Wilson Moreira e a sabedoria do caipira

Wilson Moreira, um exemplo de sabedoria e retidão moral

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Por José Pio Martins

Em meados dos anos oitenta, fui secretário do Planejamento
do município de Londrina, quando era prefeito o Dr. Wilson Moreira. O “velho”,
como era chamado, tornou-se uma figura lendária na região. Mineiro, formado em
Engenharia, empresário comercial, agricultor e pecuarista, era homem de moral
irretocável e de grande sabedoria, apesar de ele mesmo se dizer um caipira.

Muitas ideias que hoje leio em autores norte-americanos, eu
já tinha ouvido do Dr. Wilson. Lá em seu mundo de interior, longe dos holofotes
e da fama, com sua fala mansa e modos simples, ele dizia coisas que, se
tivessem sido publicadas, não ficariam nada a dever a certos gurus de
administração.

Lembro que, quando um secretário começava a falar sobre a
solução para algum problema, ele pegava uma folha, anotava quatro perguntas e
dizia: “volte a seu gabinete, estude essas quatro perguntas e só retorne aqui
quando tiver as respostas e suas justificativas”. As perguntas eram: a) Qual é
concretamente o problema? b) O que precisa ser feito? c) Qual é o plano de
ação? d) Quanto vai custar?

As perguntas acima faziam parte do método de planejamento do
“velho”, e elas dizem respeito ao foco da situação (qual é concretamente o
problema), às decisões (o que precisa ser feito), às soluções (qual o plano de
ação) e aos recursos (quanto vai custar). Muitos autores inventam frases
rebuscadas para dizerem a mesma coisa. O Dr. Wilson era um estudioso e vivia
ensinando a nós todos, seus secretários. Por onde andasse, ele tinha o hábito
de ensinar, e dizia que sua frustração era não ser professor.

Os que falavam demais, ele costumava censurar dizendo:
“Falatório comprido é bom para sessão de brainstorming. Mas, frente a um
problema específico, precisamos ter foco, ser objetivos e pragmáticos”. Quando
alguém queria dar uma opinião, ele perguntava: “Você conhece esse problema ou,
pelo menos, se dedicou a estudá-lo?”. Se a resposta fosse “não”, ele dispensava
o palpite.

Falando sobre gestão para estudantes do ensino médio,
abandonei os gurus estrangeiros de nomes pomposos e lhes contei a história do
Dr. Wilson: um menino pobre e franzino, que se tornou empresário bem-sucedido e
prefeito aplaudido. Falei das ideias e teorias dele, muitas das quais estão por
aí, ditas por gurus como se fossem novas e revolucionárias.

Os americanos são especialistas em usar expressões novas
para embalar ideias velhas e teorias antigas ditas por algum filósofo ou algum
escriba do passado. Respaldados por terem nascido nos Estados Unidos – nação
admirável quando se trata de ciência, tecnologia e sucesso empresarial –, eles
nos oferecem livros fantásticos, mas também nos enfiam obras requentadas e de
baixa qualidade.

Nós brasileiros muitas vezes agimos como colonizados
mentais, não conseguimos fazer distinção entre pérolas e lixo, tomamos como
novo e verdadeiro tudo o que vem do exterior e deixamos de valorizar coisas
boas que temos por aqui. Uma das razões é que o Brasil – nação fantástica, mas
recheada de pobreza e maus exemplos – dificulta a credibilidade dos nativos
daqui.

O Dr. Wilson faleceu em 2008, aos 84 anos, e deixou um
exemplo de sabedoria e de retidão moral. Para quem se autoproclamava um
caipira, ele era, na verdade, um homem notável. Pena que suas ideias não tenham
sido registradas em livro.

José Pio Martins,
economista, é reitor da Universidade Positivo. Artigo publicado em 17 de abril, na Folha de Londrina e Gazeta do
Povo
.

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