e outra 300SL de 1986 e uma moto BMW 1951
fazem parte da coleção que é cuidada com carinho pelo empresário.
Os encontros do Clube do Carro Antigo fazem parte da rotina e quando
questionado se ele passeia com as relíquias a resposta é rápida.
“Só aos finais de semana, quando o trânsito é mais tranquilo”.
Apesar
de ter nascido no interior de São Paulo, Maran se considera de pé e
coração vermelho. “Investi toda a minha vida aqui nesta terra.
Quando eu vejo Londrina completando 80 anos eu me sinto muito
orgulhoso. Vi a cidade crescer, escorreguei muito na lama formada
pela terra vermelha depois das chuvas”, conta. Ele lembra que era
preciso colocar galochas para sair de casa e que eram as cercas de
balaustra que salvavam as pessoas durante a caminhada. “Se não
agarrasse na cerca a gente caía no barro”, detalha. Ao olhar para
a Londrina de hoje ele conta que se impressiona com o progresso. “O
crescimento foi muito rápido e o planejamento fez muita falta,
especialmente na questão do trânsito”, afirma.
A
busca da melhoria do trânsito é uma das atividades que Maran inclui
na sua rotina. Integrante do movimento Viva Duque, que tem neste um
dos principais pontos de ação, ele comenta que a situação atual
da avenida está prejudicando muitos empresários. Parte da avenida
que não é duplicada teve a instalação da faixa exclusiva para
ônibus e o estacionamento de veículos impedido. Atualmente as vagas
podem ser utilizadas em um determinado período do dia, mas ainda
assim houve queda no movimento das lojas. “Sofremos muito com esta
questão. Na minha opinião o certo seria fazer da Duque uma avenida,
alargar a rua, como foi feito na rua Goiás”, sugere. Conforme
ele, a iniciativa, além de melhorar o trânsito, valorizaria o
comércio. “A Duque é uma rua muito rica , vende-se de tudo por
aqui”, aponta. Ele afirma que se for feito um bom projeto de
estacionamento os comerciantes irão investir na melhoria das
calçadas e do salão. “A avenida hoje é feia, mas queremos que
ela seja bonita, um lugar agradável para as pessoas passearem. Para
isso precisamos de estacionamento na via”, complementa.
Maran
pensou muito quando foi questionado sobre qual presente ele daria
para Londrina. Depois de pedir ajuda da esposa e de refletir ele
afirmou que daria mais indústrias, para possibilitar a geração de
mais empregos. As indústrias que ele ajudou a fortalecer quando
vendia máquinas de costura na década 60, fazem falta na cidade
hoje, na visão do empresário. Empreendedor, Maran segue com suas
lembranças da velha Londrina tentando trazer melhorias para a cidade
que cresce a olhos vistos e que ele ajudou a se desenvolver.