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Sociedade civil organizada, uma fábrica de entendimento

Por Francismar Lemes – Revista Mercado em Foco – ACIL

Qual é o papel social das cidades? Já previa Teemu Alexander Puutio, pesquisador e PhD da Universidade de Turku, na Finlândia, instituição que integra a lista das melhores do mundo, que a nova era de disrupção e convergência “verá cidades assumirem lideranças globais”. Mas, para ele, falta às localidades influência política para conquistarem esse domínio.

Polo regional com mais de 1 milhão de habitantes, Londrina tem lideranças de classes que compreenderam esse papel descrito por Puutio, estudioso do assunto há anos.

Em 2005, por iniciativa da Associação Comercial e Industrial de Londrina (ACIL), foi criado o Fórum Desenvolve Londrina, reunindo 37 entidades para a busca de respostas aos desafios do desenvolvimento da cidade, com participação de governos, empresas e universidades, ampliando a representatividade política da região.

“Há alguns anos participei da Conferência Internacional de Cidades Inovadoras, em Porto Alegre, em que um cientista social americano disse que as cidades são conduzidas pelas empresas locais, entidades e população. Onde é forte o engajamento da população, apoiada pelas entidades e empresas locais, a cidade deslancha e encontra níveis elevados de qualidade de vida, progresso econômico e social. Quando falta esse comprometimento, a cidade fica condenada ao fracasso, à pobreza e falta de perspectivas por parte de sua população. Segundo o cientista social, existe uma relação de causa e efeito”, cita Ary Sudan, apontando o vanguardismo londrinense. Sudan é vice-presidente executivo e coordenador regional de Londrina da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e vice-presidente do Sindicato das Indústrias, Metalúrgicas, Mecânicas e de Materiais Elétricos do Norte do Paraná (Sindimetal).

Durante o Fórum Econômico Mundial, Marisol Argueta Barillas, chefe de Estratégia Regional – América Latina e Membro do Comitê Executivo do World Economic LLC, abordou o artigo intitulado como “Os três principais problemas enfrentados pela América Latina” para afirmar que o mundo latino-americano se tornará competitivo quando “modernizar sua infraestrutura e logística, mas também a infraestrutura tecnológica e institucional, o que permite que empresas comprometam-se com a região e deem aos investidores a certeza do que exigem a longo prazo”.

Para liderar regionalmente o enfrentamento desse desafio, que terá à frente outros ainda maiores num cenário onde até 2050 sete em cada 10 pessoas no planeta viverão nas cidades grandes, Londrina tem reforçado a sua infraestrutura institucional com a união das entidades de classe para propor soluções que tornem a região mais competitiva, como observa Rodrigo Zacaria, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Norte do Paraná (Sinduscon/Norte-PR)

“As entidades têm um papel primordial na condução da cidade, na questão econômica. No plano político, elegemos prefeito e vereadores que tratam da coisa política, mas as entidades que atuam na área do desenvolvimento econômico exercem um papel essencial de conduzir o crescimento e o desenvolvimento da cidade e ajudar a pensá-la. Estamos juntos com outros municípios em um trabalho de governança para organizar esse assunto. Um grupo atua no desenvolvimento geral da região e podemos trabalhar também temas específicos. Na agropecuária, por exemplo, quem estaria à frente seria a Sociedade Rural do Paraná, com representantes da área, na indústria, a Fiep e alguns sindicatos como o Sinduscon, entre outros, e a ACIL, que engloba todos os atores. Sempre respeitando o conjunto e o conhecimento de cada setor”, exemplifica Zacaria.

Na mesa dessas discussões são dispostos assuntos que colocariam Londrina no mapa das cidades brasileiras mais eficientes, a partir da concretização de projetos cruciais para o desenvolvimento como o Contorno Norte, as duplicações da PR-445 e BR-369 e a instalação do ILS no Aeroporto José Richa.

Os reflexos da união

A presidente da Associação Médica de Londrina, Beatriz Emi Tamura, destaca que o crescimento político, social, econômico e cultural da cidade tem bases na participação da sociedade organizada.

“A força das entidades de classe é histórica para Londrina, cidade que nasceu e cresceu em virtude da organização de associações. A ACIL, como pioneira, deu suporte e apoio necessários para as demais, por exemplo a AML e outras tantas que vieram na sequência. O crescimento e o desenvolvimento social, político, econômico e cultural da cidade são reflexos dessa união. São reflexos do consenso dos diversos segmentos que, por meio do diálogo, análise e da eficácia em unir o conhecimento técnico de cada setor, que fundamentam as necessidades de seus moradores, mostrando caminhos, prioridades para a atuação conjunta e em prol da sociedade londrinense”, afirma Beatriz.

Nos últimos dois anos Claudio Tedeschi presidiu a ACIL, um grande entusiasta dessa conexão e convergência de ideia para o desenvolvimento regional, função que agora será do novo presidente, o empresário Fernando Maurício de Moraes.

“A união das entidades é de extrema importância. Não conseguimos fazer nada sozinhos. Com a credibilidade que cada entidade tem na cidade, juntos, nos tornamos mais fortes. Essa união, que existiu na gestão do Claudio Tedeschi, terá continuidade na nossa”, afirma Moraes.

Para o presidente do Clube de Engenharia e Arquitetura de Londrina (CEAL), Brazil Alvim Versoza, a unidade, além de fortalecer a infraestrutura institucional, expressa o pensamento da comunidade londrinense.

“Temos nessa reunião de entidades de classe, praticamente o pensamento da comunidade de Londrina. Todos os segmentos estão representados, como o comércio, indústria, saúde, construção civil, imobiliário. Em conjunto, conseguimos priorizar as ações para a cidade e interferir nas políticas públicas”, avalia.

O presidente da Sociedade Rural do Paraná (SRP), Antonio Sampaio, destaca que foram criadas em Londrina condições para que as empresas se comprometam com o desenvolvimento da região e isso oferecerá aos investidores o que eles esperam a longo prazo.

“Até então, as pessoas não estavam conectadas para tentar resolver os problemas de Londrina. Conseguimos desenvolver uma condição muito interessante para sugerir, contestar, propor, levantar problemas e encontrar soluções tecnicamente viáveis”, afirma Sampaio.

São condições de liderança da cidade para o desenvolvimento regional que dependem de novas gerações, que mantenham essa visão global.

Lucro’ para a cidade

“Tenho observado que muitas empresas locais, que sempre foram comprometidas com o desenvolvimento da cidade, à medida que seus empreendedores estão se afastando e passando o comando pra gestores profissionais ou descendentes, os novos gestores, simplesmente, interrompem a participação nas entidades e cortam essa relação com a cidade sob o argumento de redução de custos ou porque entendem que esse papel não é da empresa e sim dos governos nas diversas esferas. Esse é um comportamento que precisa ser mudado. Para isso, é preciso que a cultura dos empreendedores, fundadores das empresas, seja repassada para toda a organização. Se olharmos para cidades com grande progresso, frequentemente, vamos ver esses atores envolvidos com o seu desenvolvimento. Um grande exemplo são os Estados Unidos. Lá é possível encontrar empresas enormes com sedes no local onde nasceram, mesmo que essa localidade seja uma minúscula cidade. Esse comportamento não é porque é mais barato, mas é o reconhecimento do papel da empresa no desenvolvimento local”, conclui Ary Sudan, presidente da Fiep.


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